A Feira Internacional de Quadrinhos já é considerada como o maior evento do gênero no país, famosa por realmente incentivar o contato de um público amplo com o trabalho de quadrinhistas independentes, e deuses sabem como o Brasil carece de eventos assim: que priorizem a criatividade dos artistas acima do lucro dos organizadores. E em sua 10ª edição, que ocorre de 30 de maio a 3 de junho, é a vez de artistas amazonenses tomarem o Artist Alley da FIQ.
A iniciativa promovida pelos poderes públicos de Minas Gerais e Belo Horizonte recebe material original de alguns dos principais nomes do trabalho com quadrinhos no Amazonas, não só representantes de grupos como a House 137, o coletivo Xmao, o 99 Balões e o Clube dos Quadrinheiros de Manaus, mas também de artistas como Lorena Sousa e Christoffer Ferreira.
Artistas Unidos
Segundo Luiz Andrade, membro do Xmao que estará lançando na FIQ seu primeiro trabalho solo com HQ’s, Trovão, a participação na 10ª edição marca não só uma vitória para sua carreira, mas para toda a classe quadrinhista do Amazonas, que pela primeira vez contou com a mobilização de vários membros para que houvesse apoio significativo do Governo do Estado do Amazonas nesta empreitada para levar a produção local à exposição nacional. “Essa prática é essencial para desenvolver o quadrinho aqui. Ter uma revista e um stand financiados pelo Estado requer união, só assim nos fazemos presentes e podemos cobrar apoio”, diz.
E a organização da classe valeu à pena: 22 artistas visuais uniram-se para lançar nesta edição da FIQ o primeiro volume da Ajuri Comics. Com capa de Romahs Mascarenhas e apresentação de Emerson Medina, a antologia reúne um pouco do que há de melhor sendo produzido pelos quadrinhistas manauaras, histórias que misturam ficção contemporânea fortemente inspirada pelo imaginário do Norte do país.
House 137 levado seus melhores trabalhos
A House 137, já bem conhecida nos corredores da CCXP, também aproveita a plataforma da FIQ para lançar a edição #02 de um de seus títulos mais populares, The Midnight Witch, que continua a narrar as viagens temporais da feiticeira Madika Leona, que desta vez luta ferozmente para proteger uma jovem aprendiz. A história dá seguimento aos eventos da edição #01, que juntamente com o volume #0 podem ser adquiridos na página oficial da personagem.
Além de mais um capítulo na história da personagem, o estúdio lança ainda o livro Gaia Vindicta, o primeiro volume do escritor Daniel Hebron que traz uma narrativa distópica inspirada por elementos amazônicos. Paulo Yonami, um dos nomes à frente do estúdio, afirma o que podemos esperar do primeiro livro lançado pela House 137: “Queremos trazer uma nova experiência de leitura para os leitores, com o objetivo de resgatar a leitura ‘pai e filho’, o tipo de história que os pais leem para seus filhos antes de dormir”.
Xmao continua a estender suas asas
Além do lançamento da HQ Trovão, de Luiz Andrade, que narra a história de um super-herói que luta contra injustiças sociais aqui em Manaus, o coletivo Xmao leva algumas de suas principais produções, incluindo o projeto gráfico sobre futuros apocalípticos Darkness O’Clock e o mangá sobrenatural Cat Spirit, com roteiro de Rafael Rodrigues e arte de Rayanne Cardoso. Baseado nas tradicionais e populares HQ’s orientais, o mangá traz a história de um mundo alternativo no qual cada pessoa tem um avatar animal, os spirits, e podem canalizá-los no próprio corpo.
É o trabalho de maior destaque do roteirista, e os participantes da FIQ terão a oportunidade de adquiri-lo em primeiríssima mão: “É a chance de consolidar o trabalho que temos feito desde que decidimos entrar nesse mercado e poder expor a arte diversificada que encontramos no Norte do país, é o que esperamos ao nos dedicarmos cada vez mais em eventos desse tipo”.
Especializados no trabalho com zines, a equipe do coletivo também possibilita a escritores independentes a oportunidade de publicarem histórias autorais, e especialmente para a FIQ, Rafael Rodrigues também anunciou o lançamento do mais novo título literário do Xmao: Tempestade de Cinzas, zine de Fantasia que reúne quatro textos e o trabalho gráfico do artista Mendes Auá, conhecidíssimo como a noite de Paris por seu traço sinuoso e personagens incrivelmente impactantes.
Expectativas
Com algumas exceções, é a primeira vez que muitos desses artistas têm a experiência de expor suas obras em um evento como a FIQ, e não é sem emoção que encaram o desafio de representar o Amazonas e conhecer também o que tem sido produzido por profissionais independentes de todo o Brasil.
Parte da equipe que trabalhou na antologia ZombieSIDE, a designer Ananda Ferreira, também da House 137, é enfática em destacar o papel do estúdio na conquista de espaços nacionais para o Amazonas.
Apesar de todos os nossos colaboradores de outros estados, a House preza sobretudo em valorizar o que os artistas locais tem a oferecer e coloca todos na linha de frente de todas as nossas publicações. Temos aberto as portas para que os talentos locais tenham a oportunidade de aparecer em grandes eventos como a CCXP. Como o foco da FIQ é em quadrinhos e criadores nacionais, é uma oportunidade e tanto de mostrar o que cada estado tem a oferecer.
Só posso descrever essa chance como algo incrível e que não se pode desperdiçar, principalmente por essa identificação que nós sentimos quando conhecemos pessoas que têm lutado para seguir com seus sonhos e ideias independente da área de atuação. Isso cria conexões fortes, parcerias que criam oportunidades e um senso mais apurado sobre nossas fraquezas e nossos pontos fortes como artistas.
É sempre uma honra para nós do Mapingua escrever este tipo de texto, tendo certeza de que nosso estado está sendo reconhecido não só pelos exotismos que nos tornaram famosos, mas também pelo nível de qualidade com os quais nossos artistas têm nos representado Brasil afora. Este texto é o nosso parabéns.