Apesar do nome, o Spoiler Pipoca não vai te dar spoiler (nem pipoca). Sente e aproveite.
Ele é amado por vários e sempre bem recebido quando o assunto é cinema. Quentin Tarantino é um cinéfilo de carteirinha, além de um grande diretor e roteirista de mão cheia. Seus filmes são clássicos instantâneos e conseguem se fixar na cultura pop, portanto não era de se estranhar que ganhasse um Spoiler Pipoca comentando sobre suas obras.
Quentin Tarantino possui uma assinatura constante em seus filmes: palavrões, sangue e violência não podem faltar, além de diálogos marcantes. Eu considero que seus filmes são um passo importante para a pessoa que está começando a aprender a gostar de cinema e saindo da área de conforto de filmes mainstream. Isso gera até umas certas piadas entre os fãs de cinema mais assíduos, brincando com o fato de muitos dizerem que esse é o melhor diretor que já existiu. Sendo o melhor diretor ou não, a verdade é que o cinema de Tarantino é importante sim, e chegando ao seu oitavo filme, ele ainda não perdeu a mão de seus roteiros e da escolha de trilha sonora.
Tarantino faz sua estreia em longas com o filme Cães de Aluguel, já mostrando belos diálogos com um pouco de humor negro na conversa inicial em um restaurante, onde os protagonistas discutem sobre o significado da música “Like a Virgin”, da Madonna. Mr. Blonde, Mr. Blue, Mr. Brown, Mr. Orange, Mr. Pink e Mr. White são os protagonistas do longa. A maior parte do filme se passa apenas em um galpão, mostrando as discussões do grupo de bandidos, onde por meio de flashbacks mostra os detalhes da missão e do passado dos membros do grupo.
Cães de Aluguel – 1992.
Tarantino também participa do filme como Mr. Brown e mais tarde o diretor faz aparições em outros filmes seus e deu seu amigo, Robert Rodriguez.
Cães de Aluguel chegou aos cinemas em 1992, mas foi em 1994 que Tarantino ganhou espaço e reconhecimento ainda maior com um dos seus filmes mais aclamados, Pulp Fiction. O filme foi tão bem recebido que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original em 1995.
No Brasil, o filme ganhou o nome de Pulp Fiction – Tempo de Violência, e o título faz jus ao que encontramos no filme. Ainda lembro da primeira vez em que assisti e fiquei um pouco atordoado, era o meu primeiro filme do Tarantino e, de cara, esse é um dos filmes que mostra bastante do universo do diretor. O filme narra três histórias e se apresenta fora de ordem cronológica, o que vem a ser marca registrada do diretor em outros títulos contendo roteiros não-lineares, como em Cães de Aluguel.
Pulp Fiction – 1994.
Abro aqui um grande parênteses para a continuidade dessa postagem. Além de Pulp Fiction firmar Tarantino no cenário mundial e se fixar na cultura pop, é nele que temos as primeiras ligações entre filmes. Por exemplo, Vincent Vega é apresentado ao mundo e, um pouco mais tarde, descobrimos que ele é irmão de Vic Vega, um dos personagens de Cães de Aluguel. Surge então a teoria de que os filmes de Quentin Tarantino se passam no mesmo universo e o diretor confirmou recentemente que essa teoria é verdadeira, dizendo ainda que os filmes dele se passam em dois universos: um mais real como Cães de Aluguel e Pulp Fiction, e outro mais fantasioso como Kill Bill, que se passa no mesmo universo de Um Drink no Inferno (Robert Rodriguez – 1996). Outra ligação em Pulp Fiction é do personagem Capitão Koons que possui um antepassado chamado Crazy Craig Koons, citado em Django Livre, além de também mostrar os cigarros Red Apple que vem a ser citados em outros filmes do Tarantino.
O gif que ganhou espaço no facebook nos últimos anos é de Pulp Fiction.
Em 1995, Tarantino assina roteiro e direção do filme Four Rooms, onde trabalha junto com outros três diretores: Allison Anders, Alexandre Rockwell e Robert Rodriguez. O filme possui 4 partes (cada uma dirigida por um diretor diferente) e a última, The Man from Hollywood, é dirigida por Quentin Tarantino. Essa parte possui um plano sequência incrível e também conta com a participação de Tarantino como ator.
Parte 3: The Misbehavers – Dirigida por Robert Rodriguez.
O filme se passa em um hotel, na véspera do ano novo, onde Ted (personagem de Tim Roth) passa por situações inusitadas, contando com bastante humor negro. Esse é o segundo trabalho de Tim Roth com Quentin Tarantino, o primeiro foi em Cães de Aluguel, e o ator voltou em Os Oito Odiados para mais uma parceria com o diretor.
Falando em atores que fazem parcerias com Tarantino, o que mais fez papéis nos filmes do diretor foi Samuel L. Jackson. Seu primeiro papel foi em Pulp Fiction e o segundo veio a ser em Jackie Brown, o próximo filme a ser comentado.
