Atenção: Esta é uma obra de ficção. Todos os serumaninhos mencionados serviram apenas como inspiração para a obra e em nada aqui relatado condiz com a realidade.
Parte 3: A Garota do Cabelo Lilás – O Bruxo
Sam estava em uma floresta escura. Como se fosse um grande desenho. Poderia jurar que as arvores eram pinturas que iriam se desfazer em tinta ao tocá-las.
Os ventos traziam notas musicais, poemas soprados com cuidado em uma língua esquecida.
Ela corria o quanto podia, tentando sair de lá a qualquer custo. Como nadar contra a maré, seus esforços pareciam drená-la cada vez mais afundando-a mais e mais nas sombras daquela floresta.
Ela caiu de joelhos. Odiava-se ao ver as lágrimas caindo.
Era só mais um sonho. A mais real alusão à sua vida.
Ela já tinha sonhado com esse lugar outras vezes. Essa floresta há muito havia se tornado seu refúgio inconsciente. O lugar onde ela guardava suas dores. O único lugar onde ela poderia se entregar a eles e por eles ser consumida.
Uma aranha vinha em sua direção vagando lenta e cautelosamente por entre as árvores secas. Era a representação de seus medos e frustrações.
Lembrava que quando a criou pela primeira vez, ela era apenas um filhote. Mas agora, longe de ser dócil, era gigantesca e vil e partia em sua direção como o karma que cobra seu preço, sua cria tinha fome e a desejava mais que qualquer coisa.
Ao seu lado, uma sombra. Um jovem que sorriu para ela e em seguida uma forte luz tomou todo o lugar até que ela não pudesse ver mais nada.
Manaus, 10 de junho de 2017
Sam estava na fila de uma loja de conveniência. Era tarde. Passava das vinte e três e haviam várias pessoas no estacionamento bebendo e dançando em suas versões medíocres de liberdade assistida.
– Patético – Suspirou ao ver aquela cena pelo lado de dentro da loja.
Mas à sua frente uma cena mais patética tomava sua atenção: um bombado acéfalo com tatuagens verdes com a intenção de ser uma tribal que preenchia os ombros daquelas que fazem na Praça do Congresso, mas que ele pagou dez vezes mais em um estúdio de higiene igualmente duvidosa vestindo um tururi do “Cala a Boca e Beija Logo” de 2009 e com sua suposta namorada a tiracolo.
Era literalmente a tiracolo: Ela agarrava o pescoço dele como se sua vida (ou sua carência emocional) dependesse disso enquanto tentava forçar sorrisos com uma maquiagem pesada. Usava um strappy top preto com um short jeans que ressaltava suas curvas (todas elas) e um sapato com o maior salto já criado pelo homem.
Mas não era o fator moda que a incomodava. Mas a evidente dependência emocional da moça supracitada.
Em muitas partes da conversa que Sam evitava escutar, o acumulado de músculos tratava sua companhia sempre com grosseria. Usando argumentos para diminuí-la sempre que podia.
E a garota apenas disfarçava para não chamar atenção ou simplesmente porque sabia que manter um diálogo apenas pioraria tudo.
Em certo momento, o brutamonte foi até o carro. Havia esquecido o cartão e nesse momento a sua companhia estava sozinha e olhava ao redor envergonhada com receio que alguém tivesse escutado a conversa deles até que viu a Sam.
– Adorei seu cabelo! – a garota tentou disfarçar.
– Obrigada. – Sam não sabia como reagir. Queria dizer tanta coisa pra ela.
– É lilás, não é?
– Sim… escuta… eu sei que não é da minha conta… mas você não precisa de um cara como ele. Você é bonita e vejo em seus olhos que tem um bom coração – O namorado dela se aproximava – você sabe que não precisa disso.
– Sim, eu sei. – o rosto dela mostrou uma profunda tristeza por dois segundos.
Ele voltou e se aproximou dela, que prontamente o abraçou como costumava, sorrindo e tentando agradá-lo com elogios.
Sam tentava engolir a frustração de ver algo horrível diante dos seus olhos e não poder fazer nada.
– Aceitamos o amor que achamos merecer – Tentou se consolar com a frase de As Vantagens de Ser Invisível. Pagou a carteira de carteira de cigarros e foi embora dali o mais rápido que podia.
Dirigia para o Limerick Pub para encontrar alguns amigos quando decidiu pegar um atalho por uma daquelas ruas próximas à Universidade Nilton Lins que acreditava chegar mais rápido. Mas não demorou a perceber que estava totalmente enganada.
