Sinopse: kowai! É assim que se diz “assustador” em japonês. E poucas coisas podem ser mais kowai do que um mangá assinado por Junji Ito. Mestre do terror em quadrinhos, Ito combina o surrealismo e o escatológico em suas histórias. O resultado é sempre bizarro, mas ainda assim — ou quem sabe até por isso mesmo — belo. FRAGMENTOS DO HORROR é uma coleção de histórias curtas, perfeitas para quem quer experimentar o que essa mente tão delirante é capaz de produzir. Ito-san oferece ao leitor nove encontros com o desconhecido.

O que te dá medo? Que coisas são aterrorizantes para você? No Papo em Quadros dessa semana trago a resenha da antologia “Fragmentos do do Horror” de Junji Ito. Já fiquem avisados, o cara não sabe brincar.

A invasão do mangá (histórias em quadrinhos produzidas no Japão) no início dos anos 2000, abriu portas para a importação de grandes obras e mestres da Nona Arte do oriente. Com as produções em quadrinhos e também com suas respectivas adaptações para animes ou live actions, o contato com conceitos estranhos à cultura ocidental se estabeleceu instantaneamente.

Não é incomum ouvir relatos de colecionadores de quadrinhos que dizem ter estranhado algumas produções por conta de certas peculiaridades da cultura japonesa. Isso é normal e resultado de um caldeirão cultural que mistura o conceito racista de “perigo amarelo”, doutrinas filosóficas e religiosas de naturezas divergentes, e também a experimentação dos diversos traumas que o Japão sofreu por conta das bombas nucleares e do domínio norte-americano no pós-guerra.

É por isso que as narrativas japonesas podem gerar certo estranhamento. Mesmo depois de tantos anos lendo mangás e consumindo outras produções do Japão, Coreia do Sul, China, etc., “Fragmentos do Horror” conseguiu gerar esse tal estranhamento em mim e posso afirmar que essa é, justamente, a característica mais marcante das narrativas de Junji Ito. Não tive a oportunidade de conversar com um japonês ou descendente sobre isso, mas poderia apostar que, para eles, muitas coisas, nesta e em outras obras, também geram estranheza.

O horror de Junji Ito carrega similaridades com a perspectiva que Stephen King aborda em suas histórias: uma situação inusitada. Este, porém, é o único ponto em comum. Ito parte daí para abordar, não tão profundamente, características da sociedade japonesa e seus costumes e usa, para isso, o humor, a ironia e o grotesco, todos banhados em hipérbole. Nesse jogo bizarro, ele conduz o leitor por um caminho estranho, mas tranquilo. Não há, em todas as histórias, a necessidade de se fazer “o conto mais aterrorizante já feito”, Ito sabe bem usar suas armas para fazer justamente o que traz o título, nos apresentar fragmentos de medo, pequenas pílulas de histórias medonhas.

Destaco aqui a história sobre o rapaz que, ao deixar a namorada por uma estranha que acabou de conhecer, cai numa armadilha cujo objetivo é tomar sua cabeça como souvenir. Imagine segurar sua cabeça, cortada por um fio de cabelo, com as duas mãos, um passo errado e já era. Ou imagine que você sofreu um acidente no meio da floresta, sozinho. Imobilizado e sem recursos, toda noite uma criatura de corpo completamente negro e rosto feminino surge e alimenta você como uma mãe pássaro alimenta seus filhotes: com carne crua e mastigada direto na boca.

No final das contas, Junji Ito muito mais incomoda do que aterroriza com “Fragmentos do Horror” mas vai afetar, com toda certeza, pessoas mais sensíveis por conta de certos gatilhos. A representação feminina, aliás, é outra coisa presente de forma constante na obra de Ito mas isso é papo para outra hora!

Classificação:

Avaliação: 3.5 de 5.

AUTOR: Junji Ito
EDITORA: Darkside PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 248

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