A pandemia não acabou, sabemos disso, mas já dá pra ter uma ideia dos traumas e das dificuldades que esse período vai deixar na vida de todos nós. No mundo das HQs não poderia ser diferente. Vamos bater um papo sobre isso?
Já ouvíamos falar do novo coronavírus desde o fim de 2019 mas a pandemia chegou de vez por aqui em março de 2020. As coisas foram piorando muito rapidamente até o ponto que todo mundo já havia sido atingido pela tragédia de alguma forma. Um parente, um amigo e também uma figura pública por quem você tinha respeito e admiração.
A pandemia nos tirou Robson Rocha, quadrinista brasileiro que trabalhou para a DC em títulos como Aves de Rapina, Aquaman e Novos 52. O impacto foi sentido até por quem não conhecia tão bem o artista de 41 anos, mas já tinha visto por aí sua arte ou esbarrado com ele em alguma feira de quadrinhos. Robson deixou a esposa e uma filha.
Nani, um dos grandes nomes do cartum brasileiro (e também uma inspiração para este colunista), nos deixou em decorrência de complicações da covid-19. Nani trabalhou nos principais jornais do país e fez parte do lendário O Pasquim, publicação que tinha papel opositor ao regime militar brasileiro no auge da censura imposta pelos ditadores.
Daniel Azulay, conhecido cartunista que atuou principalmente na área do entretenimento para o público infantil, também foi vítima da doença. Azulay se tornou referência para uma geração de artistas por conta de sua presença na televisão nos anos 70 e 80.
A lista de perdas é grande e ela vai além dos desenhistas ou roteiristas de HQs. Editores, jornalistas, produtores de conteúdo e muitos entusiastas da Nona Arte se foram durante a pandemia.
Depois de dois anos o sentimento que ainda paira sobre o cenário nacional é de luto e ele se manifesta também por conta do espaço vazio deixado pelos grandes eventos, com toda certeza os maiores pontos de encontro e de festa do quadrinho brasileiro. A CCXP, o FIQ e a Bienal de Curitiba resolveram fazer versões digitais de seus eventos, sem perder a qualidade de sua programação. Deu certo, ao menos pra matar um pouco da saudade do público e dos quadrinistas em isolamento.
Também não é difícil perceber, pra quem acompanha artistas brasileiros e editoras nas redes sociais, que o volume de publicações autorais diminuiu. Alguns artistas relataram também dificuldades para concluir seus projetos por conta de bloqueios emocionais, problemas financeiros ou o receio de não terem como vender suas obras.
No momento estamos de volta a um lugar já conhecido, a incerteza. Com a chegada de uma nova variante e o aumento de casos em todo o mundo, ainda não é hora de comemorar, tirar a máscara e abraçar aquele seu artista preferido no artist’s alley. Mas, com paciência, segurança e muita responsabilidade, em breve voltaremos a celebrar. E talvez seja só assim, celebrando, que conseguiremos curar a ferida, honrar os que se foram, e reconstruir o caminho.