As Crônicas de Acheron é uma série de fantasia publicada toda quarta-feira no Mapingua Nerd.
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–Cuidado, meu senhor. Assim podes me machucar – disse languidamente Ranemann aos ouvidos dele, contorcendo seus quadris – é assim que os reis dessas terras tratam as mulheres na cama?

–Nosso povo é pacato, mas sobre os lençóis deve haver a boa fúria! – Retrucou Vatrehuh, gargalhando – enquanto deslizava com vigor seus dedos sobre os pelos ruivos do sexo da jovem – temo que o resto de vinho na garrafa não permita fazer tudo o que planejei essa noite. Mas, ah! Já sei o que fazer com ele!

E pegando a caneca de madeira sobre a cômoda, deu um gole, derramando o resto com o tempero que ficou no fundo sobre as nádegas de Ranemann que se contraíram pelo calor da bebida. Delicadamente deslizou sua língua sobre a pele rosada de seus glúteos enquanto continuava a acariciá-la. – E agora, pareço um rei com bons modos? – Disse, sorvendo a bebida junto aos resíduos de cravo e pimenta.

Ela nada disse, apenas gemeu, elevando os quadris para assim ser penetrada. –Ah, então é assim que desejas? – Disse o lascivo, introduzindo seu membro com vigor e penetrando-a seguidas vezes avidamente.

Assim permaneceram por algum tempo, até Vatrehuh finalmente despejar sua semente. Ele então a abraçou, virando-a. E deitados sobre a cama coberta de peles espessas dos ursos do norte, trocavam carícias gentis. Fitando-a nos olhos, disse:

–Não entendo. Por que me evitaste todo esse tempo? Quero dizer, conquistaste minha amizade, invadiste sorrateiramente meus pensamentos… até a minha essência. E em seguida, recuaste.

–Bem, e agora…estamos aqui – sorriu-lhe ela de volta, beijando-lhe o rosto levemente – é isso. E virou-se para pegar mais vinho – acabou, e agora? Como será o resto da noite?

–Está escasso. O criado trouxe apenas duas garrafas – suspirou, sentando-se – pois nossas reservas estão chegando ao fim. Não negociamos mais com os homens do leste. Enviei homens ao Makalabeth para buscar algum alimento com os aldeões de lá. Espero estarmos vivos até seu retorno.

–E quanto tempo levará para Jotih voltar com notícias?

–Nas costas de um Draquon? Três luas. A contar com a de ontem. Espero que ele e Sabretil também consigam se manter vivos.

–Confias em Jotih? O menino é inexperiente e impulsivo. Não havia alguém melhor para servir de espião nessa incursão contra os bárbaros? Atelith, ou até mesmo Jotuh, seriam melhores escolhas…

–Jotih é auxiliado e vigiado por Sabretil. Se algo de errado ele fizer, ela sabe o que fazer. Quanto a Jotuh e Atelith, bom… é melhor que fiquem bem próximos de mim. Jotih é vulnerável de essência, mas junto a Sabretil, Zitri e Uhtyl receberá boa influência. Deve servir bem como espião, enquanto Uhtyl prepara o exército nas sombras das árvores. Meu general é excelente em organizar ataques furtivos. Mas tudo dependerá de tantas coisas! As formigas não retornaram… não temos ajuda! Não sabemos o tamanho dos exércitos daqueles malditos bárbaros!

–Está nas mãos do Uno, meu senhor. – Disse, suspirando – nossos amigos se foram para os extremos do leste, guerrear. Mas aqui também temos muito o que fazer.

–Sim, e ainda tenho que resolver o quanto antes o impasse das casas de Guthrord, Magurth e Finerah. De hoje não passará!

–O que o velho homem disse? Tiveste uma reunião em segredo com ele pela tarde de ontem, certo?

–Magurth quer negociar. Quer que nosso exército retorne do leste. E exige a vida dos forasteiros. Tua cabeça, a de Atelith, Zitri e Sabretil. Crê ele que Sabretil é oportunista e que fui envenenado por seus ardis. – Sentou-se e, estalando os dedos, continuou – e por tua feitiçaria. Disse que o povo acredita que praticas magia malévola. Pois por vezes te viram nua, andando pela floresta de madrugada e cercada de animais, recitando feitiços.

–É como tenho tentado ouvir a voz do Uno. Livre de amarras. A criação do Uno tem chorado a minha agonia! O que esse povo supersticioso tem com isso?

