Com 40 anos, 30 deles divido entre a carreira de dublador e de ator, Seiya de Pégaso Hermes Baroli se mostra completamente consolidado na sua profissão e esteve neste domingo, 4 de dezembro, em Manaus, marcando presença último dia do Anime Jungle Party e aproveitou para contar um pouco sobre a história da sua carreira e o que ele está preparando para os fãs.

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Bronze

Hermes Baroli começou na dublagem por acaso, aos 10 anos, época que queria ser jogador de futebol e ia sempre para o estúdio do seu pai (Gilberto Baroli) depois do treino de futebol, até ser convidado a dublar um papel em um filme. “O meu primeiro papel da dublagem foi no filme Superman 4, em 1986, era um menino que tinha no filme”, contou. “Eu comecei a estudar teatro para valer e decidi que queria ser ator só depois dos 15 anos, então nunca mais parei de estudar”, revelou.

O dublador conta ainda que essa profissão possui muita concorrência e exige muito dos interessados por ela, por isso “o estudo sempre me pareceu necessário, sempre me pareceu fundamental, e foi isso que fiz”.

Com esse pensamento, não é de se estranhar que mesmo depois de algum tempo de carreira, o dublador tenha ido se formar na Escola de Arte Dramática da USP em 2006. “Voltei lá para ter alguma base e hoje possuo 30 anos de carreira e 25 de teatro”, contou.

Hermes de Pégaso  

A dublagem dos Cavaleiros do Zodíaco chegou quando o Hermes tinha ainda 18 anos e já foi mostrando a que veio para o dublador, de forma que Hermes, na época, jurava que o anime não ia ser bem recebido no Brasil. “Apareceu como mais um trabalho normal e a primeira cena que eu gravei foi logo onde o Seiya arrancava a orelha do Cassios. Uma cena muito forte, que achava que nem sequer ia ser exibida e tinha certeza que o desenho não ia ter sucesso”, revelou. “Para minha surpresa foi uma febre e já são 22 anos dessa febre”, completou.

fotos de Hermes aos 18 anos

E nesses 22 anos além de dublador, o Hermes se tornou diretor e fã das séries dos Cavaleiros. “Eu adoro a série Cavaleiros. Quando a gente dubla, não necessariamente assistimos ao produto, mas quando dirigimos, sim. Dirigindo a série nos últimos 11 anos, tive que me aprofundar bastante no entendimento da série”, disse. “Gosto de muitas sagas, como a Lost Canvas, que é uma das melhores, a de Soul of Gold é muito boa também, o Ômega é bacana para uma geração mais nova e tem o seu encanto. Cavaleiros é uma série que não é à toa fez o sucesso que fez”, falou.

A voz do Pégaso

Com 40 anos de idade, Hermes atualmente tem dificuldade para voltar ao tom certo da voz que tinha aos 18 anos, a voz de Seiya de Pégaso. “Quando tive que dublar o filme, A Lenda do Santuário em 2014, realizei um trabalho fonoaudiólogo para chegar em agudos que eu não tenho mais e tinha no início da série”, falou. “Hoje eu brinco dizendo que eu sou o cara que melhor imita o Seiya atualmente, mas aquela voz do Seiya não existe mais”, contou.

Encontro com o Pégaso japonês

O dublador já encontrou durante eventos, o dublador original do Seiya, o Toru Furuya, que inclusive visitou a empresa de Hermes quando esteve no Brasil. “Eu tive o prazer de conhecê-lo, já me apresentei com ele em eventos, nos encontramos várias vezes em apresentações. Ele é um grande camarada e já fez o ‘Meteoros de Pégaso’, enquanto eu fazia o ‘Pegasus Ryu Sei Ken’. Foi bem divertido”, lembrou.

foto do encontro do Hermes com Toru Furuya no evento AnimeCon 2007, retirada do site Cavzodiaco

Trabalhar com a família

O dublador, na série, trabalha junto com a família, o pai Gilberto Baroli (Saga de Gêmeos) e a irmã Leticia Quinto (Saori). Conta que apesar de ser difícil, acaba sendo uma bênção esse contato direto com a família. “Nunca é fácil trabalhar junto da família por ter outras relações envolvidas, mas como nós costumamos vendo no dia a dia mais as pessoas do seu trabalho que a família, esse contato direto acaba sendo um lado positivo”, disse.

Prata

Tradução de texto e alterações

De acordo com o dublador, o produto nunca chega traduzido para o estúdio, sendo função do estúdio traduzir tudo e qualquer produto. “É muito raro que o cliente já dê a tradução e quando isso acontece é terrível porque a tradução é feita por quem não é brasileiro ou conhece o básico do português”, revelou.

Na primeira dublagem dos Cavaleiros, o produto chegou dublado em espanhol e com erros, então a dublagem em português cometeu os mesmos erros dessa versão. “Somente a segunda versão foi traduzida direto do japonês, o que facilitou bastante o resultado final, sendo mais fiel ao produto original”, explicou.

