Não é muito difícil pensar em reboots ou continuações de filmes clássicos que estrearam recentemente nos cinemas. O medo ilógico de que uma sequência pode estragar o primeiro filme ainda existe, e por mais que alguns filmes como Mad Max: Estrada da Fúria e Star Wars: O Despertar da Força provem o contrário, muitos ainda duvidam que qualquer sequência possa entregar uma boa experiência cinematográfica.

Em 1982, o filme Blade Runner ganhou as telonas e não foi lá muito bem recebido pelo público da época. Após alguns anos – e algumas outras versões – o filme passou a ser considerado um clássico intocável do cinema. Após 35 anos, o filme ganhou sua sequência que, por sorte, trouxe uma aventura repaginada com uma expansão incrível do universo do filme.

Blade Runner 2049 se passa 30 após os eventos do primeiro filme. Na sequência, K (Ryan Gosling) é um Blade Runner replicante, sua função, assim como a Deckard (Harison Ford) do primeiro filme, é de aposentar outros replicantes.

De cara, o filme já consegue nos trazer de volta para ambiente familiar do primeiro filmes, onde vemos carros voadores, muita chuva e letreiros de neon espalhados para todos os lados, restaurando assim o seu universo noir e cyberpunk. O maior destaque vai para o design de produção que encanta os olhos de qualquer um que assista a obra. A experiência só vem a ficar maior ao observarmos os cenários dos filmes, como o quarto cinza de K, equipado com um projetor de hologramas que traz a vida sua companheira, Joi, ou até mesmo a empresa de Wallace (Jared Leto) toda amarelada, onde as sombras são parte fundamental do cenário e revelam ou escondem esculturas de corpos de humanos, mostrando toda a ambição do personagem que se vê como uma figura celeste.

O filme trouxe algumas referências ao clássico de 89, pudemos ver a evolução do letreiro “Enjoy Coca-Cola” que agora não era apenas um letreiro de LED, mas sim um holograma em 3D, assim como o letreiro do “Atari” que agora fica maior. O universo de neon de Blade Runner é de deixar o espectador maravilhado com o que observa, em determinado momento, um holograma rosa e gigante para o protagonista na rua e começa a flertar com ele, assim vemos como o futuro pode ser assustadoramente belo.

A tecnologia dessa vez não parece algo extremamente distante, pois vemos o uso de drones sendo aprimorado em missões de reconhecimento de área, e também a facilidade do instrumento ser acoplado em um carro para uso doméstico. Além disso, somos agraciados com Joi (Ana de Armas), uma inteligência artificial presa em um holograma que faz companhia para o solitário K em casa e em suas viagens.

Em uma sinfonia de quase 3h de duração, o diretor Denis Villeneuve conduz com maestria todos os momentos do longa, onde acompanhamos a saga de K em busca de Deckard, procurando respostas para sua missão. O ritmo permanece lento como o do primeiro filme e conta com boas cenas de ação, como a luta inicial, a luta de K e Deckard e também a luta final entre dois replicantes. Blade Runner 2049 dá importância para tudo o que está em cena, criamos um laço de empatia com muitos dos novos personagens que são introduzidos no longa, desse jeito a experiência fica completa.

Outra parte fundamental do filme é a sua trilha sonora assinada por Hans Zimmer e Benjamin Scott, que trazem o espectador de volta para o universo noir do primeiro filme. Blade Runner 2049 não é uma simples sequência, o filme se mantem sozinho e expande a mitologia da saga sem perder o seu foco, acompanhado de uma bela montagem, cenários espetaculares e uma trilha sonora excelente, o filme se fixou como um dos melhores do ano. Não é de se espantar que o filme marca o nascimento de um novo clássico.

Vemos Dennis Villeneuve trazendo ótimos filmes de ficção científica para a alegria dos fãs de cinema. Torcemos para que o diretor possa trazer muitos outros ótimos filmes para as telonas, e que também possamos acompanhar outras sequências tão bem feitas quanto essa.