Assisti ao primeiro filme do cineasta e pesquisador amazonense, Bernardo Abinader, ‘Os Monstros‘, e posso adiantar que foi uma grata surpresa bem no meio da semana.

O filme de estreia da Fita Crepe Produções salta aos olhos já na primeira cena: uma mulher chora e grita no escuro e você já fica imaginando que tipo de coisa pode ter acontecido para resultar em uma imagem tão perturbadora.

Mas se engana mesmo quem pensa que há os maléficos com chifres, tridentes e cheiro de enxofre no ar. O drama é baseado no psicológico: o casal principal inicia aquela conversa meia boca básica de quem terminou um relacionamento e um deles está bastante feliz.

Clara (Carolinne Nunes) vai ao apartamento de Guilherme (Victor Kaleb) – que agora vive com Larissa (Ana Oliveira) – para pegar documentos que julgamos importantes porque… bem… não se vai à toa ver o ex se você ainda gosta dele.

O enredo se desenrola com Guilherme falando que está  melhor com a atual do que com Clara e ela, evidentemente, procura relembrá-lo dos momentos que passaram juntos, sem muito sucesso.

E a vida vai se desenrolando até que você percebe que não, as pessoas não mudam tanto assim.

O filme é bem dirigido por Bernardo Abinader, que consegue resumir uma vida inteira e dois perfis psicológicos já nos cinco minutos iniciais.

A direção merece um parágrafo só para ela: a câmera não precisa ser nervosa para entendermos os conflitos de Clara ou a lentidão passada pelo  rapaz. Os cortes são feitos nos momentos corretos, aproveitando bem os interlúdios do diálogo, onde os flashbacks são bem inseridos.

Aliás, os diálogos são muito realistas. Palavrões e gírias barés estão bem colocados na narrativa do casal – caso contrário, seria uma grande lástima. Menos mal que Abinader, Marcus Cordeiro e Valentina Oliveira tiveram esta boa ideia.

Os atores estão muito bem, mas Clara é uma personagem mais realista. De rosto forte e expressões sinceras, Carolinne Nunes deixa transparecer tudo na hora certa, não dando motivos para questionarmos se ela é assim mesmo ou apenas está teatralizando.

Quanto a Victor Kaleb, seu ‘Guilherme’ parece muito inverossímil até as últimas cenas, quando finalmente percebemos quem é o rapaz e seus verdadeiros conflitos. Dica: pessoas zen demais não existem.

‘Tu não te moves de ti’ – a frase final do filme – resume o que a psiquê humana na maioria das vezes é: imutável, nem sempre reconhecível e nunca, mas nunca mesmo, surpreendente. Nas palavras de uma amiga minha: ‘Decepção é falta de observação’ 

 

Ficha Técnica
Direção geral: Bernardo Ale Abinader

Produção: Valentina Oliveira
Direção de Fotografia: Marcus Cordeiro
Roteiro: Bernardo Ale Abinader, Marcus Cordeiro e Valentina Oliveira
Figurino e maquiagem: André Barbosa
Direção de arte: Igor Falcão e Valentina Oliveira
Montagem e finalização: Marcus Cordeiro
Som direto: Diego Oliveira
Preparação de elenco: Ana Oliveira, Bernardo Ale Abinader e Valentina Oliveira
Divulgação: Allan Gomes e Hemanuel Veras
Design Gráfico: Lamartine Ataíde
Trilha Sonora: Rodrigo Abinader