Após duas temporadas fantásticas, Black Mirror foi comprada pela Netflix, que garantiu que a série fosse continuar viva em seu catálogo, mostrando como a interação dos humanos com a tecnologia pode garantir benefícios e malefícios tão grandes quanto. Após a sua terceira temporada parece que a série se entregou a uma fórmula e reciclou ideias, mas mesmo assim a quarta temporada continua boa e tem alguns bons episódios.
A divulgação dessa temporada garantiu um hype imenso, visto que a Netflix lançou um pôster e um trailer de cada episódio. Preferi ficar bem longe dos trailers, quis assistir a temporada sem saber de muita coisa.
Começando com USS Callister, o episódio é uma grande homenagem a Star Trek. No episódio vemos até uma piadinha sobre o show Space Fleet ter inúmeras temporadas que agora estão no catálogo da Netflix (assim como Star Trek). A maior parte do episódio se passa em uma simulação dentro de um jogo, o que faz o episódio ser realmente focado nas cenas da paródia/homenagem a Jornada nas Estrelas.
O episódio USS Callister é considerado por muitos como o melhor da temporada, e de fato, é um dos episódios mais diferentes de Black Mirror por realmente se focar nas fantasias e aventuras no espaço. Um episódio que se passasse no espaço já era um dos pedidos pelos fãs, aqui Charlie Brooker garantiu um ótimo episódio, com uma protagonista excelente, porém é fácil de enxergar que algumas ideias do episódio já foram vistas em episódios passados de Black Mirror, como White Christmas (considerado o melhor episódio da série).
Em Arkangel vemos a primeira decepção da temporada, o episódio não correspondeu ao hype. No episódio Charlie Brooker trabalha com uma ótima ideia que foi mal executada e traz vários deslizes. Talvez se o episódios fosse um pouco mais longo, ele seria também um pouco melhor. Nesse episódio, uma mãe super protetora resolve instalar um chip em sua filha que a permite ver tudo o que sua filha vê, assim como rastrear e também impedir que sua filha veja coisas inapropriadas. A execução do episódio se perde quando o roteiro não se foca em explorar a insanidade da super proteção da mãe ou o limite da privacidade, desse modo o episódio consegue chocar e deixar uma sensação de mal estar, mas não consegue entregar seu melhor roteiro.
No episódio Crocodile acompanhamos a maldade humana sendo explorada sem que a tecnologia sirva de pretexto. Não que a tecnologia fique em segundo plano, pois vemos uma espécie de detetive usando um aparelho de vídeo que consegue reproduzir as memórias de seus entrevistados para compor um quebra-cabeça de um crime.
Crocodile trouxe um dos episódios mais angustiantes de Black Mirror, é difícil descrever bem sem dar nenhum spoiler, mas aqui temos uma protagonista que quando jovem se envolveu em um homicídio e resolveu esconder isso, com o passar dos anos, a protagonista se tornou bem sucedida e volta a ser atormentada pelas sombras desse homicídio e o caminho que ela resolveu seguir para cobrir seus rastros não é o mais inteligente.
O bônus desse episódio é que podemos ouvir a música “Anyone Who Knows What Love Is” que toca em todas as temporadas da série.
Hang the DJ é o episódios mais amorzinho da nova temporada. Nessa sociedade que é mostrada no episódio, os solteiros usam um aplicativo para encontrar o seu par perfeito, porém esse aplicativo diz quanto tempo essas pessoas devem continuar em um relacionamento, mesmo que sejam apenas algumas horas ou até mesmo anos, após se conhecerem, as pessoas devem morar juntas até o tempo acabar, sendo que algum dia vão ter o match perfeito e assim ser felizes para sempre.
O episódio é considerado o “San Junipero” da temporada por trazer uma história de amor onde um casal tenta ficar junto nesse episódio por mais que o aplicativo não os coloque como par perfeito.
Metalhead é o episódio mais solto da temporada, onde nada é explicado, o episódio segue inteiro com uma personagem e nenhuma explicação. Aqui podemos notar que os episódios que não parecem com ideias anteriores já vistas em Black Mirror não são tão marcantes assim, e os episódios marcante são os que possuem ideias recicladas.
O episódio Metalhead não é todo ruim, acompanhamos uma perseguição angustiante (e bote angustiante nisso), onde a protagonista foge de um cachorro mecânico assassino. Talvez seja por toda a sua falta de explicação que o episódio se torna fácil de ser esquecido, porém o visual e direção do episódio conseguem ser um dos pontos positivos da temporada.
O último episódio, Black Museum é um dos melhores da série (mesmo que tenha uma estrutura que já foi vista em White Christmas). O episódio é uma grande referência a própria série, em cena vemos diversos itens que já foram vistos em temporadas passadas e durante a quarta temporada também. No episódio vemos a narração de três histórias de itens que estão disponíveis no Black Museum mais a história do plot principal.
Black Museum fecha bem uma boa temporada que possui seus momentos ruins. Se essa fosse uma das primeiras temporadas da série, com certeza a animação seria maior, pois tudo seria algo novo, mas o fato de ser a quarta já faz com que o expectador note bem como a fórmula de Black Mirror vem sendo aplicada junto com temas que já foram explorados anteriormente na série, parece que Charlie Brooker se apegou à temática transferência de consciência e por ali ficou acomodado.
Caso seja renovada, a série ainda pode garantir ótimos episódios se conseguir deixar certos temas para trás e entregar episódios inovadores (como USS Callister) sem que estejam presos em ideias que já foram exploradas exaustivamente. Ainda assim, Black Mirror conseguiu trazer muitas novas reflexões nessa temporada que ainda é bem melhor do que muitas outras séries que estão no ar atualmente.