Oi nerds! Quem esperava a continuação da matéria “Os jogos que prepararam o caminho para o mítico ano de 1998 (parte I)“, se deu mal. Hoje vou lhes falar um pouco sobre o game que mais joguei em 2010: Demon’s Souls.
Em 2009, os vídeo games que ferviam lá em casa era o Wii e o Xbox 360. Num ano em que saíram games como Call of Duty: Modern Warfare II, Forza Motorsport 3, Batman: Arkham Asylum, Resident Evil 5 e Dragon Age: Origins, para o Xbox 360; assim como Silent Hill: Shattered Memories, Castlevania Rebirth, Final Fantasy Chronicles: the Cristal Beares para o Wii, ficava difícil deixar o PS3 ligado muito tempo.
Ora, o console da Sony vinha amargando vendas medianas por conta de seu catálogo pífio de games exclusivos e ports de games multiplataforma mal feitos devido à dificuldade de se programar para a arquitetura do Cell. Eu só comprava games multiplataforma para o Xbox 360, e viajava na Xbox Live fazendo party com amigos da velha guarda do Orkut. A franquia Uncharted só faria a fama com o lançamento naquele ano de seu 2º capítulo, e Killzone 2, por mais intenso que fosse, não conseguiu desbancar Halo.
Não era muito bonito, mas me conquistou
Nesse meio tempo, eu acompanhava as notícias de um RPG de ação, de temática gótica, sendo produzido pelo studio From Software em parceria com o Sony Japan Studio. Os gráficos não eram chamativos, porém a ambientação interessante: Demon’s Souls seria exclusivo para o PS3; seu lançamento no Oriente, em fevereiro, foi um fracasso. O game foi duramente criticado na Tokyo Game Show.
Ainda assim, tudo o que lia a respeito do game me deixava mais e mais curioso: a dificuldade elevada, o modo online cooperativo inovador, a história misteriosa (não narrada, e sim espalhada aqui e ali pelo universo do game), me deixaram atento. Até o fim do ano, quando o game foi lançado no ocidente sem propaganda alguma.
O mimimi se espalhou: rage generalizado sobre como “um game hoje em dia pode ser tão difícil?!”… “que sacanagem é essa de morrer e voltar para o início da fase?” … “como assim, você morre e perde todos os pontos de experiência coletados e não trocados por Level?”.
Sim, eu estava cada vez mais louco pelo game.
Um conhecido, trouxe do exterior uma edição de colecionador para mim no final do ano, e lá estava eu, finalmente padecendo no paraíso, em Demon’s Souls.
Entre tapas e beijos
Mas não se engane: não foi fácil para mim também. As primeiras duas horas de jogatina foram bem frustrantes. Deixei o game quieto por todo o mês de dezembro de 2009.
Eu havia me sentido muito impotente. Pois o game não traz as facilidades que a indústria construiu para te tornar um gamer preguiçoso: em Demon’s Soul tem muita ralação. Mas com ela vem algo que a grande maioria dos games de hoje em dia não te oferece: a sincera satisfação de recompensa.
Sim, cada inimigo precisa ser estudado. O sistema de batalha é dinâmico: você precisa a todo momento administrar sua vida, stamina e magia. Não há como paralisar o game para gerenciar armas, poções e itens diversos. Ou você se planeja ou se estrepa.
Demon’s Souls não perdoa erros. Mas o game não é injusto: sempre que você perder, terá plena consciência de que a culpa foi SUA.
A tal história misteriosa
Com essa premissa, o gamer encarna um guerreiro que busca salvar um reino de uma entidade maligna chamada de “The Old One”. Boletaria, por causa da ganância do Rei Allant XII, foi separado dos outros reinos do mundo por uma bruma fantasmagórica, sendo invadida por demônios devoradores de alma. Muitos cavaleiros ao longo dos anos vem se candidatando a libertador de Boletaria, adentrando nos portais dos espíritos (o Nexus) que se liga ao reino isolado pelas forças diabólicas.
Você é apenas mais um que pretende ser o Herói. Mas quem sabe no fim, talvez desista disso. Suas atitudes no game mudam certos eventos e comportamento de criaturas: novas áreas são abertas, NPCs diferentes em locais onde outros deveriam estar; o sistema de “tendência branca ou preta” potencializa a exploração na busca por informações fragmentadas sobre o passado de um mundo maravilhosamente sombrio.
Essa é a premissa do game. Encantado com a maneira como a história é contada (através de pouquíssimas cut scenes. Para se descobrir sobre o passado do mundo, você tem que conversar com NPCs e coletar itens), me lancei em Boletaria, explorando cada canto de cenário, estudando cada possibilidade de caminho.
O importante é que emoções eu vivi.
Quando dei por mim, já havia se passado um ano: o ano de 2010 para mim, foi o ano de Demon’s Souls. Mais de 400 horas jogadas. Três playthrough. Incontáveis alegrias com amigos e desconhecidos no modo online me fizeram fã! Desses que guarda com carinho lembranças das parties mais divertidas!
De um tempo que não vai voltar: afinal, esse ano foram desativados os servidores de Demon’s Souls. A Atlus, – publicadora do game no Ocidente – em seu blog fez uma postagem de homenagem a esses momentos tão mágicos que fizeram a vida dos gamers aventureiros de Boletaria. Qualquer um pode ir lá e compartilhar suas lembranças sobre as jogatinas online no game.
Bom, eu tenho uma muito bacana: numa noite de fim de semana, estava numa party com dois amigos (eu de ladino, os outros dois de guerreiro e mago), numa fase complicada: o Shrine of Storms.
De repente, uma invasão: um Black Phantom surge para um torneio. Aquele que vencer, ganha os pontos de experiência (as “souls”) do derrotado. Surpresos, nos dispersamos para cercar o inimigo, enquanto conversávamos no Skype para nos organizar (sim, em Demon’s Souls a comunicação em parties era limitada a mensagens de texto deixadas no caminho, mas como jogava com amigos que fiz em minhas aventuras, acabamos trocando o id do Skype para as jogatinas ficarem mais dinâmicas).
Curiosamente, o player invasor não nos atacou. Em vez disso ele nos auxiliava contra os monstros ao longo dos pés de uma montanha. Aquilo nos intrigou: como a fase era difícil, deixamos ele nos ajudar, porém ficamos com “as barbas de molho”, seguindo por um estreito desfiladeiro.
Lá estamos nós, enfileirados, caminhando devagar, temerosos em cair (e perder tudo, e voltar para o início da fase), quando de súbito, o intento revelado: o invasor, apunhalando um dos meus amigos pelas costas, realizava o golpe fatal, ceifando toda a sua barra de vida.
Apanhados de surpresa, só nos restou lutar. Enquanto meu outro companheiro se defendia das investidas do desgraçado, cheguei apressado, dando eu um golpe com minhas adagas pelas costas do insolente.
Ora, eu era o que tinha o maior Level de Strenght, ele não teve chance. Ao vencedor, o prêmio: foram mais de dez mil pontos de experiência. Perdemos nosso amigo. Mas naquela noite foram dadas muitas risadas.
O tempo passou, a propaganda boca-a-boca falou mais alto: Demon’s Souls se tornou um clássico. Gerou lucro. originando outro gigante do gênero chamado pela From Software de Dark Souls.
Câmbio desligo, leprechais.