Quando alguém me pede recomendação de alguma série, esta com certeza é a primeira que dou.
Quando estreou lá por 2014, produzida pelo canal Showtime e exibida no Brasil pela HBO, a trama estranha que mencionava vampiros e demônios me pareceu um tanto desinteressante (ainda estávamos naquela maré sobrenatural que se desgastou com o lançamento da franquia Crepúsculo e derivados), mas quando vi que era Eva Green a protagonista, criei disposição para dar uma chance.
John Logan e Sam Mendes (007 – Skyfall) são os cabeças da série, que em seu primeiro episódio apresenta uma trama bem simples que logo se entrega como uma esteticamente bem sucedida adaptação de Drácula de Bram Stocker, mas é no segundo episódio que a coisa toda realmente se mostra interessante, mostrando que valeu a pena confiar em Eva Green (O lar das crianças peculiares) como a dona da p***a toda.
Conforme vamos nos situando nesta sombria e erótica versão da Inglaterra vitoriana, percebemos que não só de vampiros o inferno é feito: personagens famosos de histórias clássicas como Frankenstein, de Mary Shelley, O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde, e O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson, fazem parte de um enredo muito bem montado, que ao longo de somente três temporadas se mostra como um desfile de performances poderosas e uma direção de arte que beira o impecável.
O elenco conta ainda com Josh Hartnett (Pearl Harbor), Billie Piper (Doctor Who), Rory Kinnear (O jogo da imitação) e Reeve Carney (remake de The Rocky Horror Picture Show), que, além de darem atuações dignas de uma carreira inteira, encarregam-se de acompanhar a médium Vanessa Ives (Green) em sua batalha eterna contra as forças do submundo, em uma espécie de Liga Extraordinária que deu muito certo. Um dos verdadeiros triunfos da série é retratar as consequências de tal luta para cada um dos personagens, todos vítimas do inferno que criam para si mesmos.
Com um total de 27 episódios, a série começou e terminou como uma obra extremamente única em sua abordagem do terror sobrenatural, evocando o drama e a delicadeza que permeiam tanto o contato com o outro lado da vida quanto o beco mais escuro do coração humano. Na melhor das descrições, é uma experiência que fere, e é impossível prová-la sem que deixe marcas.
As três temporadas já estão disponíveis na Netflix.