O autor de O Chamado de Cthulhu e outros contos de horror conquista fãs há mais de 100 anos.

Tive minha fase de gostar de Terror/Horror. Tenho saudades do Cine Trash, com o Zé do Caixão, tenho O Exorcista e O Iluminado na estante (e vários outros filmes de terror piratas num case), alguns livros de vampiros, outros do Stephen King… mas perdi muito o interesse, à medida em que fui ficando mais medroso velho. Talvez por isso não tive tanto contato com a obra de H.P. Lovecraft.

O que foi uma pena. O universo criado pelo escritor americano Howard Phillips Lovecraf, em obras publicadas ali por volta de 1920, tem uma rica mitologia, monstros horrendos e elementos que são mais facilmente encontrados na ficção científica e na fantasia, que eu adoro. Por isso mesmo, revolucionou o gênero de Horror e seu trabalho inspirou (e ainda inspira) muitas obras na literatura, no cinema e nos games. Você com certeza já apreciou uma obra com influência de Lovecraft, mesmo sem saber.

Descobrindo Cthulhu e sua influência

Tenho alguns amigos que são realmente fãs de Lovecraft. E fãs nerds, o que é muito pior. Um deles é a Fernanda Brandão, aqui do blog, que no retrovisor do carro tem um Cthulhu de crochê pendurado.

  “Meu interesse por Lovecraft surgiu depois que comecei a jogar RPG de Call of Cthulhu” 

Uma coisa interessante do universo criado por Lovecraft é que, mesmo após a morte do autor, em 1937, ele não parou de crescer. Outras pessoas seguiram criando suas próprias obras, tomando emprestada a mitologia lovecraftiana. Caso da própria Fernanda: “Atualmente estou trabalhando numa fanfiction sobre ‘A Cidade sem Nome’. Provavelmente vou transformar numa aventura de RPG”. Já quero meu lugar nessa mesa. “Meu interesse por Lovecraft surgiu depois que comecei a jogar RPG de Call of Cthulhu. Sem dúvida o meu favorito”, ela conta. “Eu ouço todos os podcasts sobre ele, sigo as atualizações do lovecraft.com,  além de já ter conseguido juntar e ler vários contos. Outra coisa bizarra que gosto de fazer é pesquisar preços das cartas que ele escrevia no ebay. Ainda não tenho nenhuma, mas terei em breve, espero”.

Outra pessoa que escreve seus próprios contos inspirados nos mitos de Cthulhu e companhia (e que faz parte da nossa equipe) é o Antônio Vasconcellos II, professor universitário, músico, dentista estomatologista (até que tem a ver com horror né?) e autor da série de fantasia “As Crônicas de Acheron“, publicada em capítulos semanais aqui no Mapingua Nerd.

   “Lovercraft me cativa e imprime impiedosamente sua pena sobre a minha na hora de escrever”

“Claro que ele me influenciou! Das coisas que curto escrever, a ideia da coisa do ‘arcano’, do horror de dimensões cósmicas, da inabilidade de compreensão do homem científico sobre o extra corpóreo deídico, ancestrálico e sucúmbico. Na narrativa em primeira pessoa, onde ele brilha na sedução do leitor não familiarizado com sua obra. Na maneira como ele “cresce” enquanto apresenta as peças de seus contos para envolver insidiosamente o incauto leitor. Lovercraft me cativa e imprime impiedosamente sua pena sobre a minha na hora de escrever. É um beco sem saída. E o cavalheiro de Providence está sempre lá.” – declara.

Arte: Barret Chapman

Mas poucos caras conhecem a obra de Lovecraft tão a fundo quanto o Mestre de RPG Elvys Benayon. Já joguei aventuras de Call of Cthulhu narradas por ele (na última, terminei em outra dimensão, sendo morto por algum monstro cheio de tentáculos). Quando eu ainda nem sabia ler, o cara já estava lendo Lovecraft, como ele conta:

“Não recordo bem o ano, se foi em 1992 ou 1993, mas lembro de ter encontrado alguns tomos antigos e esquecidos na biblioteca da escola e lido contos da série Mestres do Terror e Fantasia, da editora Francisco Alves, onde H. P. Lovecraft era o tema. Li contos clássicos como O Chamado de Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura, Um Sussurro nas Trevas, O Caso de Charles Dexter Ward, entre outros. Foi paixão à primeira leitura. Gostei do enredo investigativo, a atmosfera tensa e cheia de suspense, os mitos e criaturas criadas por Lovecraft, bem como o destino nem sempre bem sucedido dos protagonistas que, mesmo escapando com vida, poderiam perder sua preciosa sanidade no processo.

