Eu, vez ou outra, estou xeretando na internet à procura de material para RPG. Recentemente eu NÃO estava fazendo isto e mesmo assim acabei achando algo novo. Um RPG ainda não publicado chamado Caaporas, baseado na mitologia brasileira. O material em questão estava sendo apresentado num evento em São Paulo e é parte de algo ainda maior: Kerana, um jogo que será lançado na Steam.
Fiquei empolgado com material sobre folclore nacional sendo produzido e fui investigar. Tive o prazer de entrevistar Vítor Vamondes e você pode conferir o que ele nos contou a seguir.
Fale um pouco sobre o Projeto Kerana.
“Sempre foi um consenso entre a equipe do Smart Studio o desejo de transformar o mercado nacional de desenvolvimento de games uma potência mundial. Mesmo com diversas idéias “na gaveta”, era fundamental que o nosso próximo projeto tivesse a cara do Brasil. Conversamos muito entre nós da equipe e presidência sobre: O que é inédito? O que não foi feito? O que estamos deixando passar?
Foi quando começamos as nossas pesquisas e fomos surpreendidos com o vasto conteúdo que encontramos. Muito se conhece sobre as mitologias grega, nórdica, egípcia ou romana, porém são poucos os que já ouviram falar de uma mitologia brasileira. Uma história pouco conhecida e que vem se perdendo pois está muito além das criaturas folclóricas que conhecemos. Panteões de deuses, guerras, traições e uma árvore genealógica extremamente densa, além de uma outra ótica do Criacionismo, pela perspectiva Tupi-Guarani.
A proposta do projeto Kerana é recuperar essa história em formato de entretenimento e proporcionar uma releitura da origem do folclore nacional. O projeto já vem se desenvolvendo desde agosto desse ano e prevê, até o fim de 2017, a produção de um jogo de autoria própria (com previsão de lançamento para PC através da Steam), um curta-metragem de 15 a 20 minutos, além de produtos complementares como o livro “Caaporas”, um RPG de mesa para iniciantes, recentemente apresentado ao público no evento “UP!ABC – Medieval Kingdoms 2016″, realizado nos dias 17 e 18 de setembro.”
Como está sendo desenvolvido o RPG Caaporas?
“A ideia para o livro “Caaporas – Do mesmo universo de Kerana” acabou sendo uma grata surpresa para toda a equipe. Por coincidência, durante o desenvolvimento das primeiras mecânicas do jogo, em uma roda de café rotineira, descobrimos que todos tínhamos uma paixão em comum: o clássico RPG de mesa.
Os Caaporas nada mais são que pequenas criaturas desajeitadas com características bizarras, personalidades individuais únicas e que possibilitam campanhas extremamente engraçadas. Recomenda-se que as campanhas sejam jogadas com, no máximo, 04 jogadores (além do mestre), possuem em média 02 horas de duração, necessitam apenas de um D6 por jogador, não há perda de tempo na criação de personagens e foram muito bem adequadas ao contexto geral do projeto Kerana, como um “spin-off“, ou seja, sem afetar o enredo geral do projeto.”
“Quando se trata de inspiração, muitas referências nos vêm em mente para os mais diversos segmentos desta produção. Em relação às mecânicas que estão em desenvolvimento para o universo do jogo Kerana, muitos nomes famosos podem ser citados, tais como: The Rise of Tomb Raider, Alice: Madness Returns e o ainda não lançado Horizon Zero Dawn. Já referente ao enredo e roteiro, ou seja, a forma com que uma história pode ser muito bem contada, temos: Until Dawn e God of War. Não nos restringimos apenas a jogos, principalmente com relação à ambientação: The Jungle Book (Mogli), por exemplo, é uma de nossas principais referências de Level Design. Alguns blog/sites/comunidades/grupos se destacam em nossa pesquisa diária para busca de novas referências, tais como: Brasil Fantástico, Vozes Ancestrais e, inclusive, o próprio Mapingua Nerd. Contamos também com a ajuda de antropólogos para tentar retratar com veracidade as crenças, costumes e histórias do povo Tupi-Guarani.”
Como foi o teste no evento UP!ABC – Medieval Kingdoms 2016?
“Quando nos apresentaram a oportunidade de divulgar nosso trabalho ao público, com um estande próprio e uma sala reservada para workshops/palestras, decidimos que seria a hora perfeita para o desenvolvimento de um produto do tipo. Analisando o público do evento, em sua maioria jovens entre 14 e 20, amantes de animes, jogos e cultura geek, concluímos que uma primeira abordagem aos conceitos básicos do RPG de mesa seria o mais adequado.
Podemos dizer que a primeira experiência com o livro foi excelente. Estimamos que 80% dos jogadores tiveram sua primeira experiência com a categoria. Conseguimos alcançar lotação máxima em todas as sessões durante o evento, pessoas perguntando quando estaria disponível e, o mais gratificante, relatos de muitos jogadores que “quebraram” a barreira que tinham com relação ao RPG de mesa por se sentirem confortáveis a interpretar seus personagens e brincar com pessoas que não conheciam. Aproveitamos o espaço para agradecer a todos os participantes e visitantes que nos prestigiaram durante o evento. O feedback de vocês só nos motiva a fazer com que o projeto se torne ainda maior.”
Confesso que não era essa lenda que estava esperando, mas tudo bem. Siga em frente, olhe para o lado…
Conte-nos sobre o Smart Studio. Quem são os integrantes, quais seus projetos e objetivos?
“O Smart Studio é um diferencial da Smarttech, a primeira escola de computação gráfica do ABC paulista. Conforme o desempenho de cada aluno em seu respectivo curso, caso tenha idade mínima necessária, existe a possibilidade dele/a estagiar no estúdio com profissionais da área, onde jogos de própria autoria e contratuais são produzidos. Atualmente contamos com 6 profissionais das mais diversas áreas do desenvolvimento de jogos digitais (artistas, modeladores, programadores, etc.), com perspectiva de ampliação da equipe até o fim de 2016. O objetivo do Smart Studio, assim como da rede Smarttech, é de se tornar referência tanto na capacitação profissional no ramo da computação gráfica como na produção e expansão do mercado de desenvolvimento de jogos nacional.”
Rafael Ribeiro (Modelador 3D), André Novais (Modelador 3D), André Barbosa (Programador), Victor A. Romão (Artista), Vítor D. Vamondes (Programador) e Bruna R. Gabriele (Level Designer).
Qual a opinião da equipe em relação ao atual mercado brasileiro?
“A equipe acredita que o mercado de games no Brasil vem sofrendo uma curva de transição nos últimos anos. Há pouco tempo atrás, pouquíssimos eram os cursos voltados para a capacitação de profissionais deste segmento. Na opinião dessa equipe em particular, o Brasil tem tudo para ser uma grande potência mundial de desenvolvimento de jogos digitais, mas ainda há muito receio no investimento de grandes produções e franquias. Hoje, encontramos um país com oportunidade de formação profissional, mas é comum perder grandes profissionais para o mercado estrangeiro. Isso por que essa área demanda de um investimento em tecnologia que, por vezes, não é acessível. O Brasil é bem conhecido por jogos, em sua maioria, indies e mobile, mas pouco ousa em “dar as caras” em grandes produções nacionais. Acreditamos que, aos poucos, a indústria brasileira está começando a enxergar os games não somente como entretenimento, mas também como uma oportunidade de investimento lucrativo.”
Enquanto os jogos não ficam prontos, você pode acompanhar as atividades e novidades dos projetos pela fanpage no Facebook.