O estúdio amazonense Black Eye lança nesta terça-feira (15), a graphic novel “Ajuricaba”, uma história em quadrinhos de 132 páginas que conta a saga do líder indígena manao, responsável pela maior campanha de resistência anticolonialista das nações indígenas do Amazonas no século XVIII.
A HQ, que também será distribuída em bibliotecas públicas e algumas escolas municipais, é fruto de edital da Prefeitura de Manaus, Conexões Culturais de 2018, que deu as condições financeiras para que o livro viesse a ser publicado pelo selo Black Eye.
Ajuricaba foi criada e roteirizada pelo jornalista, roteirista e ilustrador Ademar Vieira e contou com os desenhos do quadrinista Jucylande Júnior, do estúdio C-4; com a arte-final do ilustrador Tieê Santos e capa de Ana Valente, todos artistas manauaras.
Para Ademar Vieira, a obra vai muito além do entretenimento, pois tem um valor histórico e cultural bastante simbólico para o povo de Manaus e do Amazonas. “Antes de escrever o roteiro, eu fiz uma pesquisa histórica e antropológica para conhecer mais sobre Ajuricaba e os manaos e recebi ajuda do escritor Márcio Souza e do historiador Davi Avelino. Tive acesso a um vasto material muito específico sobre o momento histórico em que a HQ se passa, por isso, eu acho que essa é uma história bastante necessária para o público de hoje, principalmente para que os manauaras conheçam melhor a sua própria história”, contou.
A graphic novel, ou novela gráfica, reconstitui a saga de Ajuricaba pouco antes de ele se tornar tuxaua (líder) da tribo Manao. Os manaos ou manaós eram a maior tribo guerreira da região do Rio Negro e dominavam diversas outras. A princípio a tribo era aliada dos portugueses, que faziam trocas para conseguir escravos indígenas que eram levados para o trabalho no engenho de cana de açúcar no Pará e Maranhão, mas após o assassinato do pai de Ajuricaba ele assume o comando dos manaos e inicia uma longa campanha de guerra ao colonialismo português, que dura cinco anos e mobiliza mais 30 nações indígenas.
Segundo Ademar Vieira, o que faz de Ajuricaba um personagem tão interessante é a sua astúcia e personalidade forte. “Ajuricaba não cedeu a nenhum acordo de paz e nunca desistiu de lutar. Ele não queria acordo. Para ele só existia um jeito de viver: sendo livre. Para combater os portugueses em pé de igualdade, ele conseguiu armar seu exército com mosquetes holandeses, por meio de acordos comerciais e também construiu um forte no meio da floresta, onde se escondia”, disse o roteirista.
O desenhista Jucylande Júnior desenvolveu um traço peculiar especialmente para a graphic e conta sobre as dificuldades do projeto. “Esse foi o projeto mais diferente e mais longo que eu já participei. Tivemos vários problemas. Eu perdi meu pai e minha mãe nesse período e tive que parar, mas conseguimos terminar e o resultado está bem satisfatório. Desde o início, o Ademar me cobrou para que eu me desafiasse e criasse um traço novo, mais simples do que eu fazia e demorei muito para chegar ao resultado final, mas quando cheguei, todo mundo gostou e até hoje esse traço tem rendido bons feedbacks e abrindo portas para mim”, relatou.
Resgate da língua manao
A obra também faz um resgate da extinta língua manao. Algumas das poucas palavras do idioma extinto no século XVIII registradas, foram utilizadas nas falas dos personagens da hq. “De toda a riqueza da língua manao apenas 140 palavras foram registradas por um expedicionário francês, quase um século antes dos acontecimentos da hq. Eu tive acesso a esse livro e traduzi do latim para o português e algumas delas nós utilizamos na graphic novel para que o público de Manaus tivesse contato com o idioma do povo que deu origem ao nome da cidade”, relatou Ademar Vieira.
Nesta quarta-feira (16) às 2 h, Ademar Vieira participará de live com o perfil do Mapingua Nerd para falar sobre a obra, participem!
Onde comprar
Ajuricaba está disponível na Banca do Largo com alguns exemplares autografados pelos autores e também pode ser adquirida por meio de vendas on-line no perfil da @blackeyeestudio no Instagram.