De Jorge Amado a Harry Potter, Biblioteca conta com audiolivros, livros em braile e até filmes com audiodescrição

Você sabia que a Biblioteca Braille do Estado do Amazonas está classificada entre as três bibliotecas com o maior acervo para deficientes visuais no Brasil? E neste ano de 2017 ela vai atingir a sua maturidade, completando 18 anos de funcionamento. Uma história que reúne muito trabalho, solidariedade, prêmios e claro, livros.


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História e objetivo

A Biblioteca Braille foi fundada em 8 de novembro de 1999 pelo secretário de Cultura do Amazonas Robério Braga e funcionava na parte debaixo da Biblioteca Pública do Amazonas, ficando lá até 2007 quando mudou para o “Bloco C” do Centro de Convenções de Manaus (Sambódromo) e onde está localizada até hoje.

Gerente da Biblioteca há quase 17 anos, Gilson Mauro Pereira explicou que o objetivo principal do espaço é a inclusão. “Buscamos integrar e incluir a pessoa com deficiência visual no meio social, levando cultura, educação, lazer e acessibilidade”, contou.

Um dos maiores acervos do país

O local possui um acervo de dar inveja: quatro mil livros falados; possui ainda disponíveis livros em braille, digitalizados, com letra aumentada, além de filmes com audiodescrição. Não é de estranhar que a Biblioteca tenha sido classificada como uma das três maiores em acervo no país.

“Temos muitas obras disponíveis, como a coleção clássicos, com João e Maria, Cinderela, toda a coleção do Monteiro Lobato, do Jorge Amado, muitos livros de Paulo Coelho, além de vários livros de escritores portugueses, americanos, franceses e até russos como de Dostoievski”, contou Gilson Mauro. “Possuímos também coleções mais atuais como Harry Potter, 50 tons de Cinza, toda coleção de Crepúsculo e Diário de um Banana”, revelou.  

Nota do repórter: O braille é uma fonte grande, então o último livro do Harry Potter (As Relíquias da Morte) é dividido em 16 LIVROS. Imaginem a quantidade de livros que deve ter Game of Thrones em braille.

Solidariedade entre bibliotecas

Com tantos livros disponíveis sempre surgem obras parecidas devido as doações que a Biblioteca recebe e é nesse momento que surge a solidariedade. “Nós recebemos muitas doações de fora e aquilo que é repetido e aquilo que uma outra biblioteca não tenha e aqui tenha, nós enviamos para eles. Enviamos bastante também para outras instituições”, disse Gilson Mauro.

A Biblioteca Braille oferta livros para municípios do Amazonas e de outros estados. “No interior, doamos para Careiro da Várzea, Nova Olinda, Presidente Figueiredo, Itacoatiara e Parintins. Em outros estados, enviamos para Ceará, Acre, Espírito Santo, Tocantins, Rondônia e vamos entrar agora em Goiás e Minas Gerais”, revelou.

O local tem ainda parceria com instituições de renome, como a Fundação Dorina Nowill de São Paulo. “Essa instituição foi fundada em 1941 e desde a sua criação tem como objetivo ajudar os deficientes visuais, sendo parceira de todas as bibliotecas do Brasil, todas as escolas do Brasil e ela foi nossa primeira parceira”, falou. “99% dos nossos livros são doados pela Dorina Nowill”, completou.

Outras parceiras da Biblioteca são o IBC do Rio de Janeiro, a Audioteca Sal & Luz também do Rio do Janeiro e a Secretaria de Cultura, que compra muitos livros e produções próprias.

Fazendo seus próprios livros

A Biblioteca produz também o seu próprio material graças a um estúdio particular onde grava livros falados, produz livros, cardápios e revistas em braille com impressoras especiais e ainda fabricam livros digitais que são automaticamente lidos graças ao scanner com voz.

 Na foto à direita, o gerente da Biblioteca Braille, Gilson Mauro, dentro do estúdio.

O estúdio de gravação da Biblioteca está adaptado para fazer livros com vozes sintetizadas ou humanas. “A voz sintetizada é como a voz do Google, é uma pessoa que digita o que será dito. No encerramento das paralimpíadas foi usado esse recurso nos telões. Aquilo é uma voz sintetizada chamada ‘Voz da Valquíria’”, contou Gilson Mauro. “Nós temos 281 vozes cadastradas”, completou. As vozes humanas na leitura são sem emoção, mas com uma leitura bem pontuada, deixando a dramatização para os ouvintes.

