(Imagem de capa: Yoshikazu Tsuno/AFP/Getty)

Ele acorda tarde pela manhã. Pois fica acordado a noite toda. Sempre navegando… Navegando… Navegando…

Ele não dorme tão bem a noite, porque sente muito frio e insônia. Logo depois de acordar, liga seu computador e a moça, a empregada da casa, leva o seu  x-burg de café da manhã. Sua comida predileta. Ele suja o teclado com maionese, pinga refrigerante no mouse. Mas nem percebe. Não tem tempo pra esses detalhes corriqueiros. Enter… Enter… Enter… Um clique e um novo mundo  aparece .  A vida é mais fácil assim.

 Entra na net, começa navegar distante se esquece de voltar para almoçar… Seu corpo já nem sente fome, e emagrece sem que ele perceba, e adoece sem que ele perceba. Sua epiderme é clara demais, nem parece de verdade. Ele nunca sai ao sol. Parece um vampiro. E o seu cabelo é tão desalinhado, tão desajeitado, tão mau-cuidado. Ele nunca penteia! No pequeno mundo do seu quarto ele voa pelo infinito do universo e dá uma volta completa na galáxia.  Para ele, suas idéias modernas são inalcançáveis, intransponíveis, já nos ultrapassou anos luz. Ele tem amigos na Ásia, no Japão na Europa, Londres e viaja atravessando como um raio para Nova York, visita a Estátua da Liberdade, passeia pelo Havaí num instante e surfa nas ondas da pororoca, na foz da ilha  de Marajó. No momento seguinte vai a Paris, visita a torre Eiffel, vai até o Oceano Pacífico nas ilhas de Apia e Pago-Pago…

Ele está cheio de amigos por todo o mundo. Mas está sempre tão sozinho. Ele tem uma namorada linda que mora do outro lado do mundo, mas nunca a conheceu pessoalmente. Só pela tela do monitor. É uma namorada virtual que se apaixonou por uma foto que nem é dele. Ele nunca sentiu o sabor do beijo de  uma garota  de verdade,  a delícia de um aperto de mão. Mente para si mesmo que sim. Faz tempo que não sente o calor de um abraço, porque não tem mais tempo de andar pelas ruas e praças,  sentir a brisa no rosto e ver o pôr do sol.

Ele nem lembra mais do próprio nome de tantos fakes que já criou na net. Não nota as pessoas a sua volta. Afinal, o que haveria de interessante nelas?

 A sua mesada permanece intocada na cômoda sobre o quarto. Ele nem ouviu quando seu pai lhe disse sobre isso há três dias.

E quando algo dá errado. Quando o software, o hardware do computador entra em pane… Sua vida também! Ele fica desanimado, já não sorri tanto. Sente-se entediado. Quer deletar aquela vida, aquela casa, quer ir para longe, pra qualquer outro lugar, onde haja um computador funcionando com internet, que o leve de volta pra sua vida virtual.

“A vida virtual é mais fácil” diz ele “dá pra bloquear aquilo que te incomoda. Se você comete um erro, aperte ctrl + z e tudo estará bem. Em vez de escrever você pode copiar e colar, as idéias que quiser e de onde quiser. Na internet você faz o que quer, você é quem quiser e quantas vezes imaginar ser . Se você tem algum defeito, ajeite no Photoshop. Dois clicks e você está dentro, um Click e você está fora. O que há de mais real no universo?”

No seu mundo não existe tédio somente downloads, downloads e mais downloads… E aí num instante as músicas mais ouvidas, as fotos, surgem, novos cenários, novas paisagens, novos filmes do momento.

 Click. A sua vida é um novo papel de parede na área de trabalho.

Click. Sua vida é um flash antenado & plugado no mundo.   

Sempre seu pai lhe chama atenção. Um dia lhe disse:

-Acorda menino! Sai desse computador. Vai dar uma volta. Conhecer amigos de verdade! Sai desse mundo virtual. Você não quer aprender nada sobre a vida real?

Ele sorri desinteressado e pergunta:

-Onde é o site que eu baixo algo sobre isso?


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