Hermes abre um parênteses para explicar que o dublador tem um espaço para fazer possíveis alterações no produto original quando está dublando, se for interessante e aprovado pelo dono do produto. “O que fazemos é uma versão brasileira do produto. Eu, particularmente, acho que o original tem que ser muito respeitado, e tomar cuidado para não ‘ser mais realista que o rei’, pois tem alguém que pensou naquele diálogo e toda uma equipe envolvida no produto original”, contou.

“O Guilherme Briggs (Superman) é um gênio em fazer essas pequenas alterações. Ele pode brincar, mas muito cuidado com essa liberdade quem não é tão gênio assim. Eu, como não sou tão gênio assim, procuro não passar do meu limite e tomo cuidado com isso, caso contrário o produto fica datado, por causa de gírias antigas”, explicou.

ペガサス流星拳

Hermes Baroli durante os anos que trabalhou na dublagem de animes em japonês acabou aprendendo palavras ditas frequentemente para identificar na hora da dublagem. “Palavras como ‘nani’ (o que?), ‘baka’ (idiota) e o ‘koko wa’ (aqui), você vai identificando algumas palavras, para se encontrar na hora da dublagem caso você tenha um texto muito grande. Se não soube uma ou outra palavra fica bem mais desafiante dublar uma coisa dessa”, contou.

“Nisso acabei ouvindo o golpe do Seiya em dois idiomas, em espanhol era ‘Dame tu fuerza Pegaso!’, na segunda versão, em japonês que ouvi o ‘Pegasus Ryu Sei Ken’”, completou.

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Ouro

Dublagem de atores

Além de animações, Hermes dubla diversos atores como Owen Wilson em “Penetras bons de bico” e James Franco em “127 Horas” e explicou que a diferença fundamental entre dublar animações e atores é a respiração. “Os desenhos animados não respiram e os atores, sim. Você respira junto com o ator: quando o ator soltar o ar, você solta o ar e quando ele puxa o ar, você puxa o ar também. Já nas animações, você não pode respirar enquanto o seu personagem estiver falando e eles falam por muito tempo por causa da falta de respiração. Esse é um grande desafio”, explicou. “O desenhista não pensa que tem alguém para botar voz depois no personagem”, comentou rindo.

Carreira e planos

Hermes contou que depois de 30 anos de profissão na dublagem, ele conseguiu uma carreira consolidada. “Tenho um estúdio, sou diretor e empresário da dublagem. Creio que já passei todas as possibilidades dessa área”, explicou.

O dublador também ensina a dublar e, apesar de todos os anos que tem área, afirmou que aprendeu as nuances da dublagem no momento que passou a ensinar. “Eu aprendi a dublar quando comecei a ensinar a dublar. Foi o momento que comecei a aprender de fato essa técnica: entender o que eu sabia, o que aprendi vendo, por fazer. O meu entendimento de dar aula não é de passar entendimento, mas é de pensar o entendimento junto. Isso faz com que eu aprenda a cada dia que eu dê aula”, contou.

Atualmente Hermes planeja focar mais na sua carreira como ator, para também melhorar no seu trabalho como dublador. “Tenho muita coisa a conquistar na carreira de ator que é o meu foco por completo. Eu quero muito fazer mais cinema do que eu já fiz e fazer teatro que é uma coisa apaixonante”, revelou. “Quanto mais eu estudar no teatro, melhor é o meu trabalho no microfone e melhor é o meu trabalho na frente das câmeras. Uma coisa ajuda a outra”, disse.

Sucesso

A fama obtida com o Seiya não é problema para o dublador porque de acordo com ele, a dublagem é a fama perfeita. “Eu não sou reconhecido na rua, a fama da dublagem só se dá naquele ambiente, a gente cruza um portal, e ao cruzar o portal somos famosos, quando cruza de volta, ninguém nos reconhece mais. É perfeito”, falou rindo. “Claro, que com a internet isso começa a mudar um pouco, acontece de você andar na rua com o seu cão ou andar no shopping e ser reconhecido, mas não é comum. É sempre um susto, mas é um susto agradável”, revelou.

foto feita por um fã em um shopping

Filmes dublados

Apesar de dublar, dirigir dublagens de filmes e animações, além de ensinar sobre a carreira, Baroli admite que possui problemas de assistir filmes dublados. “Sou muito crítico. Eu fico assistindo e criticando ou para bem ou para mal. Não consigo desvencilhar uma coisa da outra para simplesmente assistir algo dublado e curtir aquilo”, disse. “Só assisto filmes dublados quando eu estou em cena para ver o trabalho ou alguma direção que eu fiz, para avaliar o trabalho”, comentou.

Entre os trabalhos que o Hermes dublou está o filme Clube da Luta, que fez pelo estúdio Herbert Richers quando tinha só 22 anos.  “Neste filme eu dublei o Edward Norton, um dos melhores atores da geração dele, foi um grande prazer dublá-lo e uma pena o ter dublado poucas vezes”, contou “O Clube da Luta também é um filme sensacional e até mágico. Sempre que está passando, paro para assistir porque gosto muito”, completou.

