As Crônicas de Acheron é uma série de fantasia publicada toda quarta-feira no Mapingua Nerd.
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Registrou o escriba:

Quando o Amor das esposas de Orath se apossou da essência de Illil, muito Zetricon foi tocado pelo seu lamento nas terras do Malgaroth. Por conta do gemido da essência da esposa quase do meio1 de Orath, Zetricon muito sofreu em tristeza por tamanho lamento. E as lágrimas de Zetricon caíram sobre a planície do Malgaroth tal qual o orvalho da manhã, tornando assim fértil seu solo ressequido por conta da Dissensão entre Vento e Sol. Sobre isso os Antigos dizem que àquela época viu-se o Malgaroth se renovar em beleza semelhante à da Era da Aurora da Terra dos Carvalhos, pois o Lamento de Illil2 ,que posteriormente foi cantado pelos bardos contadores desde os extremos das terras do Formetalion até as Terras Proibidas e os limites dos Tremares, atraiu pequenos e grandes animais de sangue bom que haviam se escondido do ódio das esposas do Maioral dos Prazeres Lícitos.

Com cada grão de areia do Malgaroth reluzindo em beleza, as rosas azuis e vermelhas brotaram por toda a planície dos Vilca, atraindo assim borboletas e pequenos pássaros coloridos cantantes. Os pássaros e as corujas cantavam a cada nascer e viração do dia para exaltar o amor que agora habitava o Malgaroth. A cada dia podia-se ouvir a voz das cotovias cantando em beleza para saudar o amor que agora estava em Illil. Assim, o Maioral da Vida foi atraído em amor para a essência de Illil, que se escondia nas areias reluzentes do lugar. Sobre esse respeito a grande águia de prata cantou para as areias do Malgaroth de tal modo:

“-Dizei, Amor que se esconde em cada minúsculo fragmento desse lugar. Dizei, tu que se traveste de sentimento fragmentado benéfico e benevolente para todos que aqui habitam. A tua contida beleza em mistura às minhas lágrimas assim transformou o Abandono em Plenitude e agora eu te persigo para que te mostres a mim. Revela-te para que eu possa me mostrar em Alegria e assim possa te conhecer com Verdade. Mostra-te a mim, tu que esconde o Amor em cada grão de areia dessa terra e vem ter comigo, minha amada. Dizei a mim, em tua essência invisível…onde está o Amor que te contém?

Ao ouvir o cantar da águia de prata, a essência de Illil reluziu até tomar todo Malgaroth ofuscando assim o Sol. Dizem os Antigos que a assim a planície dos Vilca em luz se tornou em tal momento para assim combater a beleza da luz do luminar criado. Assim esquilos, veados, coelhos, cotovias e aves-do-paraíso se emocionaram tamanhamente que passaram – em sua linguagem – a dar boas-vindas ao Amor que revelava sua face nas terras dos Vilca. E júbilo se fez no lugar pois os matizes da Luz que do Amor de Illil emanava coloriram a vegetação e os animais que ali agora voltaram a habitar.

Ao observar o Amor revelado de Illil, muito se consternou Zetricon que então lentamente tocou a Luz que dele escapava e suas penas se transformaram em sua armadura de mármore. E Zetricon tomou sua forma majestosa de Maioral da Vida para assim procurar nas areias das terras do Malgaroth Illil. E os animais observavam aflitos o caminhar de Zetricon de dia e de noite pelo Malgaroth até os limites das Moleth da Formetalion em busca do Amor contido na essência de Illil. Tais eventos os Vilca atribuíram a Orath, e assim, nos limites das terras do ajuntamento do povo das tendas e ao derredor do palácio dos Censores podia-se ver as fogueiras e as danças do dos Vilca que assim adoravam Zetricon em detrimento de Orath. Isso em muito desagradou Orath pois o Maioral dos Prazeres Lícitos havia alertado a grande águia de prata sobre esse negócio como sendo mal aos seus olhos.

