Olá, caros leitores! Hoje vamos conversar um pouco sobre o bicho-papão de muitos, o horror de doutrinadores, a maior fobia dos boomers: OS COMUNISTAS. Calma! Não vou invadir sua casa ou distribuir renda aos pobres, vamos falar sobre quadrinhos que apresentam visões de personagens importantes das filosofias marxistas já publicados por aqui.

Para muitos leitores, a maior referência de HQs que representam as ideologias de esquerda sempre será Entre a foice e o martelo (Red Son), do roteirista Mark Millar. Porém, a nona arte mostra que é definitivamente uma mídia com possibilidades incríveis ao proporcionar a adaptação de histórias únicas que abordam os mais variados espectros da luta por direitos iguais e dos movimentos revolucionários, muito mais complexas do que a visão imperialista do herói primordial do gênero de super-heróis.

Em 2020 a editora Draco lançou Marighella Livre, quadrinho sobre a vida de uma das figuras mais conhecidas da época da ditadura militar que dominou o país com mãos de ferro. São três histórias que contam passagens da vida do revolucionário com roteiros de Rogério Faria e desenhos de Ricardo Sousa e Jefferson Costa. Marighella sempre foi alvo de uma campanha de desinformação e desconstrução por parte da ala conservadora do país e isso colocou sua imagem em volta de uma espessa neblina, dificultando a compreensão de suas ideias e da escolha pela luta armada.

A editora Veneta nunca escondeu sua vertente mais preocupada com a responsabilidade social e de enfrentamento aos padrões (quem conhece o editor e fundador da editora, Rogério de Campos, bem o sabe). Eles já lançaram obras como o Manifesto comunista em quadrinhos, que traduz as bases do movimento para a mídia pelas mãos habilidosas do cartunista inglês Martin Rowson. A biografia e o pensamento do famoso filósofo marxista italiano Gramsci, foram reunidos numa obra pelo filósofo argentino Néstor Kohan e o cartunista Rep, publicada pela Veneta em 2019.

Morrer pelo Che, é o título mais recente da editora Quadriculando. Uma graphic novel que reproduz a histórica viagem ao Uruguai do comandante Che Guevara e toda a repercussão da mesma na sociedade e na mídia local, mesclando aspectos reais e fictícios, num trabalho primoroso de Pablo Roy LeguisamoMarcos Vergara (Jantar com Amigos) e Caio Di Lorenzo.

Mapingua Nerd entrevista Thiago Modenesi, editor da Quadriculando

Em entrevista exclusiva, o editor da Quadriculando, Thiago Modenesi, fala sobre a figura de Che Guevara e sobre a obra em quadrinhos “Morrer pelo Che”:

Mapingua Nerd – Recentemente algumas editoras de quadrinhos têm apostado na publicação de materiais que apresentam biografias de líderes de esquerda e/ou narrativas de personagens que foram perseguidos de alguma forma por seus ideais ligados ao socialismo, direitos humanos, enfim, obras com teor político. Você acha que isso pode representar um movimento? E mais, por que grandes editoras não apostam nesse tipo de material, na sua opinião?

Thiago Modenesi – Acho que em parte sim, mas apenas em parte. Digo isso porque o critério para escolher Morrer pelo Che e Pintamonos não foi esse, o fizemos pela qualidade das duas HQs, muito premiadas na Argentina e no Uruguai, com tramas excelentes, acho que podem até vir a figurar entre as melhores de 2021 em algumas listas, quem sabe. Sugiro que as pessoas se desprendam dos seus preconceitos, que leiam as HQs antes de criticá-las. Nesses tempos sinistros que vivemos, assistimos nas redes sociais um combate a tudo que tenha figuras como Che e Frida, algo irracional, a pessoa não leu e já quer dar opinião, lamentável. Acho que as grandes editoras tem até diversificado seus catálogos, em algum momento devem chegar em títulos de um enfoque mais político, mas destaco que algumas editoras que estão se tornando grandes (a exemplo da Skript, Veneta e Comix Zone) já tem apostado em material com essa pegada, exemplo disso é o Pesadelo de Obi,  quadrinho africano em que participo como membro do conselho editorial da versão brasileira e que se encontra com campanha no Catarse.

Mapingua Nerd – Por que lançar um material sobre Che Guevara? Você acha que a história conhecida não foi bem contada, há muita desinformação?

Thiago Modenesi – Che, assim como Frida, se tornaram ícones da luta pelo socialismo, mas também da cultura pop em geral. Há uma tentativa de desconstrução histórica, algo fruto das fake news das redes sociais, que tentam vender um Che assassino, frio e sanguinário. A História, aquela que faz pesquisa e levanta documentos para corroborar o que vai para os livros, não vê Guevara assim. Che foi uma liderança humana, carismática, extremamente preocupada com os mais humildes, prestava atendimento médico inclusive a esses, um visionário que até hoje é tido como herói pelos cubanos. A graphic novel teve um cuidado com os dados históricos imenso, as manchetes em destaque de todos os jornais que aparecem na HQ são reais, retratam o publicado durante a visita, além das transcrições dos áudios gravados durante discurso de Guevara em uma universidade de Montevidéu, transpostas aos balões que mostram esse momento. Roy, o roteirista, entrelaça os fatos reais com alguns elementos de ficção para incrementar a trama, mas preserva as disputas entre agentes da CIA e KGB, o assassinato do professor Arbelio Ramirez e os protestos contra e a favor da presença do líder cubano no Uruguai.

Sobre os lançamentos da Quadriculando

Além de Pintamonos e Morrer pelo Che, teremos o lançamento de nossa revista digital em quadrinhos bilíngue, a Giby, uma iniciativa toda online que entra ainda em abril no Catarse e reúne artistas íbero-americanos de 18 países, as graphic novels Elefantes no Quarto, Jantar com AmigosO ViúvoCondorito volume 2Ayar: um império de luz e escuridão e o livro Educando na República: charges e HQs no Segundo Reinado, que ganha sua segunda edição revista e ampliada.

Na pré-venda no Catarse de Morrer pelo Che é possível adquirir o quadrinho e, ainda, prints no formato A4 ou camisas com artes originais de Marcos Vergara, desenhista de Morrer pelo Che, feitas exclusivamente para o lançamento do Brasil e outros quadrinhos da editora.

Conheça a pré-venda de Morrer pelo Che.