Um bom tempo atrás, no tempo da câmera VHS e da edição linear com 2 videocassetes, eu gostava de fazer meus próprios filmes. O elenco era sempre o mesmo: eu, o meu irmão e meus primos. Isso quando eu não fazia stop motion usando meus Comandos em Ação. A tosqueira da coisa era o mais legal de tudo: letreiros feitos em papel ou filmados direto da tela do computador e, claro, som horroroso e música só se estivesse tocando durante a filmagem (e isso muito antes de eu saber o que era Dogma 95).
É por isso que, quando descobri O Poderoso Zap pelas webs, lá no surgimento do Youtube, em 2006, fiquei fascinado. Os caras haviam levado a tosqueira a um nível profissional. Basicamente, era um cara em um uniforme ridículo, salvando Manaus diversas vezes de ameaças como o DJ das Trevas, o Argentino Incendiário e, claro, o terrível Totonho, que tinha o poder de transformar os bichinhos em monstros incontroláveis. Lembro de visitar a comunidade do Poderoso Zap no Orkut em busca de links pra assistir os episódios.
O Poderoso Zap era o alter-ego de Policarpo Filadelfo, que recebeu poderes da mãe natureza para defender a região amazônica. Apesar do tema meio Capitão Planeta, as maiores inspirações eram, claramente, os Tokusatsus japoneses, como Jaspion e Jiban, com influências de Flash Gordon, tudo isso com uma pitada, ou melhor, uma carrada de humor. A série foi exibida pelo Amazon Sat em 2004, em 8 episódios produzidos pela Hyperfilmes.
“Uma caracteristica da Hyperfilmes é a direção coletiva, onde todos dão pitaco. As dublagens acontecem em tempo real e geralmente um filme muda bastante da concepção até a gravação. É um dinamismo muito característico nosso que sempre gerou uma descontração na equipe e se tornou marca nossa.”, conta um dos idealizadores do projeto, o cineasta Anderson Mendes.
A produtora foi responsável por várias outras coisas que fizeram sucesso por aqui, como os filmes “O Principe Kung Fu” (2002) e o “Goldman” (2003), dos quais falarei aqui em breve, além do hoax da Sereia de Manaus, que teve mais de 5 milhões de views. O Anderson realizou ainda os documentários do Rambo do São Jorge e do Picolé do Aranha.
“No inicio de 2004 a direção do Zappeando (programa da Rede Amazônica) convidou a Hyperfilmes para desenvolver um produto novo com temática regional, mas com uma pegada do Goldman, sem os palavrões e a sacanagem. Criamos o Poderoso Zap”, conta Anderson. “Na época ofereceram a estrutura técnica da TV para produzirmos, mas preferimos fazer tudo no modo Hyperfilmes, com equipamento e edição próprios”.
Parte da turma da Hyperfilmes durante as filmagens. (Foto: Arquivo do Anderson Mendes)
O Poderoso Zap chamava atenção pelo uso pioneiro de efeitos de computação gráfica por aqui. Era meio tosco, mas ainda assim impressionava, pois ninguém fazia nada do tipo, como lembra o Anderson: “Foi uma série que usou e abusou dos efeitos especiais. Explodimos o Teatro Amazonas, a cidade de Manaus. Os 3 últimos episódios foram um especial estilo Dragon Ball Z, que depois transformamos num único curta e inscrevemos no Festival Amazonas Filmes Curta Brasil 2004 e ganhamos como melhor curta do Amazonas naquele ano”.
#02 – O DJ das Trevas
#03 – A Revolta de Taninbuka
#04 – Pyro, o Argentino Incendiário
#05 – O Rapto do Gato Maracajá (Até arrepiei com o Shaman tocando ao fundo)
#06 – El Niño, o Deus Asteca – Parte I
#07 – El Niño, o Deus Asteca – Parte II
#08 – El Niño, o Deus Asteca – Parte Final
#09 (Especial) – O Cirandeiro das Trevas
#10 (Especial – Inacabado) – O Ataque do Peixe-Monstro