    “Esses ‘Mitos de Cthulhu’, como são conhecidos hoje em dia, já inspiraram artistas como os escritores Alan Moore e Neil Gaiman ou os cineastas John Carpenter e Guillermo del Toro.”

Logo em seguida conheci o RPG Call of Cthulhu, lançado pela editora Chaosium (dizem, numa sexta-feira 13 chuvosa de 1981, ano em que eu nasci), e foi amor total. Gostei muito do cenário, como utilizavam os contos, personagens e Mitos de Lovecraft e o sistema de porcentagem, bem simples e que foi copiado por editoras nacionais que eu já tinha acesso, portanto, já estava familiarizado. Esses “Mitos de Cthulhu“, como são conhecidos hoje em dia, já inspiraram artistas como os escritores Alan Moore e Neil Gaiman e os cineastas John Carpenter e Guillermo del Toro. E muitas criações de Lovecraft se tornaram famosas como o Necronomicon, Reanimator e, claro, o próprio Cthulhu!”

Obra mais completa no Brasil foi feita por fãs

O cara é tão fã que tem o nome impresso na obra mais completa sobre Lovecraft publicada no Brasil, “O Mundo Fantástico de H. P. Lovecraft – Antologia – contos, poesias e ensaios”, uma coletância publicada pela editora independente Clock Tower e totalmente feita por fãs.

“Lá pelos anos 2000, acabei conhecendo o site lovecraft.com do Denilson Earhart Ricci, que era o site brasileiro mais completo sobre Lovecraft com traduções dos contos, cartas, biografia, curiosidades, o Círculo de escritores que continuaram a obra de Lovecraft mesmo após sua morte, aumentando o alcance dos Mitos, etc. Foi um verdadeiro achado! Lia tudo, fazia download, me comunicava com outros leitores, até que um deles, o Eli A. Soldi, criou um grupo no Yahoo chamado ‘Culto Lovecraftiano’ e começamos a trocar informações, ideias e notícias sobre a obra de Lovecraft.”

   “Por que não unirmos esforços para produzir a primeira e mais completa  obra feita por fãs sobre
H. P. Lovecraft
no Brasil?”

“Depois se iniciou um projeto de produção de contos no grupo com participação coletiva e mais pra frente o Denilson veio com uma idéia revolucionária: Por que não unirmos esforços para produzir a primeira e mais completa obra feita por fãs sobre H. P. Lovecraft no Brasil? É claro que todos se animaram e começamos a nos dividir entre tradutores, revisores, diagramadores, artistas gráficos, etc. Eu contribui com a revisão de alguns contos como O Chamado de Cthulhu e outros, e todos foram imortalizados na Eldritch Society presente no livro.”

“O projeto foi demorado, teve gente desistindo, querendo desistir, brigando, mas no final saiu, e tudo graças ao organizador do projeto Denilson que acabou tendo que fundar a editora Clock Tower pra publicar o livro e começar uma campanha de divulgação maciça em podcasts como Nerdcast, Terceira Terra e outros. Não preciso dizer que o lançamento do livro foi um verdadeiro sucesso.”

Claro que a paixão do cara não parou por aí. “Também participei do financiamento coletivo da versão em português do RPG The Call of Cthulhu realizado pela Terra Incógnita, também feita por fãs e para fãs. Vi muitos filmes sobre as obras de Lovecraft como Dagon, La Herancia Valdemar, Feitiço Mortal e outros. Com o passar do tempo fui perdendo alguns pontos de sanidade e acumulando algumas coisas referente a Lovecraft, como livros, RPG’s, boardgames e miniaturas”. Dá uma olhada em alguns itens da coleção do Elvys:


Clock Tower lança “O Mundo Sombrio”

Ficou interessado na obra de Lovecraft? Procure o livro “O Mundo Fantástico de H. P. Lovecraft”, que já está na terceira edição. E fica a dica: a Clock Tower acaba de lançar também “O Mundo Sombrio“, de Robert E. Howard, criador do Conan e amigo pessoal do Lovecraft. O livro é uma versão luxosa, com capa dura, mas são apenas 500 unidades, portanto, corra para garantir o seu! A pré-venda vai até 11 de dezembro, no site da editora.