Eu sou uma pessoa que ama Luta Livre (costumo também chamar de “Pro-Wrestling”), assisto a shows semanais desde 2008 e ouso a dizer que desde 2016 não fico um dia sem ler notícias sobre o mundo do Wrestling. Quando eu descobri que a Netflix estava preparando uma série sobre Luta Livre, eu logo soube que iria assistir e, com um pouco de sorte, ver coisa boa na tela, só não esperava que fosse gostar tanto assim.

A série se inspira na história real da companhia “Glorious Ladies of Wrestling – GLOW”. Sob os cuidados da criadora Liz Flahive (Nurse Jackie) e produção de Carly Mensh e Jenji Kohan de Orange is the New Black, a série brilha ao trazer 14 mulheres, que não sabem lutar, para começar um show de wrestling que será exibido na TV.

A série se situa em uma linha tênue entre drama e comédia, puxada também para trash em algumas referências aos anos 80. Alison Brie, com certeza, é o destaque dessa temporada, a atriz interpreta a personagem Ruth, uma atriz em decadência que após levar muitos foras de produtores resolve participar de uma seletiva que dizia apenas que procurava por “mulheres não convencionais”. Ao chegar na seletiva, se depara com algumas outras mulheres que conseguem trazer uma enorme diversidade para a sua trama em um elenco tão diversificado quanto o de Orange is the New Black.

No mundo do Wrestling é normal que os personagens interpretados no ringue sejam cheios de estereótipos óbvios e na série não é nada diferente. A personagem indiana interpreta o papel da “terrorista” no ringue, a britânica interpreta uma “cientista inteligente e gostosa” e a libanesa, por possuir traços orientais, interpreta a “biscoito da sorte”. Em um momento durante o terceiro episódio, uma das personagens confronta o diretor do programa – questionando sobre sua persona em ringue – em uma belíssima cena que vem acompanhada de outras duas cenas em que as mulheres confrontam homens.

De todas as 14 mulheres, Ruth é a única que não consegue encontrar nenhuma persona, mas isso muda na metade da série onde consegue concluir sua busca e se consolida como uma vilã.

As mulheres não possuem nenhuma habilidade de luta, sob a direção de Sam Sylvia, vão aprendendo sozinhas pequenos movimentos de ringue. Um dos pontos fortes é que cada personagem consegue crescer de seu modo, cada uma possui o seu plano de fundo e conseguem tempo de tela suficiente para que todas consigam evoluir, seja conquistando habilidades no ringue ou confrontando problemas pessoais. Nenhuma personagem foi mal aproveitada, no último episódio podemos ver que cada uma brilha do seu jeito, assumem suas personas e conseguem arrancar grandes reações da plateia presente.

GLOW consegue mostrar o amadurecimento no ringue de mulheres que nada sabiam sobre wrestling conseguindo aplicar golpes. Para os fãs de luta livre a série é um prato cheio de referências, trazendo imagens de Hulk Hogan, André The Giant e Rick Flair. A série também conta com a participação de wrestlers reais como Johnny Mundo (antigo John Morrison), Tyrus (antigo Brodus Clay), Alex Riley, Christopher Daniels, Frankie Kazarian e Carlito. Em mais um acerto de uma série original Netflix, é notável que essa série não surge apenas para ocupar espaço, possui muito a dizer e deixa pequenos ganchos para uma próxima temporada, agora é só torcer para que consiga sobreviver a essa onda de cancelamentos.

 

Nota para a primeira temporada de GLOW: 3,5/5 Mapinguas.


As mulheres e a luta livre no mundo real

Como eu citei antes, sou um grande fã de Luta Livre e a série não poderia ter estreado em um momento melhor que esse. O cenário feminino, como já era de se esperar, nem sempre teve o respeito que merecia neste esporte, que possui uma maioria de atletas masculinos. A própria companhia GLOW marcou uma revolução ao trazer mulheres que lutavam pelos seus ideais. 

Tirando, por exemplo, a maior companhia de Wresling da atualidade, a WWE, que em seu histórico possui poucos altos e muitos baixos,o  que durou até o ano de 2015, quando se inciou a “Women’s Revolution”, movimento onde as lutadoras, que antes eram chamadas de “Divas”, começaram a ser tratadas como “Female Wrestlers”.

A revolução das mulheres na WWE foi algo incrivelmente marcante, pois até então as lutadoras tinham pouquíssimo tempo nas telas e nenhuma luta empolgante. Com isso, as lutadoras conquistaram mais tempo de tela, lutas realmente relevantes e até mesmo um cinturão digno, pois o cinturão, que antes era uma borboleta rosa, se tornou um cinturão de respeito que traz o logo da companhia em um visual bem mais aceitável.

Evolução do “Divas Championship” para o “Women’s Championship”.

As mulheres também estão presentes em outras companhias ao redor do mundo, no Japão e no Reino Unido as lutadoras têm muito mais espaço para demostrar as suas habilidades. Outras grandes empresas que possuem ótimas lutadoras são a Lucha Underground, Ring of Honor (trazendo a sua extensão Women of Honor) e a própria WWE no seu centro de treinamento chamado NXT.

[arve url=”https://www.youtube.com/watch?v=WgExdi3qZAM” mode=”normal” /]

As mulheres estão cada vez mais ocupando um grande espaço no universo do Pro-Wrestling, trazendo lutas marcantes que muitas vezes se tornam indispensáveis para qualquer fã.

Esse é meu post de número 300, valeu good brothers!