O ano é 2022. Tudo volta ao normal aos poucos, com o arrefecimento da pandemia de covid-19, inclusive os grandes eventos. A Comic Con Experience é um deles. Não à toa, esta edição do evento já pode ser considerada histórica para os nortistas, com a maior quantidade de artistas participantes desde 2014. Para a maioria deles esta é a sua primeira participação na CCXP e, para alguns, é também o primeiro evento de grande porte. O medo, a ansiedade e a insegurança atingem níveis altíssimos e foi pensando nisso que eu reuni no Papo em Quadros de hoje algumas dicas minhas e de outras pessoas que já foram ao evento. Bora?

A CCXP é o maior evento de cultura pop do mundo, com números que já superaram até as convenções norte americanas, que praticamente iniciaram a tradição. Este é um dos motivos que transforma a CCXP numa grande reunião de artistas internacionais e nacionais. Aqui os desenhistas e roteiristas das grandes editoras são celebridades com filas gigantes de fãs aguardando ansiosamente por um autógrafo. Para os nacionais é um daqueles momentos do ano em que é possível vender boa parte da sua pequena tiragem, reforçar os laços com os leitores antigos, angariar novos e fortalecer sua rede de contatos. O Artists Alley (agora Artists Valley) é o “coração da CCXP”, como diz Ivan Costa, um dos fundadores do evento, pois a feira fica no meio do espaço e concentra artistas independentes num ponto estratégico, principalmente num evento cujo valor do ticket médio é um dos maiores do país.

Imaginem só a importância de estar nesse lugar se você é um artista de pouca visibilidade, vindo de uma região periférica do país, sem experiência, contatos ou recursos. Ser selecionado, no meio de um mar de quadrinistas competentes, para a CCXP, não é um feito qualquer. Por isso, é importante saber o que esperar (e o que não esperar) da sua breve passagem pelo evento.

Espaço e tempo são seus bens mais preciosos

Faça todo o possível para ter espaço na mala e não ter que lidar com o inconveniente de pagar excesso ou ter que abandonar algum material. Uma dica importante é não levar na mala coisas que podem ser impressas em São Paulo, cidade em que o evento ocorre. Prints, adesivos e até seu quadrinho novo, podem ser impressos com antecedência e enviados para a casa de um amigo ou familiar, antes da sua chegada. Se puder fazer isso, faça. Vai ajudar muito.

Se tiver condições, planeje sua viagem com alguns dias de folga. É importante para poder descansar e se preparar para a maratona ou até para que você consiga imprimir algum material pessoalmente. Usar o seu tempo para descansar também é essencial durante a CCXP, principalmente à noite, depois do evento. Não raro há relatos de artistas doentes após grandes feiras, talvez pelo contato com tantas pessoas num ambiente fechado e dias se alimentando mal e dormindo pouco. Cuide-se.

Pesquise bastante

Pesquise preços praticados, formas de organizar melhor a mesa, formatos mais utilizados para prints, outros artigos e acessórios vendidos etc. Pergunte dos seus amigos artistas, veja fotos das edições anteriores, faça enquetes para saber que artes ou temas são mais pedidos. Pesquisar é importante, mas você não precisa fazer tudo o que os outros artistas fazem. Se achar algo interessante, inove. Desde que o custo da inovação não seja alto demais ou se mostre nada prático, como levar molduras com vidro, de Manaus para São Paulo (sim, eu fiz isso…).

Nem tudo é dinheiro

Você talvez fique impressionado com a quantidade de vendas que vai fazer no evento. É algo bem superior à média dos eventos que ocorrem na região Norte. Ainda assim, os lucros podem não cobrir todos os gastos da sua participação na CCXP, que inclui hospedagem, passagens, alimentação, valor da mesa, impressões, embalagens e mais uma dezena de outras coisas. Tenho duas dicas para tentar amenizar esse problema.

Tente diminuir alguns dos seus gastos. Se for possível, se hospede na casa de um conhecido ou parente. Há também a possibilidade de artistas se unirem e alugarem um espaço, gastando menos. Não se alimente em shoppings ou na praça de alimentação do evento, leve sua própria comida feita em casa ou compre uma marmita já pronta. Pesquisar preços e quantidades vai se mostrar importante aqui para você não fazer um pedido de 1.000 exemplares de um quadrinho, quando poderia ter feito apenas 200. Imprimir maiores quantidades diminui o valor unitário do seu livro, mas pode complicar toda a sua logística e gerar material encalhado.

A outra dica pode te deixar um pouco frustrado, mas vale a pena. Tente olhar para o evento como uma oportunidade de fazer contatos, conhecer artistas, editores e formar sua base de leitores. Você pode voltar sem lucro financeiro, mas a experiência obtida com certeza te deixará mais preparado para os próximos eventos e pode te ajudar a movimentar a sua cena local.

O Ayrton Oliveira, redator aqui do Mapingua, já foi ao evento duas vezes como visitante e falou um pouquinho sobre gastos e sua experiência por lá.

“Pra gastar pouco a melhor forma é comprar comida e bebida no caminho do evento. Próximo à estação Jabaquara tem algumas opções de lugares que vendem comidas como lanches e salgados, então sempre é bom comprar algo e levar pro evento. A comida no evento é cara, até mesmo em épocas que as coisas eram mais baratas, então gastar dinheiro na praça de alimentação tem um alto valor.

Enquanto a souvenirs, o evento possui muitos brindes grátis em vários estandes. Na Artists’ Valley é comum encontrar coisas num valor mais acessível, e minha maior dica é: diga em qual cidade você mora e enfatize que é do Norte, as pessoas ficam chocadas por “ser longe” e se você chorar um desconto às vezes acaba conseguindo. No final do domingo é comum os lojistas fazerem promoções do que sobrou, então é um bom jeito de economizar também.”

Aproveite

Toda essa trabalheira de pesquisar, organizar e se programar vai te deixar cansado e pilhado, então, uma vez que o evento comece, aproveite. Converse com todo mundo, deixe a mesa com seu parceiro rapidinho e vá conhecer aquele artista que você admira, troque quadrinhos, tire fotos e vá na festinha pós-evento (só pegue leve, tem mais no dia seguinte).

É o momento de viver a experiência. Depois que o evento passar você terá tempo de analisar tudo e ver qual o saldo da empreitada. Talvez parte dos frutos desses dias de CCXP só apareçam anos depois e você vai saber identificá-los muito bem.

A Ray Cardoso, que esteve na mesma edição do evento que eu, em 2016, fala um pouco sobre esse aspecto do ponto de vista de alguém que sai de tão longe para participar da CCXP.

“Aproveitar o momento. Em meio às vendas e à correria do evento, tire algum tempinho pra sair da mesa (é claro, deixando alguém de olho nela) e dê uma volta pela CCXP. Tem muita coisa acontecendo e é uma ótima oportunidade pra você apreciar esse momento. E beba água.”

Eu estive na CCXP em 2016, participei da versão virtual de 2020 e fui selecionado em outras edições que infelizmente não pude ir. Espero que essa breve experiência e as dicas aqui apresentadas ajudem você, que está começando essa caminhada. Para nós ela é mais árdua, mas não desanime, você não está sozinho.

Até o próximo papo!