Que as produções voltadas para a ficção científica estão em alta desde o explosivo sucesso de Black Mirror não há como negar. Mas como essas obras conseguem se reinventar? Será que elas mantém alguma originalidade, trazendo novas reflexões sobre o presente e o mundo que vivemos? A minha mais recente descoberta do catálogo do Amazon Prime Video, Tales From the Loop, apresenta a melancolia das reflexões sobre relações humanas de forma existencial e muito sensível.
Inspiração
A série é baseada em um livro de fotografias de mesmo nome, do artista sueco Simon Stalenhag, que também participou do roteiro e produção executiva da série. Seu livro apresenta uma série de fotos dos subúrbios suecos das décadas de 70 e 80 povoadas por elementos futurísticos inseridos no cotidiano. Uma arte bem conceitual que rendeu produtos para outras mídias, como um jogo de RPG, sendo agora uma delas o audiovisual pelo selo da Amazon.
Desenvolvida por Nathaniel Halpern, famoso por trabalhos como Legion (2017) e Outcast (2016), a série começa na cidade fictícia de Mercer, em Ohio, construída acima do chamado Loop, uma espécie de centro de pesquisa localizado no subsolo da cidade, criado para explorar os segredos do universo e que possui uma máquina capaz de transformar o impossível em possível. O lugar emprega vários moradores da cidade e, mesmo que eles não saibam totalmente o que acontece lá, suas histórias acabam nutrindo fortes ligações com o Loop.
Estrutura
Partindo dessa premissa, a série é composta em forma de antologia, onde cada episódio possui uma direção diferente (atenção especial para o último episódio, dirigido por Jodie Foster!) e aborda a perspectiva de um morador da cidade de maneira independente.
A cada episódio, personagens secundários do anterior se tornam protagonistas, com consequências que afetam as narrativas dos demais episódios, criando uma grande cadeia de causa e efeito para os moradores daquela cidade, baseada nas experiências que cada um vive com a tecnologia e suas ligações uns com os outros, seja de passado, amizade ou família. Uma linha narrativa que se complementa até o fim da temporada.
Apesar das máquinas, o foco principal está nos humanos e suas relações sociais. Com uma atmosfera dramática e atuações marcantes, como a de Jonathan Pryce, a série apresenta uma grande aventura fantástica que levanta questões acerca do tempo e do ser humano e seu impacto ao se deparar com o desconhecido. Seus arcos dramáticos produzem uma experiência introspectiva carregada de melancolia.
No decorrer de seus oito fantásticos episódios somos levados através de todas as experiências dos habitantes com o Loop e suas histórias de luto, desencontros, amor, amizade, identidade, busca por um lar. Seus contos comovem e dão esperança diferentemente de obras de ficção científica que expressam o lado mais negativo da tecnologia.
Sua construção lenta, poética e tranquilizante, acaba cheia de momentos para apenas apreciar a paisagem que ganha destaque na tela. Por causa disso, talvez não seja o tipo de série que vá agradar a todo mundo. Mas Tales from the Loop com certeza é uma agradável surpresa sci-fi com uma originalidade narrativa feita para todos que buscam um formato diferente ao que estamos acostumados quando o assunto é consumir séries. Vale a pena dar uma oportunidade!
Os contos do Loop esperam por você.
