Olá leitores!

Apesar das várias crises, não é incomum escutar por aí que o quadrinho nacional vive um bom momento. Entre os muitos motivos, que envolvem o fortalecimento dos eventos e feiras e as ferramentas virtuais de publicação, também se identifica a aposta de algumas editoras na produção nacional. É o caso da editora Guará, cujo editor, Rapha Pinheiro, nos concedeu uma rápida entrevista.

Nos últimos dez anos inúmeras editoras de pequeno e médio porte surgiram no cenário brasileiro. No momento em que escrevo, muitas delas possuem campanhas de financiamento coletivo no Catarse, movimento que consolida a participação do mercado editorial no crowdfunding.

Editoras como Skript, Tai Editora, Figura, Avec, Pulp, Graphite entre outras (adianto que vai rolar papo com outras desta lista), vêm trabalhando com novas formas de se aproximar e consolidar o seu público. Uma dessas frentes de trabalho é a publicação de material nacional, como faz a Guará.

– A Guará, desde sua reestruturação, tem investido na produção nacional. Vocês pretendem seguir por este caminho na construção da linha editorial? Há interesse nas produções estrangeiras também?

Rapha: No momento, queremos produzir quadrinho nacional mesmo. O Brasil exporta artistas para vários mercados e estamos desperdiçando um potencial aqui. Temos muitos leitores em potencial, só precisamos dar um jeito de furar essa bolha e chegar nas pessoas. O método que encontramos pra fazer isso foi através de quadrinhos baratos, acessíveis e plurais, acreditando que podemos aquecer o mercado com isso.

Quem não se lembra do barulho que a Guará fez quando começou, principalmente por conta do título “O Doutrinador“, de Luciano Cunha? Claro, após todas as polêmicas que envolveram o personagem e seu criador, a Guará ressurgiu, com nova identidade e diretrizes, mas alguns pontos positivos ainda permanecem na base da editora.

– Outro ponto interessante é o braço audiovisual da editora. Você pode falar um pouco sobre o licenciamento de obras para outras mídias?

Rapha: O diretor da Guará, Gabriel Wainer, veio diretamente do audiovisual, então ele e a equipe têm os contatos necessários com as produtoras para fazer isso acontecer. Trabalhar com transmídia é outra forma de furar a bolha e chegar em mais leitores pro quadrinho nacional. Quadrinhos estão se mostrando um ótimo lugar para garimpar adaptações, visto que temos ali toda a caracterização visual além da história. É bem mais fácil vender um quadrinho do que um script para um investidor.

Muitos falam sobre uma bolha autofágica em que quadrinistas (ou envolvidos com o mercado de algum jeito) consomem publicações de seus pares, mas, se levarmos em conta o crescimento das campanhas de material nacional bem-sucedidas e o aumento no número de títulos nacionais, eu apostaria que o artista brasileiro vem ganhando, lentamente, mais espaço. A Guará abriu neste dia 15 de setembro, uma convocatória para artistas nacionais, pensando na pluralidade de narrativas e no talento muitas vezes desconhecido.

– Como a Guará está com convocatória aberta, vamos aproveitar para explicar um pouco sobre como ela funciona e o quanto ela é importante para essa nova fase da editora.

Rapha: Sabemos que, atualmente, a produção nacional gira em torno de São Paulo. Sabemos também que o que não falta são artistas de todos os cantos do Brasil que não tiveram a chance de colocar seu trabalho no mundo e ser lido. Não basta fazer quadrinhos, precisamos que pessoas leiam o resultado. A convocatória é a nossa parte nesse jogo, abrindo espaço para que autores nacionais independentes se coloquem no circuito e cheguem a lugares melhores. Sabemos que não vamos mudar a cena nacional com isso, mas é um passo na direção certa. Queremos obras nacionais, alinhadas com a proposta da Guará, e que tenham interesse em fazer a cena crescer junto com a gente. Para pegar as infos completas sobre como se inscrever, sigam o @universoguara nas redes e me sigam também (@raphacpinheiro) que todas as regras estarão lá.

Como venho falando, a pandemia mudou algumas regras do jogo, ao menos por enquanto. Como será o mercado nacional de quadrinhos daqui a cinco ou dez anos? O nicho pode virar mainstream? Leremos mais nacionais? Tenho certeza que editores, quadrinistas e outros envolvidos no meio querem que sim. Afinal, é do interesse de todos que o cenário se torne indústria.

É isso meus amigos, salve o quadrinho nacional!