As Crônicas de Acheron é uma série de fantasia publicada toda quarta-feira no Mapingua Nerd.
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Vários dias se passaram desde que Atelith e Ranemann se distanciaram de seus lares em busca do último fragmento conhecido do Fôlego da Redenção. Atravessando o Deserto de Clahtemariaeh – onde conseguiram escapar dos escorpiões de areia servos do deus Clãh – desceram o planalto escaldante fronteiriço à estrada demolida chamada Malem (“abandonada”, em acheronian médio) que leva a seu objetivo: a Floresta Escura.
Outrora chamada de “Bosque Abençoado de Bel” e hoje recoberta por trevas impenetráveis, tal lugar cheio de perigos belicosos aos viajantes neófitos é a morada de demônios e criaturas amaldiçoadas desde o fim da Era dos Profetas do Caos, quando o deus dragão Draemoniach se refugiou ferido de morte com o restante de suas hostes nas cavernas que formam o complexo subterrâneo do lugar após a Grande Guerra dos Míticos Alados.
Assim, as forças do Caos em movimento se perpetuaram na floresta e de forma insidiosa o poder maligno de Draemoniach ainda moribundo ganhou força e dele aberrações começaram a surgir entre as criaturas que ali habitavam. Pois é dito que a ferida aberta em suas costas na terrível batalha fez jorrar por muitos dias seu sangue envenenado por ódio e maldade contaminando a terra que nutria a vegetação do lugar.
As plantas se tornaram amaldiçoadas e tomaram parte do ódio que Draemoniach sentia pelos Alados. De certo que os animais silvestres que se alimentavam delas também se contaminaram e os animais que se alimentavam de outros animais também, por fim todo o Bosque se perverteu, e um emaranhado de ervas daninhas recobriu as copas dos grandes carvalhos –anteriormente imponentes – impedindo a entrada da luz no lugar ao mesmo tempo que o sangue pútrido do deus dragão emanou uma escuridão inominável em forma de fumaça negra que passou a brotar do chão intermitentemente. Assim, povos que antes caçavam lá, temeram adentrar o bosque e o local recebeu o nome de Floresta Escura.
Atelith e Ranemann são sabedoras de todos os perigos que as espreitam na Floresta Escura. Porém maior que seus medos de sofrimento e morte, está o desejo de ver sua terra restaurada. Derrotar Draemoniach é tarefa impossível para duas acheronianas ordinárias mas sabem que apenas com o artefato dado pela Profetisa Claekuth – o Punhal forjado com as unhas de mármore de Zetricon – terão sucesso. Essa é a esperança das duas jovens. E talvez seu derradeiro feito.
Após algumas horas de caminhada lépida pela Malem finalmente se chegam à entrada da Floresta Escura. Ambas cansadas, mas entendem que não tem tempo a perder. O sol já se posiciona à hora quarta do dia, e precisam chegar ao coração da floresta antes da hora mais escura da noite pois sabem que é em tal momento que o Caos em movimento ganha mais força e diante da Loucura terão mais chances de fracassar em sua missão. “O corpo cansado é o que menos importa nesse momento” – pensa Atelith.
Sem dizer uma palavra, as duas acheronianas olham uma para outra e continuam a caminhada. Ao longo da estrada, percebem já a mudança do ambiente. A areia de transparência vítrea que circunda a Malem paulatinamente se torna mais escassa, dando lugar a plantas ressequidas de cor acinzentada que invadem os velhos tijolos graníticos que pavimentam o caminho. E o sol antes imperioso começa a dar sinais de sua fraqueza frente às trevas malévolas. Um súbito frio começa paulatinamente a tomar conta do lugar. Apesar de temerosa com tal mudança Ranemann suspira nostalgicamente dizendo: “E pensar que aqui passaram os imponentes exércitos de Tremares!” – disse Ranemann após um suspiro nostálgico. Sim! Deve ter sido grandiosa a visão… cem mil nobres cavaleiros, com suas armaduras de bronze cintilante… marchando… sob o comando de Narteg! – retrucou Atelith sorrindo.
Continua…