Na noite de ontem, 25/07, os fãs ao redor do Brasil puderam assistir a animação que adapta Batman: A Piada Mortal, um clássico escrito por Alan Moore e ilustrado por Brian Bolland. Eu, como um amante da DC Comics, decidi aqui deixar minha análise sobre a adaptação. Acreditem, o fato de eu ser fã não vai influenciar em nada na análise, afinal eu vi (e tenho consciência) que a animação falhou, e falhou bastante.
A graphic novel Batman: Piada Mortal é amada pelos leitores de quadrinhos. Nela temos a origem de Coringa e alguns outros fatos que vão se tornar cânone no universo do Batman, como o fato de Bárbara Gordon ficar paraplégica. Alan Moore é um mestre – trouxe ao mundo V de Vingança e Watchmen –, e não era de se estranhar que Piada Mortal virasse outro clássico instantâneo. A graphic novel é curta, conta com menos de 50 páginas, e ainda assim ecoa até hoje. Um exemplo disso é o filme Batman – Cavaleiro das Trevas, onde, assim como em Piada Mortal, o Coringa mostra que basta apenas um dia ruim para levar um indivíduo à loucura.
Nos primeiros 30 minutos da adaptação, temos uma história original que em nada acrescenta ao universo de Piada Mortal. Essa história se foca em Bárbara Gordon como Batgirl que, trabalhando junto ao Batman, resolve crimes e espanca bandidos. O vilão dessa parte é um mafioso que decide conquistar o patrimônio de seu tio, envolve a Batgirl na história e isso faz com que acabe sendo afastada das investigações pelo Batman.
Não fica muito claro qual a intenção desses trinta minutos iniciais, além de introduzir Batgirl para que possamos ter uma comoção a mais na parte em que fica paraplégica. Acontece que isso não faz sentindo algum, afinal a animação é para maiores de 18 anos e não serve para que as crianças a reconheçam, assim como será lançada diretamente em DVD e Blu-ray, ou seja, nenhum desinteressado vai assistir ao filme por acidente, considerando que se trata de um filme esperado pelos fãs e por pessoas que conheciam o trabalho de Alan Moore. Os minutos iniciais servem apenas para que o filme possa ter um pouco mais de 1h de duração.
Passando os trinta minutos iniciais, chegamos finalmente na adaptação de Piada Mortal, que acontece naturalmente, contendo diálogos iguais aos da Graphic Novel. Contamos com a dublagem de Mark Hamill como Coringa e Kevin Conroy como Batman, dubladores que já trazem certa qualidade para a animação, pois suas vozes marcaram, entre outras coisas, os games da série Batman Arkham. O trabalho dos dubladores foi um ponto alto no filme.
Os traços mudam. Na Graphic Novel, Brian Bolland assume a ilustração. Na primeira edição, a colorização não foi feita por Bolland, contendo assim um tom mais psicodélico, que não foi exatamente o que o autor desejava como resultado final. Em 2008, surge uma reimpressão da Graphic Novel e Brian Bolland pede que dessa vez possa recolorir, tendo assim tons mais neutros. Na adaptação, por sua vez, temos os tons semelhantes ao da colorizada por Bolland.
Esse vídeo mostra a comparação entre as cenas da adaptação com o quadrinho e como a colorização muda da edição original para a adaptação, sendo assim, recolorindo as cenas do filme para que fiquem semelhantes as da edição original da Graphic Novel.
Talvez o maior erro seja a falta de profundidade no universo de Piada Mortal. Tanto o trabalho de Alan Moore como Brian Bolland possuem uma qualidade única e diversas interpretações que até hoje geram debates. Se a escolha de revelar a origem do Coringa fica por conta de Moore, a colorização de Bolland possui um papel fundamental. Durante os flashbacks, apenas objetos vermelhos ganham destaque, até que, ao revelar pela primeira vez o Coringa, podemos ver seus cabelos verdes, terno roxo e lábios vermelhos.
No final, senti a falta de um pequeno detalhe: o facho de luz refletido em uma poça d’água. Ele serve como a ponte que Coringa se refere ao contar a piada no último diálogo, além de uma comprovação do final do personagem juntamente com o final da história, afinal, depois de todos esses anos, foi revelado o desfecho de Piada Mortal e o facho de luz demonstra sutilmente o verdadeiro fim.
Sem tirar e nem por nada na história original, fico imaginando que essa adaptação foi feita apenas para existir, podendo muito bem ter continuado sem que o filme fosse feito, enquanto o clássico de Moore e Bolland continua intocável.
Nota: