Olá, caros leitores! Vocês costumam ver vídeos de resenhas de quadrinhos? Querem saber um pouquinho mais daquela HQ antes de comprar? E acompanhar a sua editora preferida em vídeos semanais?
No texto de hoje faremos uma pequena reflexão sobre o papel que a plataforma de vídeos, YouTube, vem desempenhando no cenário de quadrinhos nacional.
Surgida em 2005, a plataforma basicamente moldou a forma como assistimos vídeos e consumimos conteúdo, uma vez que ela se popularizou no mesmo período que a internet ganhava mais força. Agora, totalmente estabelecido, o YouTube é utilizado por uma quantidade absurda de criadores de conteúdo, nos mais diversos campos. Com quadrinhos não seria diferente.
Há canais de conteúdo nerd em geral, canais de resenhas de quadrinhos (alguns especializados apenas em gêneros ou estilos, como o mangá), canais de editoras e de produtores independentes. Esses canais abrigam diferentes fatias do público consumidor e podem variar entre algumas dezenas de milhares e até alguns milhões.
O produtor de quadrinhos, professor e também editor, Rapha Pinheiro, começou um tímido canal em 2017 falando, entre outras coisas, de sua experiência em Angoulême, na França, durante um curso de quadrinhos. Hoje são mais de 17 mil inscritos. Aproveitando a fanbase, Rapha desenvolveu cursos online e contou com a ajuda da sua comunidade para financiar a produção do quadrinho “Salto” pelo Catarse. Além de analisar quadrinhos, dar dicas para novos quadrinistas e falar dos seus projetos, agora Rapha também atualiza os inscritos sobre as produções da editora Guará, onde ele é editor.
A editora Pipoca & Nanquim também tem um histórico na plataforma. Quando começou era um programa da TV universitária de Araraquara, interior de São Paulo. Com o tempo eles entraram no YouTube, onde conseguiram firmar uma base de seguidores. Os três editores e sócios, Daniel Lopes, Bruno Zago e Alexandre Callari, ganharam experiência no mercado editorial e em 2017 resolveram abrir a editora. O diferencial da PN é como a criação de conteúdo para o Youtube se relaciona com os lançamentos da editora, mobilizando e informando o público sobre tudo o que é lançado.
Outras editoras, como a JBC, a Devir e a Conrad, também migraram para a plataforma, numa tentativa de se aproximar de seus leitores.
É fato que o YouTube movimenta uma parte considerável do público consumidor de quadrinhos e os seus variados no país. O público sempre esteve faminto por ser ouvido e por conhecer melhor o processo (quem sabe até influenciá-lo?) e isso vem sendo aprendido pelo mercado. É claro, liberdade até certo ponto. O consumidor médio não conhece (e nem precisa) todos os pontos do processo editorial, e isso pode gerar cobranças sem fundamentos e frustrações. É uma faca de dois gumes, mas as vantagens continuam atraindo os players do mercado.
O modelo de negócio e de marketing da Pipoca & Nanquim é um sucesso, mas tem um fator importante: a Amazon. Com as vendas exclusivas para a gigante do mercado e para pequenas comic shops, a editora conseguiu até mesmo se distanciar da crise causada pela pandemia de COVID-19, mantendo seus lançamentos e bons números nas pré-vendas.
Além disso, os youtubers que resenham as obras publicadas desempenham um papel importante na divulgação desses títulos. Os vídeos funcionam como canal de dicas, dúvidas e também bastante reclamação, mas eles têm sido alimentados pelas editoras, que enviam seu material, buscando a proximidade da qual já falei. É uma relação de simbiose interessante, mas que precisa ser administrada com cuidado.
Com a popularização da plataforma, muitos leitores criaram canais com a intenção de realizar resenhas. A quantidade de críticos de quadrinhos é gigantesca, mas ainda peca na qualidade. Muitos não estão dispostos a criar conteúdo sem nada em troca ou não buscam se especializar (lendo resenhas de escritores consagrados no meio e adotando as boas práticas, por exemplo). Sei que é um assunto complicado, cobrar profissionalização de quem nem recebe por isso, mas os produtores de conteúdo que ganham destaque neste meio demonstram como isso é necessário, especialmente em nosso cenário em desenvolvimento.
De qualquer forma, julgo ser benéfica a prática, desde que bem administrada pelas editoras e seus parceiros. Os autores também possuem papel essencial aqui, mas isso eu exploro em outro texto.
Até a próxima!