Em 1994 era lançada a história do leãozinho Simba. Tendo como cenário a savana africana, o filme não só fez muito sucesso na década de 90, como também marcou uma geração inteira de crianças mesmo hoje, já adultas, não esqueceram a magia que a animação deixou na lembrança.
Este é o caso do ilustrador e designer gráfico gaúcho Vilmar Rossi Júnior, de 41 anos, que recriou o clássico com ilustrações em uma versão bem brasileira. “Sou muito fã da animação. Do tipo que foi no cinema vááárias vezes, só pra assistir detalhes, como as lindas transições de dia e noite – tudo feito à mão!”
Vilmar comenta que a vontade de fazer as ilustrações chegou com a nova versão live action. “Estava animado pela chegada do filme. Além disso, meio ambiente é um assunto normal aqui em casa, especialmente nos últimos tempos… Como adoro desenhar mashups, a ideia foi natural.”
As ilustrações fizeram grande sucesso nas redes sociais e a notícia do nascimento do Rei Onça se espalhou pelo reino. Vilmar relata que postou sem nenhuma pretensão e que uma das primeiras artes é bem rabiscada. Quando a imagem viralizou, ele lembra de pensar “Foi espalhar logo um rafe (rascunho)?”. Nas artes seguintes ele resolveu caprichar um pouco mais, mas ressalta: “Não estou priorizando acabamento gráfico com essa série; me preocupo aqui mais com a ideia, a história, com propiciar um momento de “ah, que sacada legal!”. Estou bem feliz com a recepção das pessoas, especialmente com a quantidade de professores e biólogos. Isso, pra mim, é uma grande validação.”
Sobre os traços e a parte mais técnica das ilustrações, Vilmar conta que faz tudo digitalmente e que, depois de escolher a cena, coleta “prints” da animação e referências dos animais em questão. Em seguida, faz um esboço de layout a partir do frame do filme, para manter a originalidade da cena e, então, vai adaptando aos traços pessoais e focando nos detalhes para deixar os animais com características mais marcantes. São artes muito bonitas e com traços brasileiros inconfundíveis.
Na versão Brasileira, podemos ver as substituições dos personagens africanos por animais tipicamente amazônicos. É o caso do Araçari, Uacari, o Cateto, o cachorro vinagre (que quem já teve oportunidade de ouvir um grunido deste cachorro, sabe que lembra o ‘riso’das hienas), entre outros.
Apesar de parecerem substituições naturais e simples, como a do Leão pela Onça-Pintada, o maior felino da nossa fauna, os animais foram selecionados pensando em dar visibilidade às espécies em extinção. “Queria mostrar diversidade nas adaptações e trazer ao foco animais em risco e desconhecidos. Por isso, em vez do tucano que todo mundo conhece, escolhi o Araçari, e substitui o mico-leão-dourado pelo Uacari”, explica o ilustrador.
Preocupação com a preservação da Amazônia
A Amazônia tem fauna e flora exuberantes, com espécies desconhecidas, mas importantes para o equilíbrio ecológico. O designer demonstrou carinho e admiração pela região e, mesmo sendo do Sul, mostra que seu coração está no norte. “Que lugar melhor pra história épica de um rei? A região do Cerrado seria a adaptação mais “correta” em relação à Savana – e com uma fauna incrível, facilmente adaptável -, mas a floresta amazônica possui uma força, emana um poder, é repleta de simbolismo, magia, tradição! Hoje, vi que fiz a escolha absolutamente correta, mas por outros motivos. Com a divulgação que as ilustrações vem tendo, estou podendo questionar e informar sobre a situação de violência sem precedentes que a floresta e seus povos estão sofrendo”.
Um dos posts mais recentes no perfil do ilustrador lamenta o incêndio que atinge a floresta nesse momento:
Com todas as coisas ruins que estão acontecendo na região, ver uma Amazônia colorida e cheia de vida como a retratada por Vilmar, ainda nos dá uma sensação de esperança, de que podemos fazer alguma coisa para mudar esse cenário. É impossível ver e não se emocionar.
Quando perguntado se as ilustrações podem mudar, de alguma forma, o imaginário das pessoas sobre o norte do Brasil, Vilmar comenta: “Olha, me deixaria imensamente feliz se isso acontecesse. Já comentei que gostaria demais de transformar esse material em um livro educativo para distribuição em escolas. Seria minha contribuição, fazendo o que gosto, para tentar ajudar o amanhã. Eu, particularmente, nunca visitei o Norte, mas sou apaixonado pela riqueza folclórica e artística da região. Mesmo que pela TV (ou pela internet), não perdemos, já fazem alguns anos, nenhum Festival de Parintins. Na verdade, me interessa como um todo nossa produção cultural, que é território fértil e ainda pleno de ser explorado para contar histórias incríveis.”
Saiba mais sobre os animais amazônicos que protagonizam a nova versão
Onça-Pintada para representar os leões (Mufasa, Simba, Scar, Nala entre outros). A onça é considerada o maior felino das Américas e tem a mordida mais forte entre eles e está presente em quase todos os biomas, mas com algum nível de ameaça.
O Cateto ou Caititu para representar o Javali Pumba, também está presente em quase todos os biomas e é uma espécie quase ameaçada de extinção. Eles costumam viver em bandos de 5 a 25 membros, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Irara ou Papa-Mel foi escolhida para representar o icônico Timão. A irara é uma espécie presente em vários ambientes, de preferência os que tem uma vegetação densa, em concordância com o ICMBio, o olfato é bastante apurado e o nome “papa-mel” se origina da sua preferência por este tipo de alimento.
O Araçari-Castanho foi escolhido para representar sábio pássaro Zazu. A conservação da espécie é considerado “menos preocupante”.
Já o Uacari se encarrega de representar o mágico macaco babuíno Rafiki. A estimativa é que existam cerca de 10 mil indivíduos, todos na Amazônia do Brasil e de outros países como Colômbia, Equador e Peru.