Cheguei algumas horas mais cedo na fila para o auditório onde aconteceu o painel de Dois Irmãos, nova minissérie da Globo baseada na obra do amazonenses Milton Hatoum. Nem precisava. Mesmo com a presença do galã Cauã Reymond, que encarna os dois irmãos, o auditório não ficou nada lotado. Aliás, me alegrou ver que os aplausos mais efusivos foram mesmo para o escritor, que teve ainda a companhia dos quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá, que adaptaram, com muito sucesso, o livro para uma Graphic Novel, e da roteirista Maria Camargo.
A roteirista, que faz parte de uma nova geração de criadores ganhando espaço na Rede Globo, contou que o livro foi um dos grandes marcos da sua vida. “Nunca tinha acontecido de ler um livro e ser transportada para um universo daquela forma. Fiquei louca, não dormi, voltei a fazer análise“, contou. Ela procurou imediatamento o autor com a ideia de adaptar o livro para série e eles se tornaram amigos, mas a ideia da adaptação ficou apenas no papel por longos 14 anos.
Quem também alimentava há tempos o sonho de ver a história ganhando vida nas telas era o ator Cauã Reymond, que contou que ganhou o livro da mãe quando ainda fazia ‘Malhação’ e que quis interpretar os gêmeos desde então, passando a aperrear os produtores quando soube que a adaptação seria feita. “Quando realmente aconteceu, eu percebi que tinha o papel da vida nas mãos“, declarou.
Outra face de Manaus
A história contada em Dois Irmãos se passa entre o final do século XIX e a ditadura militar na década de 1960, mostrando a evolução da cidade e da sociedade manauara, mas sem cair no clichê do exotismo da Amazônia, contando uma história mais urbana e mais sombria do que estamos acostumados a ver sobre a região. “Existe muita violência na Amazônia – violência contra os índios, violência urbana. Eu trouxe pra essa historia um pouco dessa cidade que é pouco conhecida“, disse Hatoum.
“Foi imprescindível ir pra Manaus. Manaus era uma personagem da história, então essa cidade precisava ser descoberta“, contou Gabriel Bá, sobre o processo da adaptação para quadrinhos.
Apesar de acontecer em Manaus, a trágica história dos gêmeos Yaqub e Omar é universal. “É uma história passional que envolve uma mãe apaixonada por um dos filhos, um pai que perde o amor da mãe para este filho e os conflitos a partir daí.” – declarou Hatoum. “Sou filho de psicólogos e, enquanto lia o livro, pensava: a Zana (mãe dos gêmeos) precisa de uma análise” – emendou Cauã.
Trailer Exclusivo
Durante o painel foi exibido um trailer da série, que nem a turma no palco tinha assistido ainda. O clipe trazia cenas da série e desenhos de Bá. Hatoum se mostrou emocionado com as imagens e com a trilha escolhida: “A Floresta do Amazonas”, de Heitor Villa-Lobos, com a voz de Bidu Sayão. Ele disse que nunca esperava que o livro tivesse tanto alcance quanto teve em 16 anos de publicação.
O autor terminou sua participação dizendo que tinha esperanças de que a série levasse jovens a se interessarem por ler o livro e também por outros autores nacionais, como aconteceu com ele aos 16 anos, descobrindo Graciliano Ramos na biblioteca do Colégio Estadual do Amazonas.
A série de 10 capítulos tem direção de Luis Fernando Carvalho (Renascer, Hoje é Dia de Maria e Velho Chico) e estreia no dia 9 de janeiro.
