Não é de hoje que o público LGBT vem conquistando cada vez mais espaço – e isso graças a muita luta e uma onda de aceitação geral na sociedade. Parando pra pensar, a gente nem precisa ir muito longe para perceber grandes mudanças.
Estamos vendo cada vez mais a sigla LGBT por aí: seja em uma notícia no jornal, uma mulher trans em novelas, um cantor famoso que se assume ou até mesmo a sua prima saindo do armário no almoço de domingo. Isso é ótimo? Sim, é adeus armário e “olá-mundo-você-tem-que-nos-aceitar”. Mas como uma sociedade se adequa a um público que até estava no escuro e bem quietinho?
Não demorou para que o capitalismo percebesse que o público LGBT gasta. E muito. De acordo com a Community Marketing Inc., movimentamos nada mais nada menos que 3 TRILHÕES de dólares ao ano. Temos menos filhos, viajamos mais, nos vestimos melhor, enfim. Esse é o chamado pink money, expressão que faz referência à cor rosa e bem viadona.
Agora sabendo disso: que empresa não adoraria abocanhar uma parcela desses trilhõezinhos, né? Temos vibrado cada vez mais com representatividade LGBT em nossos filmes, séries, comerciais de perfume e até mesmo novelas globais. Mas e aí? Aonde entra a ideologia e onde entra o oportunismo?
Antes de mais nada, é importante saber que ninguém pode dar essa resposta com muita certeza – isso seria prepotente e até mesmo imprudente. Até porque não é possível ditar isso. Estamos falando de sociedade e comunicação, duas coisas com muitas camadas, contextos, símbolos e significados. O que fazemos é exercitar o pensamento crítico sempre que possível, como agora.
Cada vez mais vemos personagens LGBT na telona, mas como eles estão realmente sendo representados?
As notícias pipocam antes mesmo da estreia do filme: “o personagem Sulu de Star Trek vai ser abertamente gay”, “a pansexualidade de Deadpool vai ser abordada”, “Power Rangers terá personagem lésbica”.
Ao comprar o ingresso e permanecer sentados por duas horas, o que temos, porém, é um abraço comedido, uma piadinha de duplo sentido ou somente uma menção deixada no ar. Que decepção. Isso quando não são os estereótipos de amigo gay da mocinha ou vizinho gostosão que ela usa pra fazer ciúmes no protagonista.
Existem vários problemas a serem analisados aqui, mas acho que o principal é a falta de representatividade por trás das câmeras. Não podemos esperar representatividade fiel e justa quando, na verdade, a maioria dos produtores e diretores de Hollywood são homens brancos e heterossexuais.
Além disso, temos que ter a consciência de que isso não depende exclusivamente de quem faz os filmes, mas também de quem os patrocina.
John Cho, ator que fez Sulu em “Star Trek Beyond”, conta que chegou a gravar uma cena em que beija seu marido ao voltar de viagem. A cena, infelizmente, foi cortada na pós-produção do filme e isso por pura pressão do estúdio e distribuidores da franquia. Kate McKinnon, do elenco principal do reboot de “Caça-Fantasmas” também afirma que a sexualidade da sua personagem foi neutralizada no filme.
A verdade é que ainda pisam muito em ovos quando se trata de representar LGBTs no cinema, mesmo com uma geração que aceita mais abertamente a sexualidade do que nossos pais. E o problema não é o pudor, já que é tão comum ver cenas de sexo entre casais heterossexuais na telona – às vezes não tão explícita, mas os seios da mulher parecem ser obrigatórios.
E o que podemos fazer quanto a isso?
Pressão nas redes sociais e publicamente funcionam, sim. Sempre que pudermos, falar, criticar e enaltecer quando for o caso. Não temos o poder de mandar nos diretores e estúdios, mas somos audiência, somos público. E enquanto público, temos nosso poder de consumidor em mãos.
Como tudo na sociedade em que vivemos, o cinema continua sendo uma indústria e a indústria continua visando o lucro. Mas não podemos dar nosso dinheiro rosa e bater palmas falando “cortaram o beijo do Sulu, mas pelo menos a gente sabe que ele é gay”.