Após uma primeira temporada aclamadíssima por crítica e público e a iminência de uma segunda entregue a uma equipe de direção inteiramente feminina, é realmente confuso o fato de que as redes sociais não fervilharem com o retorno de Jessica Jones. Talvez, após sete títulos lançados pela Netflix (e nem todos assistíveis), o público realmente esteja cansando do formato que o serviço de streaming deu ao seu microuniverso de super-heróis urbanos, mas garanto que há muito na segunda vinda de nossa Defensora favorita para apreciar.
Desta vez, enquanto lida com o sangue em suas mãos, Jones (Krysten Ritter) acaba envolvida no mistério que ronda seu passado pré-Killgrave (David Tennant), e acaba descobrindo um esquema que tem se perpetuado por décadas, produzindo super-humanos bem menos estáveis que Jessica. O arco principal da heroína está muito focado na raiz de seus poderes, e de uma forma bastante particular, consegue ser bem mais íntima do que o desenvolvimento da personagem na temporada passada.
Contudo, enquanto o arco principal merece aplausos pelo holofote em uma Jessica mais à flor da pele, mais suscetível ao preconceito que a comunidade super-humana vem sofrendo devido aos Acordos de Sokóvia (um p**a conceito que poderiam ter desenvolvido melhor) a temporada como um todo perde o foco que tinha sua antecessora, o que pode ser bom na medida que desenvolve brilhantemente seus personagens secundários, mas também corre o sério risco de cair no território da telenovela. Quanto a esta observação, é realmente estranho que a Netflix ainda não tenha se preocupado em rever a quantidade de episódios de suas Marvel-séries, que, na tentativa de se levarem a sério com a complexidade de suas personagens, acabam fluindo em um ritmo muito devagar, e embora a intenção seja boa, acaba não prendendo o espectador (presumivelmente fã da heroína) em 100% das vezes.
O que não tira o mérito da série em dar um show de atuação e trabalho com personagens além de Jessica Jones. Trish Walker (Rachael Taylor), a fiel parceira de Jones, assume uma função vital e controversa para o desfecho da temporada, Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) é simplesmente brilhante no que apresenta em seu arco, e a vilã vivida por Janet McTeer é aterrorizante, embora sua apresentação e desenvolvimento não sejam tão bem definidos quanto à obra de arte que foi o confronto com Killgrave.
A temporada é sábia em deixar muito do que aconteceu em Defensores de lado em favor de priorizar os novos conflitos de Jones, e mesmo que careça de uma ameaça tão perturbadora quanto os jogos mentais de Killgrave, a segunda temporada nos apresenta um dos momentos mais trágicos das Marvel-séries (e, me arrisco dizer, do Universo Cinematográfico Marvel inteiro), e tudo isso mérito de uma narrativa que se é mais lenta do que sua antecessora, constrói seus personagens e dramas de forma tão cuidadosa que o sentimento que nos oferece ao fim é merecido, bem ao estilo das tragédias gregas.
É, as séries de herói da Netflix definitivamente precisam ser mais econômicas em termos de duração, mas Jessica Jones ainda consegue se destacar entre elas, e com uma possibilidade de abordar o lado mais “super-heróico” da personagem, podemos aguardar uma terceira temporada mais entusiasmada que esta.