Olá, caros leitores! Me chamo Luiz Andrade e vocês me verão todas as quartas por aqui, publicando na coluna “Papo em Quadros”, onde pretendo trazer discussões acerca do mercado de quadrinhos em seus mais variados âmbitos e aspectos, além de reviews de obras da nona arte que surgirem na minha prateleira.
Agora que estamos apresentados (ao menos virtualmente), vamos tratar do assunto de hoje, aliás, do ÚNICO assunto do momento: coronavírus.
Desde que a pandemia do novo coronavírus se estabeleceu, o impacto na cultura pop se tornou visível e modificou os planos dos grandes players do mercado. Filmes e séries tiveram suas estreias canceladas, ou mesmo suas gravações interrompidas, assim como jogos, eventos e tudo o que está envolvido com a indústria do entretenimento. Não poderia ser diferente com os quadrinhos.
No cenário internacional a Diamond, principal distribuidora de quadrinhos dos EUA, paralisou suas atividades e os pagamentos às editoras, gerando um grande burburinho e até especulações sobre o fim do mercado direto, a distribuição nas bancas, como vem ocorrendo aqui, no Brasil. Logo depois a DC anunciou que deixaria de trabalhar com a Diamond e retirou seus títulos da distribuidora. A San Diego Comic-Con anunciou que o tradicional evento seria mantido, mas em uma versão on-line, a San Diego Comic-Con At Home, no ano em que a feira comemora 50 anos. Outros eventos internacionais seguiram sendo cancelados ou adiados, como a Emerald City Comic Con de Washington.
Cancelamentos e reinvenções
No Brasil, o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), que acontece em Belo Horizonte (MG) a cada dois anos, adiou sua edição e anunciou um evento on-line com palestras, entrevistas e uma série de outras atividades. A edição presencial do evento ainda não tem nova data definida.
Na onda dos eventos não presenciais, a editora Guará e seu editor-chefe, Rapha Pinheiro, organizaram o QuarentenaCon. O evento ocorreu nos dias 30 e 31 de maio (fim de semana que seria do FIQ) e reuniu diversas mesas sobre temas relevantes para o cenário nacional, além de lives de desenho e uma espécie de Artist’s Alley on-line, a “Rodada dos independentes”, na qual se liam releases de quadrinhos recentes e suas informações de compra, enquanto suas capas eram exibidas na tela do Youtube, plataforma que sediou a iniciativa.
Cenas dos próximos capítulos
Vale aqui um exercício de futurologia. Assim como toda área do convívio em sociedade se prepara para um mundo pós-pandemia e para a possibilidade real de entrarmos em quarentena novamente, o mercado de quadrinhos e a indústria do entretenimento precisam se reinventar.
O mercado livreiro, que já estava em crise, precisará encontrar uma saída e, entre outras coisas, não agir mais com displicência com relação ao conteúdo digital, os e-books. Os eventos terão que aplicar uma série de mudanças que devem influenciar tanto nos layouts das feiras como nas instruções para convidados e parceiros, pelo menos num primeiro momento. Os independentes precisarão investir mais em plataformas de venda on-line ou nas redes sociais, já que os eventos são uma das bases do nosso frágil cenário nacional.
Mas as consequências disso são ainda desconhecidas. O mais provável é que todo o cenário independente enfrente uma queda na produção e as editoras, queda nas vendas, que deverão retornar lentamente ao patamar anterior, conforme o cenário se normalizar. Ainda assim, muitas coisas serão diferentes após esse retorno.
Enquanto os meses passam e a pandemia avança, o público brasileiro ainda não sabe se os eventos adiados retornam em 2021 ou se arriscam no segundo semestre, e se outros que ainda estão por vir, serão também cancelados ou adiados. É o caso da ComicCon Experience.
A CCXP já é maior evento de cultura pop do mundo e sua próxima edição está prevista para ocorrer nos dias 3, 4. 5 e 6 de dezembro, em São Paulo. O evento já virou tradição entre os produtores independentes do cenário, que aproveitam a grande vitrine que é o Artist’s Alley para lançarem suas obras. A produção da CCXP ainda não se manifestou sobre o evento, mas um dos organizadores, Ivan Freitas, já respondeu várias pessoas nas redes sociais, afirmando que a feira não será cancelada.
De qualquer forma, o momento é de incertezas e apenas o tempo e as nossas ações com relação à doença poderão mostrar como será o mundo depois da pandemia. Mas é certo que temos muitas ferramentas que podem ajudar a nos adaptarmos à nova dinâmica dos eventos e das relações de mercado, tanto no mainstream quanto no independente. O grande entrave para essas mudanças poderá ficar por conta da falta de bom senso, educação e do apreço pela ciência que tanto marcaram esse período nebuloso.
Até o próximo papo!