Muito se falou. Muito se especulou. Muitas hipóteses foram surgindo e eu acabei sendo tolo de achar que já sabia o que viria por aí. A verdade é que por mais animado que tenha ficado, ao ver as primeiras noticias a respeito da minissérie, nenhum dos teasers, nenhum dos clips e por fim nenhum dos trailers foi capaz de transmitir a emoção que esse primeiro capítulo me trouxe. Com uma riqueza de detalhes, capaz de levar qualquer amante da teledramaturgia a profundo estado de êxtase, ‘Dois Irmãos’ trás em sua estreia, um capítulo de aproximadamente 1h, com tanta beleza e cuidado, que chega a ser difícil numerar o que mais me cativou, seja em relação à fotografia, roteiro ou direção.

Antes de tudo é possível perceber que ainda tendo a mesma direção artística de Velho Chico (Luiz Fernando Carvalho) e até alguns atores “repetidos”, como o caso de Antônio Fagundes, a minissérie acabou ganhando uma linguagem própria. Até quem acompanhou as desventuras do Coronel Saruê, acaba deixando o personagem de lado e dando chance à história de Halim. Com uma fotografia tão peculiar, quanto à última novela das 21h, ‘Dois Irmãos’ entrega ao público a sensação de cinema moderno, o mesmo acaba vibrando com as inúmeras sacadas do diretor.

Durante a cena em que Halim declama o poema árabe para Zana, em meio à desordem que se instalou no restaurante, é possível sentir a aflição do personagem após uma sequencia extraordinária onde ocorre uma espécie de “Mannequin Challenge” onde todos os que ali se encontram acabam congelando em sinal de aflição. O mesmo diferencial é percebido durante o nascimento dos gêmeos, quando uma sequencia bem construída alterna as cenas de Zana, a de um lustre e a chuva que cai sobre a cabeça do primogênito. Durante as cenas de amor protagonizadas pelos pais dos gêmeos, acontece algo parecido. Até o momento a imagens não foram explicitas e tampouco caíram no clichê romântico, pelo contrario, moveis do quarto representavam o sentimento de prazer e euforia transmitido pelo casal.

Com uma história cativante e predestinada à tragédia, o roteiro da obra começa com um ar de alegria, romantismo e beleza, porém te atrai para um final repleto de fortes emoções. Durante o primeiro bloco a gente pode adentrar na origem do casal de imigrantes que acaba se apaixonando e deixando o público cada vez mais encantado. No entanto, tudo isso é quebrado após o nascimento de Yaqub e Omar, o enredo fica cada vez mais cativante e com o passar do tempo vai alimentando a aflição do telespectador.

E eu não poderia deixar de falar sobre as inúmeras referencias a cultura amazonense, desde a culinária, lazer e até mesmo vocabulário. A minissérie traz um sentimento especial a cada manauara que assiste e acaba se sentindo representado. Foi comum ler inúmeros comentários orgulhosos a respeito da obra, que sem duvida é um marco para a indústria audiovisual local.