Olá, caro leitor? Recentemente publicamos aqui sobre a indicação do quadrinho “A Última Flecha” como finalista do HQMIX. Resolvi falar sobre elas: as premiações para as histórias em quadrinhos e sua importância para o mercado brasileiro.
Prêmios são importantes para qualquer categoria de produção, não só artística, mas de conhecimento e cultura em geral (vide prêmio Nobel, Grammy etc.). Receber um prêmio significa, entre outras coisas, o reconhecimento dos seus pares, após aquele “produto” ter passado por uma série de fases e testes. Para os quadrinhos, receber um prêmio pode alavancar as vendas, garantir a produção dos próximos volumes ou até mesmo a inserção de um produtor independente no mercado mainstream.
O HQMIX, a principal premiação de quadrinhos do país, tem suas raízes na seção de HQs do programa TV Mix 4 com apresentação de Serginho Groisman. João Gualberto Costa, o Gual, e José Alberto Lovetro, o Jal, criaram o prêmio em 1989 e tiveram o apoio de Groisman, considerado padrinho do Troféu HQMIX, sendo seu apresentador desde a primeira edição.
A Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP) organiza o Prêmio Angelo Agostini, cujo nome faz referência ao italo-brasileiro criador de “As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à corte”, considerada a primeira história em quadrinhos publicada no país. O prêmio tem votação aberta e sua primeira cerimônia ocorreu em 1985, visando premiar principalmente a produção nacional.
O Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura nacional, possui uma categoria para quadrinhos desde 2017, criada após abaixo-assinado capitaneado por Wagner Willian, Ramon Vitral e Érico Assis. A inclusão da categoria é um avanço para o reconhecimento das histórias em quadrinhos como linguagem artística, mas também demonstra como há um intenso movimento que busca dar legitimidade e valor cultural à essa mídia.
Há ainda os prêmios menos tradicionais, mas não menos festejados, como o Prêmio Grampo, organizado pelos jornalistas Ramon Vitral e Lielson Zeni desde 2016. Temos o Prêmio Le Blanc, organizado pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Universidade Veiga de Almeida cuja entrega ocorre durante a Semana Internacional de Quadrinhos, a SIQ da UFRJ. Já o Prêmio Dente de Ouro acontece dentro da Dente Feira de Publicações desde 2016 e também inclui a categoria fanzine. Prêmio, não falta.
O prêmio, aliás, é algo frequentemente utilizado por quadrinistas e amantes da nona arte para dar um ar de importância para os quadrinhos. O The Will Eisner Comic Industry Awards (ou Prêmio Eisner) sempre aparece quando se quer falar bem de uma obra, caso ela tenha ganhado ou concorrido. Fora do métier de HQs, não é difícil escutarmos a expressão “o Oscar dos quadrinhos“, usada, claro, para se provocar uma lembrança de algo que talvez o interlocutor tenha como referência. Mas ela também serve para, intencionalmente ou não, emprestar um pouco de prestígio do primo mais rico e mais popular.
Esse é um ponto que deveria mudar. As premiações, como foi dito no início, são importantíssimas para o desenvolvimento do mercado, mas não devem ser usadas como muleta para dar um certificado de “arte séria” ou de “qualidade superior”. Não precisamos bater o pé e gritar que somos importantes, nós somos, e não é porque temos o Prêmio Eisner ou uma categoria só nossa no Jabuti, mas por uma série de outras razões que não cabem neste parágrafo.
Acho que o papo acabou por hoje.
Até a próxima!