Espaço para Autores Amazonenses

A Biblioteca, desde a sua inauguração, dá muito valor ao autor amazonense e por isso criou o projeto “Sonoridade Amazonense”. “Neste projeto o escritor vem aqui, apresenta a obra, grava a obra na voz dele, editamos, ficamos com uma cópia e damos o restante para ele”, explicou Gilson Mauro.

“Nós temos gravado aqui Mário Ipiranga, Márcio Souza, Milton Hatoum, que está na televisão com a série Dois Irmãos. Temos toda a coleção dele. É bastante coisa regional”, completou.

Reconhecimento

Durante a sua história, a Biblioteca já foi premiada com quatro prêmios de reconhecimento, chegando a concorrer nacionalmente. “Em 2014, o deputado Carlos Alberto nos premiou na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. Em 2015 ganhamos o prêmio ABRH Manaus na área de Cultura, Lazer e Acessibilidade. Em 2016, concorremos com 150 instituições em todo Brasil no ABRH Brasil na mesma área e conseguimos a prata”, contou.

O local também foi premiado por um feito ainda inédito na região Norte. “Em 2016 ganhamos uma placa da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), por termos sido a primeira instituição do Amazonas e região Norte a trazer uma edição da Bíblia em braille”, explicou Gilson Mauro. “Fomos os primeiros a pegar uma edição da Bíblia em braille em São Paulo e ofertar aqui para as pessoas com deficiência visual”, completou.

Como ter acesso aos livros da Biblioteca

Os empréstimos da Biblioteca são de até 10 dias, podendo ser renovados por mais 10 dias por meio do telefone (92) 3622-0869, dispensando a necessidade de ir ao local. Na verdade, o usuário não precisa nem ir lá para ALUGAR o livro, porque se ele não puder, a Biblioteca envia para ele através do cecograma.

“Esse é um selo gratuito dos correios para os deficientes visuais para quem enviamos os livros. Demora cerca de cinco à seis dias para chegar em Manaus e de 20 à 25 dias no município”, contou. “Esse é um sistema antigo, que iniciou no Japão em 1872”, explicou.

foto: Exemplo de Cecograma (foto retirada do site “jornaldagente.tudoeste”)

Horário de funcionamento

Em janeiro, a Biblioteca Braille está funcionando de segunda à sexta. das 8h às 14h, por causa das férias do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro. “Nós estamos trabalhando no espaço do Cláudio Santoro e como ele só volta a funcionar em fevereiro, estamos com a programação dessa forma”, explicou.

A partir do dia 1º de fevereiro, a Biblioteca volta a funcionar 8h às 17h. Sempre no “Bloco C” do Sambódromo. “Estamos sempre abertos e não fechamos nem para o almoço. Sempre vai ter alguém para receber”, convidou Gilson Mauro.

Aberta a todos os públicos

“A Biblioteca Braille está aberta para todos, sendo deficientes visuais ou não. É um espaço que tem todo aspecto acessível e totalmente democrático, voltado para as pessoas com deficiência visual, comunidade, universitários e professores. Já recebemos alunos de cursos de graduação à jornalistas”, explicou.

Outras atividades de lazer e capacitação

“Aqui também é um espaço onde uma pessoa com deficiência visual pode vir e aproveitar tudo que tem aqui, como uma sala infantojuvenil com vários painéis com mini-instrumentos musicais, além de brinquedos didáticos”, completou Gilson Mauro.

A parceria com Cláudio Santoro permite que a instituição ofereça ainda cursos para os deficientes visuais como aula de teclado, nas terças e quintas, e de violão, nas quartas e sextas; todas aulas são pela parte da manhã. “Além disso, nós capacitamos pessoas que queiram trabalhar na área de biblioteca”, explicou.

Doe sua voz para o projeto

Querido Mapingua que está lendo isso e quer ajudar a Biblioteca Braille, VOCÊ PODE! Sendo um dos Leitores, lendo um livro e doando sua linda voz. “A pessoa vem aqui, faz um teste de leitura e, se ela passar no teste de leitura, ela passa a ler nossos livros para as pessoas com deficiência visual, é o chamado “Livro Falado”. Os arquivos são gravados em mp3”, explicou. “ A pessoa que escolhe o horário e a quantidade de tempo que ela vai gravar”, contou.