E fitando seu amante corpulento, aproximou seu rosto dele e, com o olhar grave, indagou:

–O que disseste a Magurth? Vai atender as exigências?

Vatrehuh apenas a olhou de volta. Com a mão no seu queixo anguloso, coçou a barba morena espessa. Delicadamente então, acariciou a extensa cicatriz no rosto de Ranemann com o dedo indicador, circundando seus limites com a orelha. Finalmente, respondeu:

–Por que não acreditas na minha essência? Não te convidei hoje para se deitar comigo apenas para meu divertimento. Era algo que desejava há tempos.

Ela afastou sua mão do rosto. O abraçou, beijando-o o ombro.

–Mas… e meus amigos?

–Serão mortos por minhas mãos se atentarem contra nós. Se não, nada os acontecerá. Até agora, eles têm me ajudado. Sabretil e Zitri foram guerrear junto à metade da Patrulha nas praias do Grande Mar. Atelith está com Gehamih e Jotuh cuidando das coisas daqui. E tu… tens a minha palavra.

–E quanto aos rebeldes?

–Obviamente, concordei com Magurth… para ganhar tempo. Gehamih está no norte arranjando tudo, mas tem ordens para retornar. Deve estar chegando, e logo mais, antes da aurora, levará a outra metade da Patrulha e os esmagará nos refúgios. Não deve ser admitida rebelião. Gehamih sabe que meu sobrinho e sua consorte devem ficar fora disso. Eles nada sabem, pois não confio o suficiente neles. Ele é o único encarregado.

E beijando-a calidamente na boca, tomou-lhe pela cintura. “–Esqueça isso por agora e venha! Permita-me amá-la mais uma vez! Nessa noite de incertezas, tu és minha segurança, pois o Uno não me ouve mais!” – Disse-lhe com o olhar. “–Quero que saiba que me incomodo com tua desconfiança para com minha irmã” Retrucou, em silêncio, empurrando-o para deitá-lo e assim acolher seu membro, sentando em seus quadris. Olhando-lhe nos olhos, Ranemann passou a movimentar a cintura com firmeza. “–Confia na casa de Thelim”. Dizia em silêncio à Vatrehuh, enquanto seus músculos se contraíam de prazer e imprimia ritmo crescente. “–Confia na casa de Thelim!” Tal pensamento enchia pouco a pouco a mente de Vatrehuh, que inebriado pelo prazer a ouvia cada vez mais distante. “–São os ecos, minha amiga! São eles! Ecos das vozes de Atelith e Jotuh! Ou seriam meus delírios?” Em algum canto de sua mente, ouviu a voz pálida do senhor do Povo das Alturas se repetir várias vezes enquanto era penetrada, quando de súbito as luzes das velas foram apagadas pelo vento, que invadindo os aposentos, trouxe consigo luzes brancas bruxuleantes que falavam com urgência numa língua ininteligível e ficaram do lado de fora, esbarrando freneticamente contra a escuridão impenetrável que se fez no lugar. Ranemann olhou para Vatrehuh aterrorizada, pois o viu desacordado sobre a cama encharcada do sangue misterioso que brotava do chão e se misturava com violência à sua carne, arrancando-lhe grandes pedaços até os ossos se entrelaçando às suas pernas. Enquanto tentava desvencilhar-se desesperada, repentinamente se viu em meio ao grande clarão do fogo misturado às copas das árvores gigantescas da planície limítrofe com a praia de areias carmesim repletas de corpos despedaçados sendo devorados por homens degenerados sedentos por essências. Aturdida, correu sem rumo, enquanto a terra chacoalhava pelo impacto das ondas vindas do mar em ebulição junto ao caminhar estrondoso dos gigantes que derrubavam a floresta em chamas. Num instante, se viu caída presa a cadáveres, próxima a uma grande fenda no chão, entre gemidos e gritos de homens sendo dilacerados pelas garras de uma criatura horrenda rastejante, de aparência semelhante à de homem que, ao vê-la acordar, manteve-se próxima ao seu derredor, rosnando em frenesi e expelindo uma fumaça negra de seus cabelos tentaculares que a dominavam. “–Senhor de Bel, entrego minha essência ao teu Arauto, Fyr!” Disse com a voz embargada – esperando cumprir naquele instante o Ciclo, quando avistou Sabretil se lançando contra o demônio prestes a devorar sua garganta.

“–Eles estão vindo! Temos que sair daqui!”

Continua…