Prestar vestibular? Muitos sacrifícios e estudos. Entrar na faculdade? Ovada na cabeça. Passar em todos os semestres sem reprovar? Teste de sobrevivência. Escrever um trabalho de conclusão de curso puramente nerd? Não tem preço!E
Foi em agosto de 2017, no último semestre do curso de publicidade e propaganda, que se iniciou a caminhada, minha e do Osvaldo. Enquanto a maioria do pessoal da nossa sala já tinham seus objetos de estudo, nós dois estávamos perdidos em escolher um tema para começar o TCC. Tudo conspirou contra nós naquele ano (guarde estas palavras), o calendário acadêmico da Estácio – FAP foi adiantado e nós tínhamos apenas 3 meses para elaborar um artigo científico. Eu lembro que muitas pessoas disseram que o TCC era um Thanos (risos) e que nós dois, talvez, não conseguiríamos terminar a tempo.
“A gente estava merendando quando a Polly me perguntou como foi que Jaspion foi parar na TV brasileira e então a gente olhou um para cara do outro e parece que achamos nosso objeto de estudo.”, Osvaldo relembra.
O orientador diferentão
Quando escrevemos nosso tema e levamos na coordenação para escolherem o nosso orientador, eu esperava que o Dickson, um professor muito querido por nós, fosse nosso orientador, principalmente por ser um nerd nato. Mas quando teve a primeira reunião, apareceu um tal de Rui. Alto, bem vestido, barba feita e super na moda… Moda… Ele era professor de moda, não de comunicação social.
Ficamos tão perplexos com a situação e com o jeito dele falar, que foi preciso segurar a risada a reunião inteira. “Por que o nosso orientador é um professor de moda?!”. Bem, as aparências enganam, não é mesmo? Ele havia escolhido nosso tema por que também é um nerd de carteirinha e nós dois mordemos a língua, por que ele foi o melhor orientador que alguém poderia ter. Enquanto o pessoal da nossa sala só reclamava dos orientadores deles, a gente se dava bem com o nosso.
Ele tinha gostado da idéia, só que achava que faltava um aprofundamento do tema, algo que unisse o emocional e a comunicação, que era nossa área de graduação. Foi então que nós dois fizemos uma pesquisa e chegamos a conclusão de que iríamos falar sobre por que os heróis japoneses que a gente tanto gosta viraram heróis brasileiros, parte de nós.
Algumas pessoas fizeram chacota por causa do assunto abordado e, embora fosse sobre heróis japoneses, o TCC também tinha uma base teórica totalmente antropológica, com livros de difícil entendimento e que foram reescritos para a linguagem publicitária, o que foi muito complexo. Alguns livros eu não conseguia em lugar nenhum, tive que pegar o PFD e traduzir do espanhol.
“Amizade, coragem, pastel e Lamén. Estes foram os ingredientes para criar o artigo perfeito. Mas os estudantes, obrigatoriamente, acrescentaram um ingrediente extra na mistura: As regras da ABNT!
E assim nasceu o artigo: Heróis Nipo – Brasileiros? Hibridismo cultural e a influência da comunicação.”
Elevando o cosmo no coração
Na hora da pesquisa de campo, foi difícil conseguir informação para elaborar o artigo, pois na época em que as obras foram exibidas, final da década de 80 e início da década de 90, muitas revistinhas não chegavam no Pará e muitas notícias não saíam no jornal, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo. Eu e meu amigo passávamos horas e horas no Centur (Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves) e na Casa das Letras, que são acervos históricos, analisando jornal por jornal, desde de 1986 até 1994, em busca de algum conteúdo sobre os Tokusatsus e animes. E as raríssimas informações que encontrávamos se resumiam a brinquedos, fãs entrevistados e lembranças da extinta TV Manchete, mas provava que Jaspion, de fato, foi uma febre em Belém, assim como o anime Cavaleiros do Zodíaco.
“Já havia séries Tokusatsus e animes no Brasil, mas nenhum deles fez tanto sucesso quanto Jaspion e Cavaleiros do Zodíaco, por isso, nós nos concentramos neles. Até por que, no final dos anos 80, a gente já tinha uma comunicação melhor, o mercado estava começando a se voltar para esse público. Tanto que no Youtube tem comerciais de figurinhas e bonecos. Esses dois foram um sucesso tão grande que até hoje o pessoal faz novas séries e brinquedos baseados neles.”
Defendemos o trabalho de conclusão no final de novembro de 2017. Me lembro como se fosse hoje: foi um dia bem corrido, minhas mãos estavam suadas e, quando chegou a nossa vez, não tinha caixa de som disponível para a nossa banca. “E agora? Como a gente vai passar os comerciais e as aberturas?”.
Não pensei duas vezes, fui narrando cada comercial para os avaliadores entenderem e o pessoal que estava na sala ficou rindo por que não esperavam isso. Mas o final foi a coisa mais doida que eu tinha feito nesse dia e eu surpreendi o pessoal da banca (meu orientador quase chorou): eu cantei um trecho da abertura do Yuyu Hakusho. “Eu fico louco, mas um sorriso me faz entender, saber por que, alguém que esquece a dor e encontra no amor a força pra poder dizer, Arigatou gozaimasu!” Bem, é obrigado em Japonês. Todo mundo bateu palma e eu suspirei de alívio. Levamos a nota máxima pra casa.
Por isso, se você vai fazer um TCC com um tema diferente e as pessoas ficarem falando, deixe que falem. Ninguém saberá, mais do que você, conduzir um artigo como esse. Não é fácil escrever um assunto legal com um monte de regra da ABNT, esses dois parecem que não se misturam. Esse é o desafio. Escrever sobre um assunto inusitado e fazer dele ciência. É, porque esses desenhos nos deram muitos significados para a vida, pelo menos para mim. Então vai em frente e nunca desista!