Faz tempo que não escrevo aqui no Acônito Lapelo, minha coluna pessoal no Mapingua Nerd. Parte porque alguns afazeres supostamente mais urgentes tomaram a minha atenção e parte porque ainda me sinto um pouco assustada ao expor as minhas opiniões e inseguranças.

Mas esse não é o caso agora.

Eu sei que provavelmente você não acredita em signos. Nem eu na verdade. Mas admito que me pego várias vezes imersa nesses conceitos. A ideia não é travar um debate sobre efeito Forer e nem porquê a ciência não admite a astrologia. Isso é assunto para outra postagem, eu prometo.

astrologia

O rodeio até aqui foi para ser apenas mais ou menos julgada quando eu disser: estou no meu inferno astral. Acredite ou não, certo ou não, verdade ou não: este mês de junho, o que antecede o meu aniversário, não está sendo nada fácil. E com todos os problemas, coisas pra fazer e responsabilidades com as pessoas que eu me importo, acabo ansiosa com a mesma reflexão: o que diabos eu to fazendo com a minha vida?

Hoje eu me peguei pensando, enquanto dirigia para o trabalho, em como as coisas pareciam ser mais práticas quando eu era adolescente. Eu precisava ou queria fazer alguma coisa: simplesmente fazia. Isso me fez recobrar uma memória muito venturosa e que valida todo esse texto aqui.

No auge dos meus 13 anos, olha só, eu assisti Senhor dos Anéis: a Sociedade do Anel num cinema lá do Rio de Janeiro, onde eu morava antes de me mudar para Manaus. Eu não sabia na-da sobre o enredo, não conhecia os livros, nunca tive aquele irmão mais velho que me apresentou essas coisas. Mas assisti. E adorei. E depois busquei algumas outras informações e fui conhecendo o universo da Terra Média e tudo o que vem com ela.

Aconteceu que nesse mesmo ano eu vim morar aqui na cidade e passei numa prova (uma espécie de mini-vestibular) para estudar numa escola lá no Centro, o Instituto de Educação do Amazonas. Quando as aulas começaram, o prédio tinha acabado de sair de uma reforma, algumas salas, a biblioteca, por exemplo, ainda estavam com problemas de organização. Um crime pra mim que vivia frequentando a pequena salinha abarrotada de livros da minha escola anterior.

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Sobre a biblioteca, ainda que os alunos não pudessem alugar os livros, era permitido emprestar um exemplar e lê-lo ali mesmo, durante os intervalos. E uma das minhas maiores alegrias, naquele ano, foi descobrir que disponível estava a trilogia de Senhor dos Anéis, só esperando por mim.

E eu dei um jeito de fazer funcionar. Com 13/14 anos não é fácil comprar um livro sempre quando se quer, principalmente se você pode fazer isso de graça. As prioridades se confundem e agora não é hora pra julgar isso. O fato é que eu dei o meu jeito. Todo recreio, tempo vago ou aula chata eu estava lá, sentada na mesma cadeira, lendo a Sociedade do Anel.

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E isso durou seis fucking meses. Alguns amigos dizem que levei uns dois só para sair da parte da Floresta Escura. Bem provável.

Daí eu penso… que resiliência toda era aquela? E mais: onde toda aquela determinação foi parar? Que validação subjetiva eu posso tirar disso para o meu presente?

Eu teria destruído o UM Anel aos 14 anos se eu quisesse. Faria isso agora, aos 28?

Preciso retornar à Cidade Branca, Frodo…


 

ACÔNITO LAPELO é uma coluna pessoal da Fernanda e tem como objetivo expressar suas experiências no universo nerd. As opiniões aqui relatadas não refletem o posicionamento do Mapingua Nerd ou dos demais membros da equipe. Para mais: Acônito Lapelo.