Jackie Brown é talvez o filme menos conhecido de Quentin Tarantino. Particularmente falando, eu coleciono os DVDs do Tarantino e Jackie Brown foi o último que consegui encontrar para completar a coleção. Eu não o considero um filme ruim, mas vai ver que não ganhou tanta popularidade por ser um dos filmes com pouquíssimo sangue e pouca violência. Temos atores brilhantes no elenco como Bridget Fonda, Michael Keaton e Robert De Niro, além de Pam Grier como Jackie Brown, marcando a primeira protagonista feminina em um filme de Tarantino.
Jackie Brown – 1997.
As mulheres no universo de Tarantino possuem papéis importantes e a próxima da lista é a minha preferida, no filme que considero o meu segundo favorito de Quentin Tarantino. Uma Thurman recebeu o roteiro de Kill Bill de aniversário e aceitou o papel. A obra é considerada um filme só apesar de se dividir em 2 volumes.
O filme foge novamente da ordem cronológica e se apresenta com um roteiro não-linear, onde conhecemos A Noiva, personagem de Uma Thurman, que não tem o nome revelado. A vingança é uma motivação presente nos filmes de Tarantino e Kill Bill é baseado apenas em vingança. Vingança de uma mulher que foi traída pelo grupo de bandidos que participava e pelo seu marido, Bill, quando tentaram matar A Noiva no dia do seu casamento.
Eu tenho dúvidas sobre qual dos volumes é meu preferido, mas certo é que a trilha sonora dos dois é a que eu mais gosto dos filmes do Tarantino. Kill Bill conseguiu se fixar na cultura pop e talvez seja até o segundo mais conhecido do diretor.
Kill Bill – 2003.
Aqui novamente entra uma ligação com os outros filmes de Tarantino. Em Pulp Fiction, Mia Wallace diz que iria participar de um programa de TV e quando o descreve parece bem similar com o enredo de Kill Bill. Acontece que Uma Thurman interpretou tanto Mia quanto A Noiva, sendo assim, Kill Bill nada mais é que um filme que se passa dentro do universo de Tarantino sendo de conhecimento dos seus personagens, que vão assistir ao filme no cinema, e Mia Wallace é a atriz protagonista do filme.
Logo depois de Kill Bill, Tarantino dirigiu uma cena de Sin City, filme de seu amigo de longa data, Robert Rogriguez. A assinatura de Rodriguez se compara bastante a de Tarantino e a parceria dos dois não é de se estranhar – já haviam trabalhado juntos em Four Rooms e Um Drink no Inferno, como falei anteriormente.
Um Drink no Inferno (Robert Rodriguez) – 1996.
Ainda contando com a parceria entre Rodriguez e Tarantino, os dois lançaram Grindhouse, que é um projeto que se divide em dois filmes: Planeta Terror e À Prova de Morte. A primeira parte (Planeta Terror) é dirigida por Robert Rodriguez e mostra um grupo sobrevivendo ao início de um apocalipse zumbi. A segunda parte (À Prova de Morte) é dirigida por Tarantino, onde narra a história de um dublê que possui um carro à prova de morte para aquele que está sentado no banco do motorista. Desse modo, o dublê testa a sorte se envolvendo em acidentes que acabam matando outras pessoas.
À Prova de Morte – 2007.
Tarantino atua nas duas partes e entre os filmes são exibidos cinco trailers falsos: Machete, Werewolf Women of the SS, Don’t, Thanksgiving e Hobo with a Shotgun. Machete era pra ser apenas um trailer falso mas depois ganhou um longa dirigido por Robert Rodriguez. Se não me falha a memória, Machete também é um personagem presente em Pequenos Espiões, outro filme de Rodriguez.
Em 2009, Tarantino traz ao mundo sua obra prima, Bastardos Inglórios. Esse é o meu filme preferido de Quentin Tarantino porque não importa quantas vezes eu o assista, sempre será uma beleza. Uma das coisas que mais me fizeram gostar do filme é que Tarantino utiliza quatro idiomas diferentes, sendo inglês, francês, italiano e alemão.
No filme é contada uma história um pouco diferente. Durante a Segunda Guerra Mundial, vemos a visão dos Judeus (bastardos inglórios) que armam planos para matar os maiores oficiais nazistas, incluindo Hitler.
Como se não bastasse, ainda traz Christoph Waltz para Hollywood, onde em seu primeiro papel com Tarantino (acredito que também seja seu primeiro papel em um filme estadunidense, me corrijam se eu estiver errado) é agraciado com um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por interpretar Hans Landa, que segundo Tarantino, é o melhor personagem que ele já criou.
Bastardos Inglórios – 2009.
Mélanie Laurent interpreta Shosanna, uma jovem que teve sua família assassinada por Hans Landa. É uma forte personagem feminina criada por Tarantino e, mais uma vez, aqui temos a busca por vingança, na qual Shosanna, mesmo sem saber, acaba ajudando os Bastardos na tarefa de eliminar os chefes nazistas.
