Finalmente a Netflix apresentou o Punho de Ferro, herói que se reunirá a Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage na série Os Defensores, que estreia no serviço ainda em 2017. O herói chega para trazer o elemento místico à equipe, mas falha ao apresentá-lo em sua própria trama, além de faltar todo o brilho apresentado nas histórias anteriores.
Ah minhas esperanças…
Enquanto Demolidor tem o tema da justiça com as próprias mãos, Jessica Jones trata sobre a questão do abuso e Luke Cage levanta a bandeira do homem negro como um herói, Punho de Ferro não tem nada. Nenhum subtexto, nenhuma ideologia, nenhuma reflexão. É puramente uma série vazia, mal roteirizada, com lutas mal coreografadas, personagens perdidos e um protagonista com quem não conseguimos nos conectar. Punho de Ferro é ruim, com uma história esticada além da necessidade.
My name is Danny Rand…
No trailer parecia tão bom…
É impossível não comparar Punho de Ferro com Arrow, série da Warner. Ambos são jovens milionários que foram dados como mortos depois de um acidente com os pais, se tornam grandes lutadores em seus exílios desprovidos de mordomias e retornam atrás de seu nome e respostas. Infelizmente para a Netflix, a CW conseguiu entregar uma primeira temporada com um roteiro melhor amarrado e um protagonista mais cativante. Oliver Queen (interpretado por Stephen Amell) tem um plano, enquanto Danny Rand (Finn Jones) muitas vezes parece apenas um garoto mimado e xiliquento, levado de um lado pro outro com irritante inocência.
Nos quadrinhos Daniel “Danny” Thomas Rand-K’ai é centrado, sábio e comedido, o que seria uma adição necessária para o grupo dos Defensores. Embora ele ainda não seja esse herói das HQs (mesmo caminho seguido pelas anteriores séries Marvel/Netflix) sequer vemos essa curva de crescimento ao longo de toda a temporada, muito pelo contrário. Ele basicamente termina como começou, perdido.
Não tem uniforme mas tem essa ‘referenZa’
Não bastasse, o personagem ainda é incoerente. Chega a Nova Iorque descalço e dormindo no chão de uma grande suíte por não estar acostumado aos confortos do mundo moderno, mas mais tarde esfrega na cara de um amigo de monastério que ele dirige o carro sem carteira por ser rico e o outro não. Além disso, os primeiros episódios focam em Daniel querendo fazer parte da família Meachum e das empresas Rand, pra depois ignorar totalmente a responsabilidade nos negócios. Entrou por quê?
A tediosa família Meachum
Kill me, please!
Mas nem chego a culpá-lo. Todo o arco das Empresas Rand é moroso e cansativo, se resumindo em reuniões e figurantes de terno com olhares preocupados. O núcleo da família Meachum é o pior de toda a série. Ward (Tom Pelphrey) chega a passar por conflitos interessantes (apesar dele ser bastante chato), mas Joy (Jessica Stroup) é mal desenvolvida, facilmente manipulada e constantemente desorientada durante toda a história. No terceiro episódio, o roteiro chega a flertar com a possibilidade dela ser melhor que o irmão em lidar com crises, porém isso não chega realmente a ser entregue, ficando apenas na promessa.
Ele me lembrou outro ator durante todo o seriado, mas não sei o nome.
Harold Meachum (David Wenham) é outra confusão. O personagem serve apenas pra reforçar a habilidade do Tentáculo em trazer pessoas novamente à vida e o custo que isto acarreta à mente de quem passa pela experiência. Só. Todo o resto (ter tramado contra Wendel Rand… passar anos se fingindo de morto… controlar a empresa através do Ward… fazer papel de pai pro Danny… ser o vilão final…) é recheio de linguiça.
A série mais mística da Netflix, só que não
Não adianta que não vai.
Aliás todo o conceito místico por trás dessa ressurreição é banalizado, bem como toda a espiritualidade da série. A segunda temporada de Demolidor consegue flertar muito mais com o sobrenatural que Punho de Ferro, que se esforça em denominar K’un-Lun – Cidade dos Imortais e uma das Sete Capitais do Céu – como um mero mosteiro. Suas habilidades se baseiam em pular sobre carros com cabos, invadir casas com cabos e deixar o punho brilhando. Mesmo sendo demonstrado que Danny não terminou seu treinamento (como no momento da cura de Colleen) há muitos outros aspectos mágicos que poderiam ter sido mostrados e não foram.
