Não é incomum pegar ônibus em um sábado qualquer em Manaus City e topar com o Seiya de Pégaso ou com alguém da Vila da Folha, uma vez que a prática do cosplay por aqui já não é algo tão inédito assim.
Eventos como o Anime Jungle Party e a Feira Norte do Estudante têm servido de plataforma para uma gama de profissionais que unem artes plásticas e performance, a exemplo de Tia Sol, 50 anos, uma respeitada cosplayer que segue quebrando o tabu de que a atividade serve somente aos jovens, e Vitor Gusmão, membro do grupo EXtreme Cosplayers Manaus conhecido por seu estilo cartunesco, cujo catálogo inclui personagens como o Príncipe Ali de Alladin (1992), Kenai de Irmão Urso (2003) e Kuzco de A Nova onda do Imperador (2000).
O jovem de 21 anos não é nenhum novato nesse cenário, e seu progresso ao longo do tempo não se vê livre de autoconsciência: “Há bons cosplayers aqui, estamos todos em processo de constante evolução. Desde que comecei, há 2 anos, pude observar que tanto eu quanto vários amigos meus que também praticam vieram evoluindo consideravelmente junto comigo, confesso que até fico orgulhoso de ver todos nós crescendo juntos no hobby”.
Gusmão como Kenai, de Irmão Urso
Embora use a palavra hobby para descrever o cosplay, Gusmão deixa claro o diferencial que a prática teve em sua vida profissional: “[…] por conta do cosplay, escolhi cursar Administração, pois enquanto preparamos algo novo temos que cuidar detalhadamente do conceito e pôr em prática o planejamento, a organização, entre outras coisas até a execução do mesmo”.
Vivendo em uma cidade ainda orientada por costumes tradicionais, Gusmão reconhece o preconceito que cerca sua arte, a insistência local em desmerecer o cosplay apesar de sua emergência em nosso circuito cultural, mas é enfático em dizer o que o levou a assumir tal prática como uma atividade de resistência:
“Tive depressão por muito tempo e, durante o tratamento, pensei por que não fazer né [o cosplay]? Já queria fazer há muito tempo e só com 19 anos pude começar. Confesso que no começo foi um pouco complicado, pois não tinha ajuda de ninguém, porém ignorei certos comentários e continuei fazendo e procurando me aprimorar cada vez mais. Foi a partir do cosplay que passei a não ligar tanto pra opinião dos demais e fazer as coisas que tenho vontade, se não fosse por isso eu nem estaria aqui respondendo essas perguntas, por exemplo”.
Gusmão como Príncipe Ali, de Alladin
Os relatos de artistas como Gusmão são semelhantes no que diz respeito ao empoderamento resultante do cosplay, e é no mínimo animador que adicione mais um item à efervescente agitação cultural que livra Manaus do marasmo. E você, faz cosplay? Tem alguma história para contar? Deixa aí nos comentários.