Em certa tarde, Zetricon em caminhar sereno ouviu o lamento de Illil assim dizendo:

“Antes fosse a desgraça posta sobre minha vista

Se onde a taça tida como certa em minha existência me tivesse tragado,

Pois de bom grado aceitaria o destino assim a mim desenhado,

E tal qual minhas irmãs, em escravidão a Fyr me tivessem enviado,

Para assim não sofrer pelo Amor absorvido e que agora em gemidos exprimo,

Esse lamento que em sofrimento aguardo o momento em prontidão de libertação,

A introspeção do que enfim guardo de ti, a quem agora amo desde que desnudo de tuas penas de prata…

Assim o vi.”

Ao ouvir tais palavras cantadas em gemidos, O Maioral da Vida em muito amou Illil e assim chorou por seu surgimento. As lágrimas de Zetricon se misturaram ao solo do Malgaroth resgatando assim a essência da esposa do quase meio de Orath para a superfície. Assim, a forma corpórea de Illil pode ser mais uma vez vista pelas criaturas do lugar. E Zetricon – ao ver Illil – em muito mais a amou, pois, o Amor que em sua essência estava contido agora adentrou a essência do Maioral da Vida. E Zetricon enfim revelou sua forma majestosa ao se despojar de sua armadura de mármore. E o grande Zetricon era perfeito em feições e de magnífico porte. A luz que emanava de Zetricon e Illil recriou o Malgaroth em beleza. E rosas e lírios de toda sorte de cores agora povoaram a planície dos Vilca e os Carvalhos que lá habitavam conversavam entre si em alegria ao verem o colorido de suas irmãs. Nesse período o Malgaroth voltou em beleza a ser semelhante ao tempo da Aurora de Acheron.

O Amor de Zetricon e Illil assim criaram um jardim de delícias para si no Malgaroth. A Brisa então voltou a percorrer a planície dos Vila e o orvalho revitalizou o lugar que outrora foi árido por conta da Dissensão entre Veto e Sol. Agora repleto de criaturas de sangue bom, o Malgaroth serviu como refúgio para os cansados e entristecidos que habitavam nas redondezas dos domínios dos Vilca, dada a sua beleza singular. Dizem os Antigos que podia se ouvir os cantos do Amor de Zetricon para Illil. E a cada viração do dia podia se ver os animais e os lírios contemplando o caminhar do Maioral da Vida e Illil sobre os campos em Amor. Os Vilca eram atraídos pelo Amor que habitava o lugar e diversos postes foram erguidos para homenagear Orath. Nesses tempos os Vilca tornaram se muito fecundos, pois o Amor de Zetricon e Illil encheu os casais de Amor e assim o povo das tendas prosperou. E sobre o palácio dos Censores se ergueu uma estátua para Orath no portão de entrada da Casa das Mulheres para celebração do Amor que se acreditava emanar da presença de Orath na planície dos Vilca.

Sobre tal negócio disse Orath ao Uno, enquanto observava sobre as Pilastras da sua Alegria: ” -o que meu irmão Zetricon está fazendo mal o é. Semelhança me foi tomada, e meu povo me foi tirado. Agora meus filhos adornam postes e acendem fogueiras em falsa adoração a mim. Dizei, meu Pai… sobre tão estranho negócio… o que devo eu fazer com a insanidade de Zetricon?”

Disse então o Uno: “-deixai tal desígnio se revelar por completo, meu filho. Teu irmão em Amor se pôs à prova em teus domínios e confundiu assim os homens que te amam e te temem. Agora pois, fica em tua morada, em teu jardim e observa. Eu que em tudo sei o fim desde o seu início digo que desse estranho negócio boa coisa será tirada para que de maneira renovada os homens ainda usufruam de Zetricon e Illil.”

E com suas enormes mãos peludas, o Maioral dos Prazeres Lícitos observava de seu Jardim em Bel o proceder de Zetricon.

Continua…

I-Sobre esse respeito dizem os Antigos que Illil era a “quase do meio” pois em número par foram as esposas de sangue bom de Orath.

II- O Lamento de Illil foi registrado de forma incompleta no Livro dos Dias e é dito que Melikae em muito o cantou em verso e prosa para sua amada Ranemann.