Sam havia entrado em uma rua sem saída, escura e deserta. Era uma parte totalmente diferente daquele conjunto cheio de casas e condomínios bonitos, bem cuidados e aparentemente caros. Havia poucas casas e muito mato ao seu redor.
Ao iniciar a tentativa de retornar com o carro viu um homem vestindo apenas uma bermuda e aparentemente drogado vindo desconsertadamente em sua direção.
Deu ré o máximo que pôde tentando sair daquela rua, mas bateu em um grande tronco que colocaram no momento que ela passou. As rodas traseiras passaram, mas o tronco impedia que saísse do lugar.
Ela olhou pelo retrovisor e viu mais dois homens igualmente alterados. Desceu. Só restava correr para o matagal à sua direita. Mas ao se aproximar, hesitou. Viu uma mão sair da escuridão.
– Pegue minha mão se quiser viver – Disse uma voz masculina suave em inglês. E essa pareceu a melhor alternativa que tinha. Tocou a mão dele.
Em algum lugar da Floresta Mahthildis, Velha Lemuria
– Acorde Jovem! Acorde! – Uma voz estridente tentava acordar Sam.
– Quem está falando? – ela perguntou ao acordar.
– É melhor limpar seus olhos, se quiser enxergar melhor – Um corvo respondeu.
– Um corvo dando conselhos?
– Na verdade eu era um ser de luz, mas muita coisa mudou nos últimos tempos.
Sam levantou e viu que estava em um banco de pedra. Havia outros bancos e um muro em ruínas com arcos de onde voavam alguns pássaros. No centro havia uma fonte que jorrava água. Tudo estava em ruínas e tomado pela vegetação local. Pelos arcos viu que estava cercada por uma floresta escura. Ela procurou o rapaz que a salvou, mas estava apenas ela e o corvo.
– Você não viu ninguém comigo? Um humano? – Ela perguntou ao corvo.
– Não. Quando cheguei aqui só vi você. Os pássaros me avisaram da sua chegada. Você parece ter uma relação muito próxima com esse lugar.
– Eu? Mas eu nem sou daqui! Nunca estive aqui antes! Falando nisso… Onde eu estou exatamente?
– Você está na Floresta Mahthildis na Velha Lemuria.
– Velha Lemuria? Pera… Esse nome… Eu conheço esse lugar… Mas não consigo me lembrar.
– Talvez você deva tentar lembrar em um outro momento. Temos companhia! – o corvo estava preocupado.
À frente deles, aranhas começavam a surgir das ruínas. Tinham a altura da Sam e no início surgiram cinco, mas em poucos segundos surgiram mais sete delas e o número só aumentava.
– Precisamos fugir! – Sam preparava-se para correr.
– Não vai adiantar! Elas são rápidas! Não daríamos muitos passos antes que fôssemos cercados. – O corvo não trazia boas notícias.
– Mas como vamos enfrentá-las? Eu não tenho nenhuma arma!
As aranhas se aproximavam cada vez mais.
– Vamos? Você se refere a nós dois? Moça, eu sou apenas um corvo. Eu não luto. Posso pegar umas frutas reluzentes pra você se isso ajudar.
– Frutas? Meu deus! Eu tô perdida!
Quando as aranhas estavam a poucos metros deles, uma voz cortou o silêncio:
– Expecto Patronum! – a mesma voz que a estendeu a mão lançou o feitiço que liberou uma luz extremamente brilhante passando por eles e desintegrando todas as aranhas ali presentes.
Quando o feitiço terminou seu efeito, Sam e o corvo viram um rapaz de seus vinte anos com cabelos castanhos claros e roupas europeias do século XIX com uma varinha em sua mão.
– Venha, Moça! Você precisa vir comigo! Aqui não é seguro. Vamos! Mais aranhas irão aparecer em breve.
Sam e o corvo o seguiram a passos rápidos.
– Foi você quem me salvou, não foi? Naquela rua. Foi você quem me estendeu a mão!
– Sim. Fui eu.
– E porque você não estava aqui quando acordei?
– Alguma coisa interferiu no meu feitiço de Desaparatar. Nunca foi minha intenção trazê-la para cá! Mas você tem alguma conexão muito íntima com esse lugar. E acabamos sendo trazidos pra cá e lançados para pontos distantes um do outro.
– E você já esteve aqui antes?
– Uma vez.
– E pra onde estamos indo?
– Encontrar sua espada.
– Minha espada? Estou gostando disso. Mas eu não sei seu nome…
– Dumbledore! Alvo Dumbledore!
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