Para tornar-se um verdadeiro noveleiro é preciso saber que, no mundo da teledramaturgia, tudo pode acontecer. É necessário ter em mente que, diferente de outras produções do audiovisual (séries, filmes e até mesmo videoclipes), a telenovela não tem um roteiro finalizado. Costumamos dizer que a novela é uma obra aberta, ou seja, o autor deve ter um forte relacionamento com o público e saber reconhecer quando algo está dando certo. Através do nosso retorno a trama pode seguir um caminho totalmente oposto ao planejado, e é nessas horas que o processo criativo de cada escritor tende a soltar o alerta. No entanto não são todos que detém esse dom, ou mesmo a eficiência de saber quando algo está à beira do abismo.
O caso que iremos citar hoje é um dos mais recentes, se tratando de recuperação relâmpago. A atual “O Outro Lado do Paraíso” tem surpreendido o público a cada semana, com suas tramas principais e paralelas. As cenas do julgamento do delegado Vinícius (Flávio Tolezani), acusado de pedofilia, causaram um grande impacto no público, sendo a cena mais assistida da trama. Quem visualiza esses números chega a pensar que a novela sempre foi um exemplo de bons índices, no entanto, a trama de Walcyr Carrasco tinha tudo para ser um grande fiasco da teledramaturgia.
A ressaca “A Força do Querer”
Os primeiros capítulos da obra mostravam uma trama muito mais pesada. Muitos telespectadores chegaram a comentar nas redes sociais que a história não tinha personagens felizes e que tudo era cercado por muita violência e tristeza. Um grande exemplo foram as cenas de agressão física e estupro vividas por Clara (Bianca Bin) e Gael (Sérgio Guizé). O público entrou em choque ao ver a mocinha da história sendo violentada no dia de seu casamento.
Com muitas cenas pesadas e diálogos tensos, dois núcleos importantes não conseguiram ser desenvolvidos o suficiente, chegando a atrapalhar o desenrolar da trama. Sempre que o psiquiatra Samuel (Eriberto Leão) e a enfermeira Suzana (Ellen Rocche) davam as caras a produção já sabia que as redes sociais cairiam em cima. O mesmo aconteceu com a anã Estela (Juliana Caldas), renegada pela família, seu núcleo não teve tempo para ser desenvolvido. Foi um verdadeiro caos! A produção começou a viver um clima de desafio, já que “A Força do Querer” havia entregado o horário com altos índices e uma ótima avaliação pela crítica. A verdade é que o autor Walcyr Carrasco e o diretor Mauro Mendonça Filho tiveram uma grande responsabilidade pela frente: não estragar tudo.
Do desespero ao sucesso
Foi, então, que a direção teve uma grande e arriscada ideia. Ainda faltava muito para a chegada da segunda fase, quando finalmente Clara se vingaria de todos aqueles que a fizeram mal. A emissora apostava todas as fichas e afirmava com todas as letras que sua novela teria capacidade para se tornar um novo fenômeno de audiência. Estava decidido: “Vamos cortar as cenas de Samuel e Estela e antecipamos a segunda fase”.
Essa ideia tinha tudo para dar errado, já que muitos usuários de redes sociais caíram em cima. Todos só falavam sobre o corte do personagem gay. Foi então que chegou a tão esperada “virada”. Clara começou a treinar sua fuga do hospício e, em certa noite foi jogada no mar, dentro de um caixão. De uma hora para outra a audiência foi aumentando e, a cada semana, o autor encontrou um jeito de nos deixar presos a trama. De lá pra cá, tivemos inúmeras histórias que “pararam” a internet, entre elas estão: “Clara Empregada”, “A Volta De Clara”, “O Julgamento De Duda”, “O Julgamento do delegado” e a mais recente “Sophia Mãos de Tesoura”.
Esta novela é ou não, um grande exemplo de superação de enredo!?