Kamui

Trabalhos recentes

Focando em outros projetos, o número de personagens dublados por Hermes atualmente diminuiu. “Entre os personagens que tenho dublado estão os desenhos do Homem de Ferro, que é um personagem que gosto de fazer e os Cavaleiros do Zodíaco que continua em produção e estou sempre envolvido seja na dublagem ou na direção”, disse.

Baroli tem feito principalmente direção de dublagem, entre elas, uma bastante famosa e cheia de spoilers. “A direção vem me dado alguns prazeres bacanas como dirigir a dublagem de Game of Thrones, tanto da última temporada, quanto da próxima temporada. Então tenho que solucionar algumas coisas, como evitar vazamento de spoilers”, contou. “Ter que guardar nas mãos spoilers mundiais por pelo menos duas semanas é um desafio interessante”, disse rindo.

Quero Ser Dublador

Um reality show onde pessoas comuns passam por diversas provas de dublagens e o vencedor vai ter um curso de dublagem pago, parece legal? Pois esse reality já existe e foi todo imaginado pelo Hermes Baroli. “A ideia de um reality de dublagem surgiu há muito tempo, pelo número excessivo de reality shows que nós dubladores dublamos. Alguns legais, mas a maioria é só bobagem”, explicou. “Além disso, as pessoas possuem muita curiosidade sobre o meio e um carinho pelos dubladores”, concluiu.

Com a ideia de um reality de dublagem, o dublador se juntou com as produtoras “Intra7 Filmes” e a “Zantaya Filmes” para então surgir o “Quero Ser Dublador”. “O vencedor ou a vencedora do programa vai ganhar um curso de teatro e curso de dublagem para sair um dublador profissional desse programa, que é o objetivo principal do reality”, afirmou. “A série tem também o objetivo de ser um piloto para futuramente ser encaixado em algum canal de televisão”, disse.

Os participantes foram selecionados através de uma inscrição que foi realizada no Facebook do estúdio. “As inscrições ficaram abertas por 48 horas e recebemos quase 600 inscrições. Logo após isso, pedimos um vídeo deles no local de trabalho explicando o motivo que querem ser dubladores”, contou “Nisso houveram inscrições do Brasil inteiro, entre os casos mais interessantes estão um cidadão na plataforma da Petrobrás e um cara que estava cobrindo as Olimpíadas pela Band, ambos diziam que apesar da profissão o sonho deles era ser dublador”, revelou.

Das 600 inscrições, foram selecionadas 15 pessoas, sendo que cinco já foram eliminados no primeiro episódio do programa. “O primeiro episódio foi único até agora no teatro, ali eliminamos cinco. Somente dez chegaram no estúdio de dublagem e ali começamos as dinâmicas do estúdio de dublagem”, comentou.

As provas do programa envolvem de tudo para preparar os participantes para uma possível vida de dublador e ator. “Cada episódio tem uma dinâmica completamente diferente. Pode ser de tudo, de animações até filmes e jogos de video games. Vai acontecer deles dublarem eles mesmos, já passaram por Power Rangers no quinto episódio. Vão passar por tudo que pode imaginar na dublagem”, explicou. “Os participantes mesmos dizem ‘não sabemos o que nos espera no estúdio de dublagem’”, comentou rindo.

O “Quero Ser Dublador” possui três jurados, sendo dois deles fixos, o Alex Minei e o Guilherme Marques, que são professores e diretores de dublagem. “Ambos já foram meus alunos em algum momento da vida”, explicou. “O terceiro jurado é convidado. Já veio o Pedro Alcântara (Kenny do Pokémon, Tsubasa Kurenai do Ranma 1/2 – primeira voz -, Tyler do Power Rangers Dino Charge, Inari do Naruto), que inclusive já foi meu aluno aos sete anos de idade e hoje é diretor de dublagem aos 22 anos de idade. Também tivemos os Irmãos Piologo, futuramente podemos ter outros youtubers, ter grandes dubladores. Neste novo e sétimo episódio vamos ter como jurado o Élcio Sodré que fez o Shiryu”, disse.

O “Quero Ser Dublador” possui episódios novos a cada terça e quinta, sendo na quinta o episódio da eliminação. Para assistir, inscreva-se no canal do youtube centraldubrasil.

O reality possui a narração do Márcio Seixas, o Batman dos desenhos clássicos. “A série atualmente está no sétimo episódio e estamos com oito participantes remanescentes”, disse. “Para quem tem curiosidade, para quem gosta de dublagem, para o fã dublador que quer conhecer algumas técnicas é um produto imperdível”, concluiu.

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BÔNUS

A Casa de Libra

Como não podia deixar de faltar, a famosa cena do Shun e Hyoga foi comentada pelo dublador do Seiya. “Eu conheço a cena porque sempre tem um fã para fazer uma sacanagem sobre a cena dizendo ‘o que você faria?’, então sempre respondo: ‘Se a cena marcou a sua vida, é porque deve ser uma cena bacana’”, comentou rindo.

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foto destaque: evento Animextreme