Há algumas semanas, escrevi um texto sobre como as séries da Marvel para a TV tiveram uma súbita queda de qualidade, que começou com a 2ª temporada de Daredevil (2016) e permaneceu até o fiasco que foi Inumanos (2017). Felizmente para um Marvel boy feito eu, parece haver esperança no horizonte.

Nos últimos meses, tivemos a estreia de The Gifted, que apesar de dividir propriedades entre os estúdios Marvel e Fox, foca em um dos pontos mais fortes dos X-men e que foi desenvolvido apenas superficialmente nos filmes: o preconceito. Em um mundo no qual os X-men desapareceram, vemos o amadurecimento de dois jovens mutantes e como sua família luta não apenas contra os Sentinelas do governo que desejam capturá-los, mas também para aceitar a nova condição a qual os dois estão sujeitos. Além de trazer à luz temas como aceitação e discursos de ódio contra minorias, a série apresenta personagens excelentes dos quadrinhos que nunca chegaram às telonas, ou não o fizeram de forma satisfatória, como Polaris (Emma Dumon) A FILHA DO FUCKING MAGNETO, Blink (Jamie Chung), Pássaro Trovejante (Blair Redford), as irmãs Cuckoo (Skyler Samuels) e uma versão assustadora das Indústrias Trask.

Semana passada, tivemos a estreia de Justiceiro, que manteve a linha sombria que a parceria entre Marvel e Netflix estabeleceu com Daredevil e Jessica Jones, mas explorando-a de forma bem mais visceral. Aqui, vemos Frank Castle (Jon Bernthal) não apenas como uma máquina de matar que responde ao mundo sinistro no qual vivemos, mas como um homem torturado, de espírito adoecido, incapaz de se livrar dos fantasmas que o tornaram quem é. É o programa mais violento que a Marvel já se dispôs a pôr no ar, o que certamente incendiou polêmicas por toda a internet, mas que também anima discussões interessantes sobre temas como estresse pós-traumático, porte de armas e corrupção.

Em novembro, a aliança Marvel/HULU (o mesmo streaming responsável pela obra de arte que é The Handmaid’s Tale) deu vida a The Runaways, que para os fãs mais distantes, pode parecer a aposta mais arriscada do estúdio para a televisão por não se tratar de uma equipe muito conhecida. Contudo, ao reunir seis jovens super-dotados de variadas etnias, crenças e perspectivas que descobrem que seus pais fazem parte de um culto criminoso vilanesco, a Marvel permite que os expectadores que provavelmente já estejam cansados dessa coisa de super-herói possam experimentar algo novo, que não se limita a tabus ao tratar sobre temas adolescentes, especialmente as partes mais desagradáveis que muitos programas de TV têm pudor demais para discutir.

Diferentemente da última leva de séries disponibilizadas com a marca Marvel, essas realmente se destacaram ao mostrar potencial, vontade de mexer com as fórmulas às quais já estamos acostumados há pelo menos 10 anos. Ver personagens queridos assumindo carne e osso e recebendo não só fidelidade, mas releituras interessantes de suas contrapartes originais. São exemplos que ainda me deixam ansioso por explorar mais adaptações, como se redescobrisse velhos amigos e me apresentasse pela primeira vez, pois trazem oxigênio ao gênero, impedindo-o de (como muita gente fala já há uns anos) saturar.

Quanto a mim, espero ansioso pelo lançamento da quinta temporada de Agents of S.H.I.E.L.D, a série Marvel que abriu a porta para as demais e se consolidou como a mais bem trabalhada de toda a safra, e que nos presenteou com o melhor enredo que poderíamos desejar em sua última temporada ao dar uma verdadeira aula de como adaptar elemento de quadrinhos.

E vocês, estão ansiosos por alguma?