No último sábado, dia 22 de outubro, a Editora Intrínseca trouxe a Manaus os autores Clarice Freire e Pedro Gabriel para a primeira Turnê Poética. Durante um papo descontraído, os autores revelaram um pouco mais sobre suas carreiras e como chegaram onde estão.
Clarice Freire é filha de artistas, seu pai é poeta e sua mãe desenha. Desde criança esteve em contato com o meio artístico, durante o bate papo com os fãs, revelou que uma de suas memórias de infância era quando o pai voltava para casa pela noite e mostrava algumas composições. Durante o Carnaval, Clarice ouvia as composições de seu pai tocando na rua e se sentia feliz por ter sido a primeira a ouvir tudo.
“Eu nunca iria ser tão boa quanto meus pais, mas iria ser tão boa quanto Clarice”, a autora revelou que seus primeiros rascunhos eram feitos no trabalho e que no fim do expediente, jogava tudo no lixo, e no outro dia fazia todo o ritual novamente. Algum dia, seus colegas de trabalho resolveram ver o que ela tanto jogava no lixo e descobriram seus poemas. No dia seguinte, conta que teve uma grande discussão com uma colega de trabalho, “lixo é algo muito pessoal”, disse Clarice. Os seus colegas deram forças para que ela perdesse a timidez e pudesse criar o blog Pó de Lua.
Fotos retiradas do site Pó de Lua.
Como a própria autora diz, ela vive durante a madrugada, que é onde seus textos ganham vida. Revelou que enquanto estava em uma viagem ao interior, passou uma noite fora e seus amigos desesperados a ligaram avisando que a portão do hotel se fecharia às 00:00. Durante a corrida para o hotel viu inúmeros vaga-lumes iluminando o seu caminho. Ao olhar para trás viu a cidade e, à frente, o portão que não podia se fechar.
A inspiração vem do cotidiano, das coisas simples da vida.
“Então, pode parecer clichê, mas no meu caso, de fato não é. É de tudo, é de tudo mesmo. Eu digo que o dia me dá toda a inspiração e a noite eu vou degustando aquilo. A noite você não precisa ser ninguém, você não precisa ser nada. Então o dia vai me dando uma conversa, um objeto, um cata-vento, um vidro, milhares de coisinhas que vejo no chão, mil coisas. Uma nuvem que passa na minha janela, eu bato foto e desenho em cima da nuvem, é tudo, tudo mesmo.”
É um olhar, é quando você aprende a ver poesia em absolutamente todas as coisas.
“Eu aprendi isso na adolescência quando eu comecei a estudar filosofia. O filósofo é um contemplador do mundo, ele ia observando as coisas ao seu redor e criando uma ciência. Então, eu comecei a ver a importância de observar o mundo, observar o outro, e via o quanto o significado de poesia existia aí.”
Os óculos mágicos do poeta.
“Quando eu converso com crianças, eu sempre falo que é pra colocar os óculos mágicos do poeta. Isso serve para os adultos também. Quando você coloca esses óculos mágicos do poeta, você passa a ver os mundos com outros olhos. Isso é minha fonte de inspiração.”
Temas mais adultos vão ficar para mais tarde.
“O Pó de Lua tem um conceito. O Pó de Lua é para diminuir a gravidade das coisas. Então eu entendi que o Pó de Lua em si, é um conceito que usa da delicadeza, da leveza, da simplicidade, do bom humor, da criatividade. Muitas coisas que não possuem nada a ver com esse conceito, eu não publico no Pó de Lua. São mais pesadas, são mais duras, são mais difíceis de degustar. Deixo pra mim mesma, quando eu vejo que foge da proposta do Pó de Lua, eu guardo para usar em outro momento da minha vida, ou então, talvez, pra quem descobrir quando eu morrer.” E termina a entrevista com risadas.
Clarice Freire já lançou dois livros pela Editora Intrínseca. “Pó de Lua” e “Nas noites em claro” podem ser comprados pelo site da Amazon ou pela Saraiva.
– As imagens foram cortesia da Andressa Barroso.