Nascida em Belém do Pará, Roberta Carvalho é uma talentosa e criativa artista que com uma simples ideia conseguiu realizar um espetáculo aos olhos. Formada em Artes Visuais na Universidade Federal do Pará (UFPA), começou a produzir trabalhos visuais a partir da poesia visual, que a levou para o campo da imagem e da fotografia, e logo em seguida para o vídeo. Daí pra frente mergulhou na história da arte e nas experiências visuais.

“Produzi vídeo-arte, convivi a fundo com artistas de gerações anteriores à minha, colaborei com eles, participei de coletivos artísticos em Belém, estudei fotografia, um pouco de cinema, aprendi pintura, experimentei vídeo-performance, etc. Me deparei com a arte-tecnologia e com a chamada arte pública e vi que ali tinha um campo fértil para experimentar. Me formei depois de muito experimentar, demorei um pouco, fiz 3 faculdades e completei a última, a vida corria mais rápido que a academia. Daí teve um momento que fui lá e resolvi fechar este ciclo, daí concluí meus estudos de graduação.” – contou Roberta.

Um dos seus mais belos projetos é o Symbiosos, em que realiza intervenções urbanas utilizando a paisagem Amazônica para projetar suas imagens. O resultado é o mais belo o possível. Em uma entrevista para o Mapingua Nerd, Roberta revela um pouco mais sobre sua trajetória e inspirações para produção de sua belíssima arte.

Fotos retiradas do site robertacarvalho.art.br

MN – De onde tira inspiração para criar suas obras?

RC – Para mim, a inspiração advém da minha relação com o mundo. Sinto que concebo ideias e trabalhos muito em diálogo com as coisas que vivencio e sinto. Produzir o que se entende por arte é a minha forma de estar no mundo. 

MN – O projeto Symbiosis encanta pela mistura da beleza natural com tecnologia. Como surgiu a ideia?

RC – O Symbiosis surgiu de forma muito experimental em 2007. Eu já experimentava o suporte da projeção em espaços urbanos. Na época tinha uma pesquisa sobre a cidade e prédios abandonados. O Symbiosis surgiu de uma impossibilidade de projeção, e experimentei na árvore. A primeira projeção foi a de um homem em posição fetal, aninhado na árvore: um nascimento e um renascimento para mim, pois utilizei partes de um filme perdido, cuja única memória era uma fotografia. Foi impactante e uma descoberta da possibilidade de convergir valores da arte que muito me entusiasmam: a arte na rua, o escultórico, a relação com a natureza e com pessoas, o cinema, a magia. Daí pra frente, experimentei o projeto de diversas formas e fui o conectando a paisagem amazônica, com feições dos lugares por onde passei: ribeirinhos da Amazônia projetados na floresta.

Foto retirada do site robertacarvalho.art.br

MN – Você tem alguma curiosidade ou momento especial em sua trajetória com o projeto symbiosis que queira contar?

RC – A primeira vez que realizei ações do Symbiosis na ilha do Combú (PA) comecei a pensar o que aconteceria se conseguisse projetar nas águas dos rios… Anos depois, em 2015, comecei a realizar experiências com este suporte e daí surgiu o trabalho “Cinema líquido”. A minha intuição dizia que as águas da Amazônia, por serem barrentas, seriam um excelente suporte, e de fato foi.

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MN – Já sofreu algum tipo de preconceito por ser do Norte?

RC – Eu acrescentaria um outro elemento a esta pergunta. Ser do Norte e ser mulher nem sempre é fácil nos meios das artes visuais e da arte-tecnologia. Se por um lado existe um exotismo que tensiona ser elogioso – mas que no fundo é limitador – por outro lado já houveram casos de gente que desmereceu meu trabalho por não acreditar que mulheres possam ser capazes de lidar com temas que envolvem questões tecnológicas, cálculos (de projeção, por exemplo) etc, ou que tentam tirar a legitimidade do meu trabalho fazendo comparações rasas e maldosas… Não tenho tanto a reclamar, acho que tenho boas companhias, mas tem gente sem noção em tudo quanto é lugar. As redes sociais expõem isto a todo momento. Acredito sempre que devo seguir adiante e continuo a produzir aquilo em que acredito.

MN – Possui algum outro projeto em mente?

RC – Em 2017 lançarei uma publicação contando a história do projeto Symbiosis, que completará 10 anos, além de uma série inédita sobre o projeto. Além disto, estamos expandindo o Festival Amazônia Mapping para outras cidades além de Belém, vamos realizá-lo na cidade de Santarém (PA) e já temos conversas com outros estados da Amazônia. O festival Amazônia Mapping, idealizado por mim em 2013, surgiu de uma vontade de discutir e experimentar arte-tecnologia no espaço público de cidades da Amazônia. Esse assunto é muitas vezes “privilégio” do chamado eixo sul-sudeste e a ideia do festival é fazer intercâmbio entre a arte produzida na Amazônia com a de outros estados do Brasil, além de trazer legados através de nossa etapa formativa.


Além do Projeto Symbiosis, você pode encontrar no site oficial da artista outros de seus trabalhos, como os projetos Teias, Maua Remixes, Sobre Ausências, Projeções do Feminino, Preterito do Presente e o Cinema Líquido.