Colleen, Bakuto e Davos
Nem a linda Jessica Henwick escapa. Colleen Wing (que nos quadrinhos nunca teve qualquer envolvimento romântico com Danny Rand) é a mais incoerente de todos. Uma sensei que fala sobre honra e responsabilidade, mas depois luta em uma jaula por dinheiro. Mais tarde repreende os alunos, pede perdão pelo vacilo, mas acaba retornando à jaula. Sem falar no próprio romance forçado com o herói, apenas pra enfermeira Claire sentir um clima que surgiu do nada e não existia no episódio anterior. Inclusive, sua revelação como membro do Tentáculo é pífia e serve somente pra deixar Danny mais descontrolado do que já era.
Essa mulher, minha nossa…
Finalizando os personagens, temos Bakuto (Ramon Rodriguez), que é um vilão sem qualquer senso de perigo, e o futuro antagonista, Serpente de Aço Davos (Sacha Dhawan), totalmente desprovido de carisma. Não vou gastar mais uma linha sequer neste parágrafo.
O bom, o regular e o terrível
Do lado bom da força temos Claire Temple (Rosario Dawson), Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) e Madame Gao (Wai Ching Ho), que dominam a cena sempre que aparecem, ofuscando os outros personagens e atores e servindo de link com as demais séries da Netflix.
As melhores personagens da série são de outras séries.
A trilha sonora é muito boa, mas altamente desconexa com a história. Qual a ideia de treinar kung-fu ouvindo hip-hop? Também são necessários estudos profundos sobre essa bateria que dura mais de 15 anos.
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Já as lutas são sofríveis, mal coreografadas e mal filmadas. Existem ali parcas referências a clássicos filmes de artes marciais e só. Até a recorrente luta de corredor, institucionalizada em Demolidor, é apenas mais uma entre tantas iguais de produções menores.
Nhe…
Duas lutas se destacam, que é o confronto final de Danny Rand contra Bakuto e Colleen Wing contra uma segurança genérica. De resto…
Aqui eu vi valor.
Vou perder meu tempo?
Punho de Ferro é uma série com diversos defeitos, mas que deve ser assistida por quem vem acompanhando esse universo na Netflix. É a produção com o maior número de referências e (bem ou mal) apresenta mais um herói para o nosso meio, porém os 13 episódios poderiam ter sido muito menos e muito mais aproveitados.
E com vocês Loras, o Cavaleiro das Flores.
Defensores já terminou suas gravações em Nova York e deve estrear no próximo semestre.
Curiosidades
Finn Jones e Jessica Henwick também estiveram no elenco de Game Of Thones, ele como Loras Tyrell e ela como Nymeria Sand, uma das Serpentes da Areia.
Jessica sempre foi maravilhosa!
Existe ainda uma pequena referência à série da HBO, antes de Danny ser atacado no hospital psiquiátrico. Um dos agressores diz “Ward Meachum manda suas lembranças”, claramente apontando para os eventos do Casamento Vermelho quando Roose Bolton declara “Os Lannisters mandam suas lembranças” antes de apunhalar mortalmente Robbie Stark.
Essa cena ainda machuca
Na filmagem que Bakuto mostra a Danny é possível ver Orson Randall, o Punho de Ferro da Era de Ouro, que foi o homem que adotou Wendell Rand quando criança. É Orson que chega a K’un-Lun depois que o avião de seu pai cai no meio das montanhas.
Muito bem incluído, por sinal.
A ‘tatuagem’ no peito do Punho de Ferro é na verdade uma cicatriz que ele ganhou ao lutar contra Shou-Lao numa caverna. O dragão (porcamente representado no último episódio) tem uma marca no local onde ficava seu coração, e quando Daniel tenta estrangulá-lo o calor é tão grande que deixa uma cicatriz fervendo.
Que bom que cicatrizou bem.
Colleen Wing dá o nome “Filha do Dragão” quando vai lutar ilegalmente pela primeira vez. Essa é uma referência direta às hqs que ela e Misty Knight (que já apareceu em Luke Cage) protagonizavam.
Duvido que elas se reúnam como uma dupla no futuro, mas seria ótimo.
Não contei quantas vezes Danny diz que o papel do Punho de Ferro é destruir o Tentáculo, mas isso nunca foi mencionado nos quadrinhos.