O filme se divide em 5 capítulos: Era uma vez na França ocupada por nazistas, Bastardos Inglórios, Noite alemã em Paris, Operação Kino e A vingança do rosto gigante. Tarantino dá um show de roteiro e direção em um filme que se tornou um clássico e deve ser visto por qualquer um que ame cinema.
Em Kill Bill, Tarantino mistura Faroeste (western) com filmes de Samurai, mas somente em Django Livre temos o primeiro western de Tarantino, em uma história novamente motivada por vingança em um de seus melhores filmes contando com uma de suas melhores trilha sonoras.
O filme conta com a segunda parceria de Cristoph Waltz e Quentin Tarantino e, como na primeira vez, aqui Waltz também ganha um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por interpretar Dr. King Schultz. O filme também marca o segundo Oscar de Tarantino na categoria de Melhor Roteiro Original.
Django Livre conta a história do ex-escravo Django que procura por sua amada, Brunhilde, ao lado de Dr. King Shultz, um caçador de recompensa que ensina Django a caçar os foras da lei e promete ajudá-lo a salvar Brunhilde.
No filme também temos uma das melhores atuações de Leonardo DiCaprio, que durante as filmagens cortou a mão em uma das cenas e mesmo assim continuou atuando por mais que sua mão estivesse sangrando. Naquela época a academia ignorou a sua atuação e o ator não ganhou indicação para Melhor Ator Coadjuvante no Oscar.
A trilha sonora de Django também é uma beleza à parte. Uma curiosidade é que no menu do DVD é possível selecionar as cenas por capítulos ou pela música que toca em cena.
Depois de um tempinho longe dos cinemas, Tarantino resolve voltar com seu segundo western, e seu oitavo filme, Os Oito Odiados.
Alguns detalhes do filme acabaram vazando e isso deixou Tarantino com raiva a ponto de desejar não mais fazê-lo. Atores ligaram para o diretor pedindo por audições para papéis específicos, mesmo que o roteiro tenha sido dado apenas para alguns atores amigos de Tarantino que iriam participar do filme e seus respectivos agentes. Ao ler o roteiro, os atores, incluindo Samuel L. Jackson, imploraram para que o diretor não desistisse e lançasse o longa mesmo assim, e graças aos Deuses do Cinema, Tarantino ouviu seus amigos, lançando assim seu oitavo filme.
O longa conta a história de 8 protagonistas que se encontram em uma pousada, ao maior estilo Cães de Aluguel, e passa sua maior parte em apenas uma locação. Nele conhecemos cada um dos 8 protagonistas e temos a certeza de que, alguma hora, o grupo vai se estranhar. Descobrimos que pelo menos um dos personagens não é o que diz ser e a partir daí começam as suspeitas para saber quem pode ser o infiltrado.
Major Marquis Warren, O Caçador de Recompensas; John Ruth, O Carrasco; Daisy Domergue, A Prisioneira; Chris Mannix, O Xerife; Bob, O Mexicano; Oswaldo Mobray, O Pequeno; Joe Gage, O Cowboy e Gen. Sanford Smithers, O Confederado, são os personagens principais do filme que se divide em 6 partes.
O filme não ganhou muita atenção da academia no Oscar de 2016 e confesso que fiquei surpreso ao saber que Tarantino não tinha sido indicado na categoria de Melhor Roteiro Original. Ainda assim, Ennio Morricone que, depois de um longo tempo sem produzir trilhas sonoras para um western, voltou e produziu parte da trilha sonora de Os Oito Odiados. O resultado? Depois de mais de 500 trilhas sonoras produzidas por Morricone, ele finalmente ganhou seu primeiro Oscar, entregue com um discurso emocionante e memorável.
Tarantino já afirmou que só vai fazer mais dois filmes e, assim, se aposenta em seu décimo longa. Espero que o diretor consiga fazer dois filmes tão marcantes quanto os oito (na verdade um pouco mais que isso) que citamos aqui. O cinema do Tarantino é rico e tentei trazer um pouco de sua riqueza para o Spoiler Pipoca.
É claro que não deu pra falar de tudo, por exemplo do seu fetiche por pés que sempre é visto nos filmes, ou homenagens que faz nos longas para outros diretores, ou até mesmo o estranho fato (que você pode ter notado) de que em todos os seus filmes, em alguma hora, a câmera filma os personagens de baixo para cima.
Eu iria ainda falar das mulheres de Tarantino e as personagens femininas marcantes que estão presentes em seus longas, mas isso iria ocupar muito mais espaço nessa postagem que já está bem grande, então decidi que elas vão ganhar um Spoiler Pipoca só delas. Sendo assim, ainda vou mostrar um pouco mais da expansão do universo de Tarantino.
Jackie Brown, a primeira protagonista feminina de um filme de Tarantino.
Qualquer acréscimo, dúvida ou crítica, é só deixar um comentário aqui. Espero que tenham gostado do Spoiler Pipoca dessa semana e até semana que vem.